O maior animal omnívoro do mundo afinal é um peixe: o tubarão-baleia

Um estudo feito na Austrália mostra que estes “gigantes gentis” dos mares também digerem algas.

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Os tubarões-baleia podem chegar aos 20 metros de comprimento Andre Rerekura

Nem só de pequenos peixes se alimenta o tubarão-baleia. Um conjunto de biólogos marinhos descobriu que os tubarões-baleia também comem plantas, o que faz deles o maior animal omnívoro do mundo. O tubarão-baleia (Rhincodon typus), que é o maior dos tubarões, é também o maior peixe que se conhece. Foram analisados 17 tubarões-baleia da costa de Ningaloo, na Austrália, e o resultado da investigação foi publicado esta segunda-feira na revista científica Ecology.

Para descobrir o que é que os tubarões-baleia andavam a comer, os investigadores recolheram várias amostras de possíveis alimentos deste peixe, como plâncton e algas de maiores dimensões. Depois, compararam os aminoácidos e os ácidos gordos presentes nessas amostras com aquelas que existiam na derme e nos excrementos dos tubarões-baleia. Nestes tubarões, encontraram compostos que são igualmente encontrados no sargaço, uma alga que se encontra normalmente à superfície da água. “Pensamos que, ao longo do tempo de evolução, os tubarões-baleia evoluíram a sua capacidade de digerir algum deste sargaço que ia para o seu interior”, afirmou o biólogo Mark Meekan, do Instituto Australiano de Ciência Marinha (AIMS) e o principal autor do estudo.

Os cientistas acreditam que os tubarões-baleia evoluíram para serem capazes de processar e digerir as plantas que acabam por ser apanhadas nas grandes bocas destes “gigantes gentis”. Como são animais muito grandes e precisam de muita energia, digerir algas e outras plantas seria uma mais-valia. “Isto faz-nos repensar tudo o que pensávamos que sabíamos sobre aquilo que os tubarões-baleia comem”, disse Mark Meekan num comunicado do AIMS. E o urso-de-kodiak deixa de ser o maior omnívoro (que come indiferenciadamente substâncias animais ou vegetais) do planeta.

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Uma das amostras analisadas Andre Rerekura

Estes animais com muitas pintas (o que faz com que sejam conhecidos como “pintados” nos Açores) têm cerca de 12 metros de comprimento – o tamanho de um autocarro – e podem mesmo chegar aos 20 metros. As suas bocas podem ter mais do que um metro e, como no provérbio que diz que “nem tudo o que vem à rede é peixe”, também nem tudo o que é apanhado pelas bocas dos tubarões é peixe ou plâncton – também há plantas de dimensões maiores. “Um animal como o tubarão-baleia, que nada pelas águas com a boca aberta, acaba por ingerir muitas coisas diferentes”, explica o bioquímico orgânico Andy Revill. Foi ele o cientista que fez a análise que permite ver não só o que é que estes animais comem, mas também o que é que usam para conseguir energia e para crescerem.

Se se analisasse somente o que era ingerido, poderia dar azo a interpretações erróneas, já que algo pode ser comido e depois expelido. “Os isótopos estáveis analisados, como são mesmo integrados no corpo, são um reflexo melhor daquilo que os animais estão realmente a utilizar para crescerem”, explicou ainda Andy Revill.

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Um tubarão-baleia e um dos investigadores Andre Rerekura

Além de krill (o nome colectivo dado a um conjunto de espécies de animais invertebrados semelhantes ao camarão, e que servem de alimento a baleias e outros animais), estes tubarões afinal também comem plantas. “Também andam a comer uma quantidade considerável de algas”, comenta Mark Meekan. Os cientistas também analisaram os excrementos de tubarões-baleia e descobriram que comiam krill, mas que não processavam metabolicamente grande parte desse krill.

Um grupo de investigadores do Aquário de Okinawa, no Japão, também já tinha descoberto que os tubarões-baleia comiam plantas, após analisarem amostras de oito tubarões-baleia que tinham sido apanhados em redes de pesca.

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Mark Meekan Andre Rerekura

Outro estudo publicado em Maio mostrava que a colisão com grandes navios era uma das causas da “mortalidade escondida” destes gigantes do mar, que se movem lentamente e encontram-se ameaçados. São também estes peixes que começaram a visitar regularmente as águas da ilha açoriana de Santa Maria – e, para desvendar esse mistério, o fotógrafo subaquático Nuno Sá fez um documentário chamado A Ilha dos Gigantes, que pode ser visto na plataforma RTP Play.

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