Fotógrafo mantém Portugal no mapa da Ocean Race

João Costa Ferreira terá a responsabilidade de captar as melhores imagens em todos os stopovers da mais importante prova de circum-navegação de vela por equipas.

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O barco português em acção na Ocean Race Sailing Energy

Continua a ser a mais longa (e difícil) prova de circum-navegação de vela por equipas e, até à última edição, Portugal ocupava no mapa da prestigiada regata um papel de destaque. No entanto, com a conclusão, neste domingo, em Cabo Verde, da primeira de sete etapas da Ocean Race 2023, a presença nacional na competição parecia condenada a extinguir-se até ao Verão: a Mirpuri Racing Team, com tripulação 100% portuguesa, só voltará a entrar na regata nas duas últimas etapas, quando a frota regressar à Europa. Porém, um convite ao qual era “muito difícil dizer que não” colocará nos olhos de João Costa Ferreira a responsabilidade de captar as imagens das partidas e das chegadas em todas as paragens da Ocean Race.

A edição 2017-18 da Volvo Ocean Race (VOR) — o construtor sueco deixou de estar associado ao nome da prova — colocou a fasquia elevada para a prova deste ano. Para além de ter sido a mais competitiva de sempre, a corrida de circum-navegação estabeleceu recordes em várias vertentes: mais de 2,5 milhões de pessoas visitaram os stopovers; a audiência televisiva acumulada foi de 2,2 mil milhões de telespectadores; houve mais de 3300 horas de transmissão televisiva, que geraram 429 milhões de euros em publicidade.

Todavia, estes números não convenceram o Governo português, a Câmara Municipal de Lisboa e o Porto de Lisboa. Embora o desenho inicial da prova tivesse sido pensado com a capital portuguesa no mapa, a decisão final dos organismos nacionais foi de abdicar do stopover e do estaleiro (boatyard), que, segundo o PÚBLICO apurou junto de um dos responsáveis pela organização da VOR 2017-18, geravam “metade do número de dormidas que a Web Summit normalmente gera em Lisboa, com um valor de investimento cinco ou seis vezes menor” - António Costa estará amanhã em Cabo Verde para, ao lado de António Guterres, participar na The Ocean Race Summit Mindelo.

Assim, com um novo formato da prova onde os VO65 disputam apenas três das sete etapas – é nesta classe que compete a Mirpuri Racing Team – e com Lisboa auto-excluída da regata, nas oito cidades que vão acolher a Ocean Race (Alicante, Mindelo, Cidade do Cabo, Itajaí, Newport, Aarhus, Haia e Génova), a presença portuguesa será garantida por um dos dois fotógrafos encarregues de captar as imagens que a organização vai partilhar.

Com um curriculum do qual consta experiência em fotojornalismo, mas também trabalhos para a entidades como a Associação Nacional de Municípios ou a Faculdade de Engenharia do Porto, João Costa Ferreira conta, em conversa com o PÚBLICO, que fez “vela durante alguns anos no Sport Clube do Porto” mas, embora achasse “piada” ao desporto e tivesse feito alguns trabalhos fotográficos no início da carreira, que eram “rudimentares e ofereciam pouco dinheiro”, profissionalmente começou por abrir “uma empresa de publicidade”.

Há cerca dez anos, após uma mudança para o Algarve, este fotógrafo, de 40 anos, teve a oportunidade de trabalhar com o centro de treinos Vilamoura Sailing e, sendo este “um projecto vela de alta competição”, a hipótese de colocar a fotografia de lado foi descartada. Isto motivou que João Costa Ferreira começasse a “fazer um investimento mais sério” e que “um dia” fizesse “as malas” e fosse para Palma de Maiorca, onde conheceu o espanhol Jesus Renedo, um dos fundadores da Sailing Energy, uma das mais requisitadas empresas de fotografia de vela a nível mundial.

Foi através do contacto com a Renedo que, em 2021, João Costa Ferreira trabalhou pela primeira vez para a Sailing Energy nas provas da classe GC32 em Lagos. O trabalho “correu bem” e o convite seguinte elevou a fasquia: “O Jesus perguntou-me se estava disponível para trabalhar na Ocean Race e, sendo esta a prova mais importante do mundo, era muito difícil dizer que não, mesmo tendo sido pai há cerca de um mês”.

Assim, mesmo tendo a “ajuda e compreensão da família”, João Costa Ferreira confessa, com risos à mistura, que não sabe como vai “gerir tudo até Julho”. No entanto, não tem dúvidas sobre a meta seguinte: “Sendo a Ocean Race um grande objectivo que não contava alcançar já, o próximo é aquele que todos ambicionam: a America’s Cup. A Sailing Energy trabalha com uma das equipas que vai participar. Agora, tudo irá depender da minha prestação e da qualidade do meu trabalho na Ocean Race.”

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