Televisão japonesa dedica episódio à “deslumbrante aldeia rochosa” de Monsanto

Episódio de Somewhere Street da NHK, televisão pública japonesa, foi emitido internacionalmente no Dia de Natal: 50 minutos de passeio pelas ruas de Monsanto, os seus habitantes e penedos.

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Monsanto durante as filmagens do programa japonês Somewhere Street DR
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Monsanto durante as filmagens do programa japonês Somewhere Street DR
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Monsanto durante as filmagens do programa japonês Somewhere Street DR
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Monsanto durante as filmagens do programa japonês Somewhere Street DR

Depois de 17 anos a filmar episódios em todo o mundo – só em Portugal, já tinha passeado pelas ruas de Lisboa, Porto, Faro e Coimbra, enumera de memória Hironori Ando, produtor da NHK em Portugal – o programa Somewhere Street da televisão pública japonesa queria um desafio: “Escolher uma localidade que fosse o mais pequena possível”.

A decisão recaiu sobre Monsanto, “a deslumbrante aldeia rochosa de Portugal”, com cerca de 90 habitantes e “casas aninhadas entre as rochas”, descreve-se na página online do episódio. A aldeia portuguesa é, sem dúvida, a localidade “mais pequena do mundo” a surgir no programa, diz o produtor. Mas esta não foi a única razão para a escolha.

Há o factor pitoresco das “casas de pedra espremidas entre as rochas” e as paisagens imensas que se avistam do topo da serra - “é muito fotogénico”, claro, assume Hironori – mas também uma pergunta quase antropológica: porque é que os poucos habitantes que persistem no núcleo histórico “continuam a viver naquela localidade” empoleirada no alto de uma montanha, junto à fronteira com Espanha?

Foto
Hironori Ando e o operador de câmara durante as filmagens em Monsanto DR

Filmado como se fosse o “olhar de uma turista”, o episódio dedicado a Monsanto arranca às 9h junto à porta de São Sebastião e termina ao final do dia no mais fotogénico arco de pedra sobre a paisagem, vestígio das ruínas da capela de São João, próximo do castelo.

Pelo caminho, vamos subindo as ruas empedradas e metendo conversa com quem aparece no caminho. Entra-se em muitas casas, para ver como “o povo viveu sempre à volta” dos penedos. “Se calhar, a persistência da aldeia, historicamente através dos séculos, foi por causa disto. Foi isto que permitiu defesa, refúgio, tudo”, sublinha, às tantas, um dos habitantes, pousando a mão sobre a rocha que entra quarto dentro. “Nós vamos e eles ficam.”

Ao longo de quase 50 minutos, vai-se ficando a conhecer um pouco “como é a vida monsatina”: o peixeiro ambulante que sobe à aldeia uma vez por semana; a senhora que guarda as chaves dos vizinhos e que encontramos a levar o almoço a um amigo (“Aqui ainda nos vamos preocupando com a velhinha que está ali ao lado e que não tem ninguém”); o fundador da Rádio Monsanto; os filhos da terra migrados em Lisboa e noutras paragens que regressam todos os anos de férias; ou os poucos miúdos que, na falta de mais amigos para brincar, adoram saltar de penedo em penedo, como outrora brincavam os pais e os avós.

A “ligação entre as pessoas”, “este apoio e convivência local” ou a população maioritariamente idosa são questões culturais que “também têm a ver com o Japão”, relembra Hironori.

Filmado em Julho deste ano, com temperaturas a subir aos 42ºC, conta o produtor, o episódio dedicado a Monsanto foi transmitido no Japão em Setembro e no NHK World, canal internacional da emissora japonesa, presente em 160 países e regiões de todo o mundo, no Dia de Natal, disponível no site da televisão pública do Japão até 25 de Dezembro do próximo ano.

Na edição internacional, uma mulher interpela os habitantes locais em inglês, numa voz off que nunca aparece no ecrã, enquanto as pessoas vão respondendo em português, com legendas, por vezes, demasiado criativas, que em nada traduzem o que está a ser dito mas ajudam a ligar o discurso. Em pequenas vinhetas, descobre-se ainda parte da história de Monsanto e alguns dos seus mais afamados doces, entre bolo de leite, filhoses e borrachões. “A vida é quente e nostálgica”, descreve-se no episódio, numa Monsanto já iluminada pelos candeeiros de rua.

Entretanto, a NHK já regressou à aldeia portuguesa para filmar outro programa, “mais focado no turista e naquilo que se pode ver e fazer”, com transmissão no Japão prevista para 3 de Janeiro. E está em filmagens uma "viagem de bicicleta de Sevilha até Lisboa", mas sobre esse e outros projectos previstos para o próximo ano, "ainda não se pode revelar nada", diz Hironori Ando.

“O apreço dos turistas japoneses por Monsanto é já bastante conhecido”, sublinha a autarquia de Idanha-a-Nova em comunicado, a propósito do lançamento internacional do episódio de Monsanto no Somewhere Street. “Em 2015, a Associação de Agências de Viagens do Japão elegeu Monsanto como uma das 30 aldeias e vilas mais belas da Europa, sendo a única representante portuguesa, numa votação que envolveu mais de 300 profissionais do sector do turismo.”

A aldeia tornou-se também uma celebridade global recentemente, graças a ter servido de cenário para gravações da série House of the Dragon, prequela da Guerra dos Tronos.

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