Benfica deu “banho de realidade” ao Varzim na Taça de Portugal

Depois de eliminar o Sporting, o Varzim sentiu nesta terça-feira a diferença de valor entre a primeira e terceira divisões. Bateu-se bem e chegou a mostrar qualidade, mas não chegou.

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Varzim e Benfica em duelo na Póvoa EPA/RUI MANUEL FARINHA

O Benfica não precisou de ser o que consegue ser, o Varzim não conseguiu superar-se e ser mais do que se espera que seja. Em suma, estas premissas permitem definir por que motivo os "encarnados" chegaram nesta terça-feira aos quartos-de-final da Taça de Portugal.

A equipa lisboeta foi à Póvoa bater o Varzim por 0-2, resultado que não é mais do que a força da lógica: o líder da primeira divisão tem de ser melhor do que o segundo classificado da terceira. E foi.

Debaixo de alguma chuva, o Varzim teve um “banho de realidade”: depois de eliminar o Sporting, sentiu nesta terça-feira a crueldade da diferença de valor individual para o Benfica.

“Seja contra quem for, ninguém nos tira o sonho do Jamor” era o que mostrava uma tarja dos adeptos do Varzim e o Benfica tratou de deixar a premissa vazia. Mas há algo que ninguém tira à equipa nortenha: um percurso até aos “oitavos” da Taça, a eliminação de um “grande” e a conciliação de tudo isto com um desempenho tremendo na Liga 3 – o que se tem feito na Póvoa é de qualidade e isso, a espaços, até ficou provado nesta terça-feira, frente ao Benfica.

Chiquinho a 6

Para este jogo, Roger Schmidt não ignorou o derby com o Sporting do próximo fim-de-semana, mas também não o sobrevalorizou: quer isto dizer que fez alguma rotação na equipa, mas não cedeu à tentação de apresentar um “onze” desprovido de habituais titulares – até Vlachodimos jogou.

A dupla de centrais foi alternativa, com Veríssimo e Morato, mas houve nomes como Enzo, de regresso após medidas disciplinares internas.

E este jogo mostrou que, para Schmidt, Aursnes é cada vez menos um médio – chegou como 6, chegou a ser visto como 8 e, actualmente, joga como 10.

Mesmo sem Florentino, o técnico alemão preferiu ter Chiquinho na posição 6, contando com parca presença ofensiva do Varzim, do que dar essa função ao norueguês teoricamente mais capaz nesse labor.

A opção passaria por, num jogo teoricamente de sentido único, dar mais “perfume” à primeira fase de construção, com Chiquinho, guardando Aursnes para uma função de reacção à perda e pressão em zonas mais ofensivas – o que ajudou a criar alguns momentos de asfixia ao Varzim, com sucessivas recuperações no último terço.

Curiosamente, foi na “nova zona” de Aursnes, perto da área, que apareceu Chiquinho em condução, vindo de trás, servindo um apoio frontal de Ramos carregado em falta. Houve livre para Grimaldo e golo logo aos 3’.

Por coincidência ou não, o Varzim acabou por sofrer um golo saído de uma incursão de Chiquinho, o que pode ser um acaso, mas também pode ser um impacto claro e planeado da opção de Schmidt em ter o criativo a aparecer de trás, em vez de se dar à marcação em zonas ofensivas – quase como “oferecer” Aursnes aos defesas do Varzim, para depois lhes apresentar Chiquinho de surpresa. Se foi planeado, correu na perfeição.

Varzim semi-audaz

O Varzim estava a ter um comportamento curioso. Apesar de não abdicar de duas linhas densas, uma de cinco e uma de quatro, tentava ter um bloco defensivo médio/alto, algo incomum para equipas que defrontam formações com valor tão superior.

Mas esse posicionamento era apenas no momento da primeira fase de construção “encarnada”, já que assim que a bola era colocada mais à frente – pelos corredores ou mesmo em passes verticais pelo centro –, os defesas corriam rapidamente para trás, com receio das bolas nas costas e arrastados pelos atacantes do Benfica.

O problema é que baixando a defesa, mas ficando a linha média na mesma zona, criou-se algum espaço explorável por Aursnes e Draxler entre linhas.

Apesar dessa capacidade de jogar dentro do bloco do Varzim, o Benfica não foi especialmente competente a criar oportunidades de golo, numa primeira parte globalmente desinteressante no que diz respeito a disparos às balizas.

Mais atacantes

Na segunda parte, o Varzim regressou com mais um jogador ofensivo, Hélder Barbosa, e menos um defesa.

O futebol mais associativo dotou a equipa de capacidade de se aproximar em posse da área do Benfica, com triangulações em transição – houve lance perigoso aos 48’ e remate aos 50’.

O jogo ficou menos controlado por parte do Benfica, que levou a sério a maior presença ofensiva do Varzim – houve preferência por não correr riscos e levar o 1-0 a bom porto, em vez de uma maior avidez na procura do 2-0.

O Varzim até esteve perto do golo aos 66’, num cruzamento que obrigou Vlachodimos a esforços especiais, mas o visível desgaste físico foi deixando os jogadores mais atrasados e os espaços foram surgindo.

O Benfica esteve perto do golo aos 77’, num remate torto de Enzo, e marcou aos 79’, desta vez com um disparo feliz do argentino, numa jogada de combinações curtas do Benfica.

O Varzim aguentou-se e teve bons momentos, mas foi insuficiente.

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