Vem aí um atlas digital que mapeia zonas críticas para tubarões, raias e quimeras

Atlas digital vai definir zonas críticas para a conservação de tubarões e raias. O objectivo da ferramenta é ajudar decisores políticos a colocar em prática a meta de protecção marinha 30x30.

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O tubarão-baleia é uma das espécies visadas pelo novo atlas (nesta imagem, registada pelo fotógrafo subaquático Nuno Sá, um espécime aparece escoltado por atuns) Nuno Sá/DR

Um atlas digital das áreas prioritárias para tubarões, raias e quimeras foi apresentado no Congresso Internacional de Áreas Marinhas Protegidas (IMPAC5), que termina esta quinta-feira em Vancouver, no Canadá.

O novo mapa, que está a ser criado pelo projecto Áreas Prioritárias para Tubarões e Raias (ISRA, na sigla em inglês), agrega os dados científicos mais recentes sobre os locais onde espécies ameaçadas se acasalam, reproduzem, alimentam, reúnem ou repousam. O atlas considera ainda as paragens importantes durante migrações de tubarões, raias e quimeras (um peixe cartilagíneo, parente dos dois primeiros).

Tubarões e raias são alguns dos vertebrados mais ameaçados e, segundo uma nota de imprensa do ISRA, “precisam desesperadamente de uma nova e melhor gestão”. O novo atlas constitui, garantem, uma das ferramentas necessárias para definir políticas e medidas internacionais para travar a perda de diversidade no planeta.

“Nas últimas décadas, a gestão de tubarões, raias e quimeras concentrou-se amplamente em medidas relacionadas à redução dos impactos da pesca e do comércio. Mas as populações dessas espécies continuam a diminuir rapidamente e precisamos de novas abordagens para garantir que possamos reduzir a mortalidade”, afirma Rima Jabado, líder do projecto ISRA, citada no comunicado de imprensa.

Rima Jabado explica que o projecto ISRA vai facultar aos decisores políticos dados geográficos precisos, permitindo que saibam quais são as áreas mais críticas para as espécies em causa. Além de responsável do ISRA, Jabado é presidente do Grupo de Especialistas em Tubarões da Comissão de Sobrevivência de Espécies da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

O ISRA nasceu no final de 2021, inspirado em projectos semelhantes que tinham como objectivo mapear os principais habitats de aves e mamíferos marinhos. A elaboração do atlas dedicado às raias e aos tubarões foi possível graças não só a uma consulta aos especialistas, mas também a grupos de trabalho regionais nos quais participam especialistas que conhecem bem as espécies e águas locais.

Para já, o mapa disponível online concentra-se apenas na região do Pacífico da América Central e do Sul (do Golfo da Califórnia, no México, até a ponta do Chile). Mais de 50 especialistas em conservação marinha participaram nesta primeira fase de elaboração do atlas. É possível visualizar os dados globalmente ou filtrá-los por região, país, espécie e profundidade.

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Nesta primeira fase, o mapa concentra-se na região do Pacífico da América Central e do Sul (do Golfo da Califórnia, no México, até a ponta do Chile) DR

Esta primeira versão do atlas inclui, por exemplo, o corredor migratório Cocos-Galápagos, que conecta habitats importantes entre a Costa Rica e o Equador para pelo menos sete espécies ameaçadas, incluindo o tubarão-baleia (Rhincodon typus) e o tubarão-martelo-recortado (Sphyrna lewini).

Outros dois grupos de trabalho, agendados para 2023, vão focar no Oceano Índico Ocidental, assim como no Mediterrâneo e no Mar Negro. Assim, prevê-se que o atlas se amplie à medida que mais informação geográfica for sendo consolidada. Estas iniciativas têm sido apoiadas pelo Fundo para a Conservação dos Tubarões (SCF, na sigla em inglês).

“À medida que áreas de todo o mundo vão sendo adicionadas ao atlas, [este documento] torna-se uma ferramenta mais abrangente e confiável para identificar as áreas mais críticas para a sobrevivência de tubarões, raias e quimeras”, acrescentou Rima Jabado.

Mais de 3000 líderes globais e especialistas em conservação do oceano estiveram reunidos no IMPAC5, ao longo dos últimos dias, para traçar o caminho rumo à protecção de 30% dos oceanos do mundo até 2030.

“À medida que os governos tentam colocar em prática medidas [para alcançar a meta] 30x30 e desenvolver áreas marinhas protegidas, a nossa organização tem o prazer de apoiar este trabalho e planeia usá-lo para orientar a nova Iniciativa de Biodiversidade de Tubarões”, disse Lee Crockett, director do SCF, citado no comunicado de imprensa.