Cartas ao director

Estranha forma de socialismo

É suposto que um governo socialista combata e não fomente as desigualdades sociais. Ora, um governo socialista que permite que um gestor público receba de indemnização o mesmo que recebe um trabalhador por cinquenta anos de trabalho (não é engano) está, sim, a aumentar as desigualdades.

De salientar que Alexandra Reis ainda queria mais; queria o equivalente a 145 anos de um trabalhador. Também há que ter em conta que a senhora nem sequer ficou desempregada, foi trabalhar para o mesmo patrão noutro local. O pior disto tudo é que é legal.

Quintino Silva, Paredes de Coura

Nascidos para governar?

A vida corre à nossa volta e a maioria das pessoas, nela envolvida, não se consegue incomodar suficientemente com pormenores que, num conjunto, suportam toda a sua existência. Só nos apercebemos de alguns caminhos errados depois de os percorrer. Depois, se possível, vem o remedeio. A política, como ciência da governação, tem os seus códigos, o seu tempo, a sua finalidade, que nas suas metas deve procurar o bem-estar social.

Com o evoluir das sociedades e das diversas áreas que as coordenam e dos seus princípios fundamentais, as leis passaram a ser gerais, e governar tornou-se um suporte essencial para a estabilização dos povos e dos territórios. Nas sociedades que consideramos modernas e democráticas, o poder governativo está ao dispor de qualquer cidadão que possa votar e ser votado. Os suportes da democracia são os partidos políticos que se organizam por estruturas. Para atrair os mais novos, existem os sectores que se denominam juventudes partidárias, onde em muitos casos começam as carreiras de governantes, quer locais, quer regionais ou nacionais. Hoje, temos, no nosso quadro político nacional e governativo, cidadãos que apenas vêm duma experiência partidária, sem uma carreira de serviços ou profissões exercidas no sector privado ou 100% profissional.

Ultimamente, começamos a notar, com muita evidência, um exagerado laço familiar nas equipas governamentais. Isto origina um estranho mal-estar social, que parece ser equivalente ao tempo das classes sociais clero, nobreza e povo, em que o poder governativo era exercido apenas pelos senhores da nobreza, que, na verdade, eram “donos disto tudo”. Numa análise superficial e sem qualquer meta científica, apenas como constatação social actualizada, parece que na actual situação política há famílias cujos elementos “nasceram para governar”.

Joaquim Carreira Tapadinhas, Montijo

Confusão e desnorte

Não posso deixar de expressar as preocupações à volta das trapalhadas e a confusão que reinam no Governo, um executivo com maioria absoluta de um só partido no Parlamento e que é o pior cenário que os portugueses poderiam ter escolhido. Mas espanta ainda mais que António Costa, considerado um animal político e o maior político português da actualidade, venha dando sinais de tanta falta de controlo, afinal, sobre quem é escolhido para cargos governamentais. Com todo o enorme ruído à volta destas questões de "entra este, sai aquele", vai passando despercebida a governação de "terra à vista" que está a ser feita, quase sub-repticiamente, com aquilo a que o Governo chama descentralização de competências para as CCDR.

Já a agricultura, separada das florestas, caso único no mundo, deve fazer bradar aos céus, e talvez se comece a perceber porque se levou anos a desacreditar as Direcções Regionais de Agricultura, fechando nelas as actividades de experimentação agrária, que é fundamental para acertar as culturas regionais com as alterações climáticas. A política do sector primário deve ser nacional, embora logicamente participada regionalmente, como sempre foi, mas sem autonomia que arrisca a lesar fortemente o interesse nacional. Lá iremos ter abacateiros e outras culturas industriais, em vez de culturas alimentares e forrageiras, de que tanto necessitamos e que uma política nacional deveria organizar. E para não tornar esta carta muito extensa, fica por abordar o mesmo cenário para a política de Ambiente. Uma outra desgraça nacional, que merece abordagem mais profunda.

Fernando Santos Pessoa, Faro

Afinal, até lhe saiu a taluda

Ao ex-ministro e concidadão Pedro Nuno Santos, nem tudo foi mau. Nada mau, mesmo. A sorte sorriu-lhe finalmente, através de uma conjugação rocambolesca de bem escapar a tantas ratoeiras e lodaçais, cada vez mais pantanosos, pelo que podemos afirmar que lhe saiu a taluda de fim de ano.

Desde ter estado enredado nas teias labirínticas de Minotauro, parece-nos que também conseguiu sair ileso de vir a desaparecer no fatídico Triângulo das Bermudas, ou acontecer-lhe o mesmo como ao imprudente Ícaro.

José Amaral, Vila Nova de Gaia

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