Governo apoia projectos contra mutilação genital feminina com 80 mil euros

A DGS registou 190 casos de mutilação genital feminina no ano passado. O Governo anunciou apoios a organizações que trabalham junto de comunidades afetadas.

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O hospital Amadora-Sintra estima que em Portugal vivam mais de 6500 mulheres vítimas de mutilação genital feminina Rui Gaudêncio

O Governo vai apoiar com 80 mil euros organizações da sociedade civil que actuam junto de comunidades afectadas pela mutilação genital feminina (MGF), anunciou esta segunda-feira o gabinete da ministra-adjunta e dos Assuntos Parlamentares. O anúncio acontece quando se assinala o Dia Internacional da Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina e irá materializar-se no lançamento de um novo concurso para apoio técnico e financeiro, cujo valor representa um aumento de 33% face ao concurso anterior.

As autoridades de saúde registaram no ano passado 190 casos de mutilação genital feminina, um aumento de 24% relativamente ao período homólogo, e em mais de metade ocorreram complicações, segundo a Direcção-Geral da Saúde. A maioria dos casos conhecidos em Portugal de MGF são detectados no Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (Amadora-Sintra), refere hoje a unidade hospitalar, segundo a qual foram referenciados 72 novos casos em 2022.

As mulheres referenciadas tinham entre 18 e 46 anos, e "foram sujeitas a estas práticas quando tinham entre um mês de idade e os 19 anos".

Estes 72 casos detectados no ano passado "juntam-se às 218 utentes, vítimas de MGF, que o serviço de Ginecologia-Obstetrícia" do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (HFF) identificou entre 2015 e 2021. "Estima-se que em Portugal vivam mais de 6500 mulheres que tenham sido vítima desta prática", diz o hospital.

Acrescenta que no serviço de Ginecologia-Obstetrícia do HFF existe um grupo de trabalho "dedicado a identificar e sinalizar as utentes vítimas de MGF", e assim "contribuir para a protecção de meninas recém-nascidas e impedir a perpetuação desta prática nas gerações subsequentes".

"As 72 mulheres referenciadas em 2022 no Serviço de Ginecologia-Obstetrícia do HFF foram mães de 39 meninas, o que levou o HFF, no âmbito do seu contributo para a erradicação da MGF no mundo, a partir de Portugal, a desencadear, de imediato, junto das entidades competentes, mecanismos de protecção para garantir a sinalização e o superior interesse destas meninas", diz ainda.

Estima-se que a MGF seja praticada em mais de 90 países do mundo, sendo exemplo disso a Guiné-Bissau, Guiné-Conacri, Senegal, Cabo-Verde, Gâmbia ou Nigéria, onde é encarada como parte da identidade e cultura, que protege as meninas e mulheres e defende a honra das famílias.

Além do reforço aos projectos de prevenção e combate à MGF, o Governo abriu também concursos para organizações de mulheres, com uma verba total de 200 mil euros, e para organizações que promovam os direitos das pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexo (LGBTI+), com 80 mil euros.

"Os reforços de verbas vão assegurar, no terreno, a continuidade e o robustecimento das acções promovidas por estas organizações, representando o compromisso do Governo com estas matérias, mas também o reconhecimento do importante papel desempenhado por estas organizações", refere o gabinete de Ana Catarina Mendes.

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