Aos 17 anos, Juncheng Shang já faz história no ténis chinês

O asiático é o mais jovem tenista do quadro principal masculino do Open da Austrália e há motivos para comparações com Carlos Alcaraz.

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Juncheng Shang EPA/FAZRY ISMAIL

Ainda o Open da Austrália não tinha oficialmente arrancado e Juncheng Shang já era um dos nomes mais falados em Melbourne. Mas o jovem tenista chinês fez mais: após ultrapassar os três adversários no qualifying, cedendo apenas um set, Shang ganhou a primeira ronda do quadro principal do Open da Ásia-Pacífico (como é também conhecido a prova australiana do Grand Slam) e tornou-se no primeiro chinês a ganhar um encontro no quadro principal de singulares masculino do Open da Austrália.

Detentor do 194.º lugar no ranking mundial, Shang eliminou o alemão Oscar Otte (74.º), por 6-2, 6-4, 6-7 (2/7) e 7-5. Depois de anular dois break-points no set inicial, o chinês não enfrentou mais nenhum até concluir o encontro no terceiro match-point.

“Por um lado, estou um pouco surpreendido por ter acontecido tão rápido, mas, ao mesmo tempo, penso que é a recompensa por todo o trabalho duro que eu e a minha equipa realizámos. Não posso estar mais entusiasmado pelo que vem a seguir”, admitiu o chinês.

Aos 17 anos, Shang é o mais jovem tenista do quadro principal masculino, onde estão igualmente outros dois compatriotas: Wu Yibing e Zhang Zhizhen. Mas quis o sorteio que fosse o primeiro a entrar em acção e… a fazer história. É também o primeiro jogador com esta idade a ganhar um encontro no quadro principal de um Grand Slam desde Carlos Alcaraz que, no Open da Austrália de 2021 foi do qualifying até à segunda ronda – na altura, Alcaraz era 141.º na tabela ATP e actualmente está no primeiro lugar do ranking.

“Depois de ouvir isto, acho que é um grande feito. Se olharmos para o Carlos… é o melhor do mundo agora. Inspira-me muito vê-lo”, disse Shang.

Filho de futebolista

Há quatro meses Wu Yibing, de 23 anos, e Zhang Zhizhen, de 26, entraram na história do seu país ao serem os primeiros chineses no quadro principal do US Open. Ao ultrapassar a ronda inicial em Nova Iorque, Wu Yibing foi mesmo o primeiro chinês em 63 anos a ganhar um encontro num quadro principal de um torneio do Grand Slam e ocupa actualmente o 116.º lugar no ranking ATP. Em Outubro, Zhang Zhizhen passou a ser o primeiro chinês a entrar no top 100 do ranking mundial, figurando esta semana no 97.º posto.

“Estes dois tipos são, sem dúvida, a minha inspiração”. Estão no circuito há mais tempo e têm bem mais experiência do que eu. Espero poder vê-los jogar no Open”, reconheceu Shang.

Mas o adolescente chinês tem outros modelos: “O meu estilo de jogo é mais semelhante ao de Novak Djokovic, que é um dos meus favoritos no circuito. E como sou esquerdino, também sou fã de Rafael Nadal.”

Shang nasceu em Pequim, mas está desde os 13 anos nos EUA, onde treina na famosa IMG Academy, em Bradenton (Florida). Aí ganhou a alcunha de Jerry, porque é fã dos desenhos animados “Tom and Jerry”. “Acho que os meus pais gostavam que eu fosse esperto como o rato Jerry”, justificou.

O pai, Shang Yi, foi jogador de futebol profissional, duas vezes internacional e actuou no Beijing Guoan entre 1999 e 2008, com excepção de uma época em que representou o Xerez da segunda divisão espanhola. A mãe, Wu Na, foi campeã mundial de ténis de mesa na variante de pares mistos em 1997, e medalha de bronze em singulares (1997) e pares femininos (1995).

“Eu joguei com bolas grandes, a mãe com bolas pequenas e ambos gostamos de ténis. Por isso, a criança escolheu as bolas intermédias”, brincou Yi.

Além de genes, os pais têm ensinado Shang a gerir os sucessos e os fracassos habituais numa carreira de atleta profissional, porque as expectativas apareceram cedo. Em 2019, foi o primeiro tenista nascido em 2005 a ganhar um torneio no circuito mundial júnior. Dois anos depois, foi finalista no US Open júnior e terminou no primeiro lugar do ranking mundial desse escalão.

A disciplina que lhe foi incutida leva-o a preferir ver filmes que o ajudem a pensar e a aprender (de ficção científica, como Inception, ou biografias, de que é exemplo a de Michael Jordan) em vez de jogos-vídeo. As horas de sono, a dieta e o treino físico são seguidos à risca. “É como num edifício: quanto mais profundas forem as fundações, mais alto pode ser construído”, explicou Shang em Indian Wells, onde se tornou no mais jovem tenista a passar o qualifying de um evento da categoria Masters 1000 desde Rafael Nadal, em 2003.

O torneio californiano foi o segundo de três torneios do circuito principal em que Shang competiu no quadro final. Esteve igualmente nos ATP do Rio de Janeiro e em Miami. O Open da Austrália é o quarto e, na segunda eliminatória, vai defrontar o credenciado Frances Tiafoe (17.º), com a garantia da subida de cerca de 50 lugares no ranking.

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