Os jovens estão a beber menos — os jogos são cada vez mais uma alternativa às saídas à noite

É uma nova tendência do entretenimento e oferece-te mais do que isso: convívio e muitas horas de diversão. Bowling, jogos de tabuleiro, escape rooms ou realidade virtual são algumas das opções.

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Os jogos sociais de entretenimento são a nova moda Bao Truong

Uma nova tendência está a servir de alternativa a pubs e bares entre os jovens, cujo consumo de álcool tem vindo a diminuir ao longo dos últimos anos.

A socialização com uma componente de competição pega na ideia secular de misturar comida e jogos (como em banquetes medievais) e amplifica-a. As opções variam entre versões reinventadas de bowling, jogos de tabuleiro, dardos, pingue-pongue, matraquilhos, minigolfe, críquete e lançamento do machado, escape rooms e realidade virtual. O denominador comum são experiências de imersão social divertidas servidas com comida e bebida de grande qualidade em interiores atraentes e instagramáveis.

De acordo com um estudo desenvolvido pela empresa de análise de mercado da Mintel UK, um quarto das pessoas inquiridas, no Outono de 2022, sobre as actividades de entretenimento que preferiam afirmavam que tinham participado recentemente num jogo social de entretenimento.

E os analistas prevêem que a "socialização competitiva" vai permanecer popular, apesar da incerteza económica.

Tanto millennials como geração Z impulsionam esta tendência. Não só estão a beber menos, como também gastam menos em produtos e mais em experiências.

Locais de socialização que promovem a competitividade conseguem preencher lojas vazias e direccionar o tráfego de volta para a rua principal. O meu estudo sobre a cena social dos jogos de tabuleiro no Reino Unido revelou o quanto o sector contribui para a comunidade local.

Experiências únicas de lazer não só criam memórias pessoais, como são a moeda social do capitalismo digital. A investigação mostrou que ser capaz de impressionar os outros com saídas à noite, viagens e visitas a festivais é tão importante quanto a qualidade real dessas actividades.

Após meses de confinamentos causados pela covid-19, estar offline é o novo luxo. A sede de diversão multissensorial e interacção social pessoal torna a "socialização competitiva" cada vez mais atraente não apenas para jovens profissionais, mas também para famílias e empresas em busca de novas ideias para formação de equipas.

Ressuscitar negócios locais

Entre Junho de 2021 e Setembro de 2022, visitei 24 locais que recebem sessões de jogos de tabuleiro em seis regiões de Inglaterra e entrevistei 50 pessoas que têm os jogos, organizam as reuniões e as frequentam. Inicialmente, tentei descobrir o que atrai as pessoas para os jogos analógicos na era digital e por que razão escolhem jogá-los fora de casa.

As respostas mais populares foram afastar-se do ecrã, ter uma experiência táctil e poder socializar sem beber demais. Para quem mudou de cidade durante a pandemia, tornou-se a maneira mais fácil e segura de encontrar novos amigos. Muitas pessoas disseram que os jogos de tabuleiro “adicionam estrutura à socialização”, o que é importante para pessoas neurodiversas e para aquelas que lidam com ansiedade social pós-pandémica.

Mas, à medida que aprofundei o tema, percebi que os jogos sociais de tabuleiro fazem ainda mais do que isso — também apoiam negócios locais independentes.

A maioria dos cafés que acolhe estas sessões de jogos de tabuleiro faz parceria com padarias locais, produtores de café e outros fornecedores de alimentos. Algumas empresas, como o Dice Board Game Lounge, em Portsmouth, ou o Dice Saloon, em Brighton, contribuem para a regeneração urbana ao dar nova vida a edifícios subutilizados.

Como os pubs do Reino Unido fechavam a um ritmo alarmante em 2022, muitos tentaram atrair clientes ao entrar em contacto com entusiastas de jogos locais. Alguns amadores ávidos começaram a organizar noites de jogos em pubs nos tempos livres e outros lançaram pequenas empresas de organização de eventos, realizando eventos sociais em locais independentes. O recente relatório do mercado de bares do Reino Unido da Mintel diz que 20% dos entrevistados da geração Z “não visitam bares com frequência ou nunca” – mas a "socialização competitiva" pode ser o gancho que os vai atrair.

O custo de socializar

Num mundo onde o tempo de lazer e os orçamentos estão constantemente a diminuir, misturar refeições com entretenimento memorável oferece uma boa relação custo-benefício. Mas 2023 trouxe desafios económicos para todos e os locais de confraternização com alguma componente competitiva e os seus clientes não são excepção.

Os analistas da Mintel sugerem que, embora as noitadas provavelmente se tornem menos frequentes, também se tornam mais especiais, o que significa que os consumidores vão dar prioridade à qualidade em detrimento da quantidade. E como disse Nick Frow, dono de uma experiência de cocktails e golfe alucinante em Londres: “Em qualquer período, especialmente aqueles que exigem alguma distracção, as pessoas precisam de pão e circo”.

Mas empresas mais pequenas e orientadas para a comunidade que se encontram em áreas mais pobres não são tão optimistas. A queda na confiança do consumidor é parte do problema. E como os fornecedores de entretenimento usam muita energia para iluminação, cozinha e ar condicionado, estão particularmente expostos aos aumentos de preço da energia.

Se queres apoiar um destes espaços locais este Inverno, faz-lhes uma visita ou visita as redes sociais deles. Mas existe uma forma mais barata de ficar por dentro dessa tendência. Talvez atirar um machado no quintal não seja a melhor ideia, mas podes sempre organizar uma noite de jogos em casa.

Provavelmente não haverá luzes néon, música ou uma parede de selfies, mas as festas em casa criam um sentimento de comunidade e descontracção como nenhum outro ambiente consegue. Convida alguns amigos, cozinhem juntos, encomendem takeaway ou que cada um traga uma coisa. Escolham alguns títulos da lista, escolham jogos de convívio que não exijam nada além de papel e caneta e divirtam-se.


Exclusivo P3/The Conversation
Alexandra Kviat é investigadora na Universidade de Leicester

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