Será possível uma versão ainda melhor do ensino?

Os professores são o motor de arranque do sucesso dos futuros adultos do nosso país. Mas será que o ensino está adequado às exigências da vida real?

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Paulo Pimenta

Obrigado aos professores pelo excelente trabalho que desempenham. Uma profissão que, infelizmente, se encontra banalizada e, de certa forma, desprezada pelos governantes de Portugal.

Os professores são o motor de arranque do sucesso dos futuros adultos do nosso país. E será que este motor de arranque está adequado às exigências da vida real? Haverá forma de elevar o ensino em Portugal?

Não haja dúvidas de que é sempre possível fazer mais e melhor. Ora vejamos, um exemplo: sempre adorei matemática e agradeço aos meus professores de matemática que me ajudaram a conseguir 20 valores no exame de Matemática A de 2016. Contudo, após concluir o secundário e o curso superior, ainda não surgiu nenhuma oportunidade de aplicar a fórmula resolvente na minha vida. Questionei aos meus pais se alguma vez precisaram de usar a fórmula resolvente na sua profissão, ou mesmo em qualquer altura da sua vida adulta, e a resposta é um não redondo. Aliás, aparentemente também nunca precisaram de recorrer ao teorema de Pitágoras. (Tantas horas a descobrir hipotenusas de triângulos rectos em vão.)

Isto levou-me a questionar: será que aprendi fórmulas e teoremas espectaculares que não têm qualquer aplicabilidade no dia-a-dia? E será que a escola se esqueceu de me ensinar o que é o Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Singulares (vulgo IRS), e como funciona o crédito habitação (segundo os anúncios televisivos, parece ser algo muito simples, mas então por que razão as pessoas entregam as suas casas ao banco)? E o que é a Euribor, de que o pivô da RTP está sempre a falar?

Todas estas perguntas ficaram por responder ao longo de 12 anos de estudo no ensino público. Mas o programa educativo esqueceu-se de nos ensinar como comunicar e lidar com pessoas, como funciona a bolsa de valores, como criar um negócio, como procurar um emprego onde nos possamos sentir bem, como negociar o meu salário e, já agora, quais os meus direitos como trabalhador.

É certo que o Sermão de Padre António Vieira aos peixes é interessante, mas e se para além de saber os recursos estilísticos na ponta da língua, soubesse escrever um Curriculum Vitae ou preparar uma entrevista de emprego? Podiam também ensinar o que é a Direita e a Esquerda na política — é que aparentemente votamos no que fala mais alto ou no que faz promessas de que a TAP é um bom investimento.

Ainda acredito que a disciplina de Cidadania e Desenvolvimento (formação cívica) possa vir a ser a fórmula resolvente para solucionar estes problemas. Mas do que me lembro era aquela com menos horas e onde dava para fazer os trabalhos atrasados das outras disciplinas. Na realidade, esta disciplina talvez seja a que reflecte directamente o comportamento do aluno na sociedade onde se insere.

Esta reflexão poderá ser considerada como utilitarista, na forma em que tudo o que não tem aplicabilidade no quotidiano directamente é conhecimento inútil. Não é isso que procurei defender. Pelo contrário, muitos destes ensinamentos sem aplicabilidade directa permitem interpretar as coisas mais fundamentais acerca do mundo e treinar as principais competências necessárias para o entender, sejam elas de natureza empírica, lógica, intuitiva, interpretativa ou outra qualquer.

Ora, mas não ocuparemos de forma absoluta o programa escolar com literatura clássica e teoremas matemáticos, em detrimento de ensinamento fundamentais que têm aplicabilidade directa na vida das pessoas. De notar que Portugal fica em último lugar no ranking de literacia financeira da zona euro.

Obrigado, professores, pelos ensinamentos, vamos agora fazer ainda mais e melhor pelo ensino público?

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