Modernização da linha do Oeste continua parada apesar das promessas

Infra-Estruturas de Portugal não explica por que motivo não cumpriu a promessa de arranque das obras no troço Meleças – Torres Vedras, feita há seis meses.

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Neste momento decorrem apenas os trabalhos entre Torres Vedras e Caldas da Rainha Rui Gaudencio

Depois de, em Março de 2022, os trabalhos de modernização da linha do Oeste terem sido interrompidos, foi feita a promessa, em Junho, de que as obras seriam retomadas “rapidamente” e “nas próximas semanas”. Um anúncio feito ao mais alto nível, pelo vice-presidente da IP, Carlos Fernandes, e pelo ministro das Infra-Estruturas, Pedro Nuno Santos, durante uma cerimónia realizada nas Caldas da Rainha onde foi assinada a consignação da empreitada de modernização do troço entre aquela cidade e Torres Vedras.

Só que a sul os trabalhos continuaram parados. Entre Meleças e Torres Vedras, dizia a IP em Agosto deste ano, “estima-se que os trabalhos possam ter o seu reinicio já no próximo mês”.

E dois meses depois, em 29 de Outubro, a mesma IP dizia que “os trabalhos serão retomados no início de Novembro”.

Agora, em Dezembro, a IP já nem respondeu às perguntas do PÚBLICO sobre qual a próxima data para o re-arranque das obras nem quais os motivos destes sucessivos atrasos. A empresa pública também não respondeu se mantém que a modernização da linha do Oeste estará concluída até Dezembro de 2023, data limite para não perder os fundos comunitários que financiam uma grande parte deste investimento de 100 milhões de euros.

A Comissão para a Defesa da Linha do Oeste também não teve melhor sorte. Elementos desta comissão viajaram de comboio das Caldas da Rainha para Lisboa no dia 15 de Dezembro e estiveram no Ministério das Infra-Estruturas e Habitação para pedir explicações sobre estes atrasos. Mas não passaram do hall de entrada do ministério.

“Contrariamente ao que aconteceu nas outras vezes em que fomos recebidos no ministério, com simpatia e abertura para abordar as questões da Linha do Oeste, desta vez não foi assim. A conversa começou na rua à porta do Ministério e só passou lá para dentro porque nós dissemos que não reuníamos na rua. Mesmo assim, disseram que não tinham gabinete para nos receber e foi no hall que acabámos por reunir”, contou Rui Raposo, dirigente daquela comissão cívica, acrescentando que os dois assessores de Pedro Nuno Santos que os receberam limitaram-se a receber o protesto da comissão, mas nada explicaram sobre a retoma dos trabalhos.

Em comunicado, este movimento cívico diz que “a ausência de resposta do ministro às nossas preocupações, fundamentadas numa avaliação muito objectiva da situação, só pode significar que aquele, enquanto membro do Governo, não quis assumir, perante a Comissão, um compromisso sobre os prazos para a conclusão das obras entre Meleças e Torres Vedras”.

De acordo com o Ferrovia 2020, as obras de modernização de metade da linha do Oeste (só foi contemplado o troço Meleças - Caldas da Rainha, relegando para o PNI2030 o troço a norte até Figueira da Foz e Alfarelos) deveriam ter decorrido entre Dezembro de 2017 e Junho de 2020. A IP decidiu dividir em duas esta metade da linha: entre Meleças e Torres Vedras e entre esta cidade e Caldas da Rainha.

Os trabalhos do primeiro sub-troço começaram em Novembro de 2020, mas foram interrompidos em Março de 2022, devido a desentendimentos entre o consórcio. Em Junho era assinada a consignação que marcava o início das obras no troço Torres Vedras – Caldas da Rainha e anunciado que o troço a sul seria retomado “nas próximas semanas”, o que não aconteceu.

Neste momento decorrem apenas os trabalhos entre Torres Vedras e Caldas da Rainha.

Previsto neste plano de modernização está o encerramento da linha entre Malveira e Torres Vedras para se poder rebaixar o túnel da Sapataria (concelho de Sobral de Monte Agraço) durante quatro meses. Mas a IP pretende aproveitar para encerrar na mesma altura também o troço entre Torres Vedras e Caldas da Rainha a fim de tentar recuperar o atraso nas obras e, num derradeiro esforço, procurar terminá-las antes de Dezembro de 2023.

Até hoje todos os encerramentos de linhas férreas por motivo de obras redundaram sempre no incumprimento dos prazos. O encerramento do troço Casa Branca – Évora era para durar 12 meses mas demorou 15; entre Caíde e Marco eram para ter sido três meses, mas foram quatro; o túnel do Rossio tinha uma previsão de 13 meses, mas esteve fechado 35; o troço Covilhã – Guarda demorou 12 anos a reabrir. Presentemente é a linha da Beira Alta, entre Pampilhosa e Guarda que está encerrada desde Abril. A modernização era para demorar nove meses, mas a IP não se compromete com nenhum prazo para a reabertura.

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