AOFA critica “desastre deliberadamente provocado” no Hospital das Forças Armadas

O hospital pode incorrer numa situação crítica se não for autorizada a contratação de prestação de serviços na modalidade de avença para o próximo ano de 222 profissionais.

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O hospital esteve na linha da frente do combate à pandemia Daniel Rocha

A Associação dos Oficiais das Forças Armadas (AOFA) criticou esta sexta-feira o "desastre deliberadamente provocado" pela gestão política do Hospital das Forças Armadas, em "iminente colapso", considerando que as dificuldades naquela instituição são "sintoma de relações muito doentes entre tutelas".

"Há muito que se tentam mascarar as dificuldades do Sistema de Saúde Militar (SSM), organização de que o Hospital das Forças Armadas (HFAR) é a face mais visível. O que está a acontecer no HFAR é apenas um vislumbre da gestão política desta instituição e, em concomitância, do SSM: um desastre deliberadamente provocado", critica a associação em comunicado enviado.

Para a AOFA, as recentes notícias sobre a falta de pessoal que dão conta "do iminente colapso do HFAR" não são muito surpreendentes. "Este "novo" ataque ao HFAR, agora a coberto das vicissitudes administrativas da autorização para renovar contratos de centenas de trabalhadores, é apenas mais um episódio da subordinação das condições profissionais, humanas e sociais às habilidades do controle da despesa e do défice, mas, também, é sintoma de relações muito doentes entre tutelas", acusa.

Lamentando a "permanente aflição para garantir meios humanos, equipamentos e infra-estruturas à altura das missões que lhe são atribuídas", os oficiais referem que "há muito que se conhecem as medidas que se impõem" para esta instituição.

"Sem dotar os quadros do HFAR com o pessoal técnica e legalmente previsto, as únicas garantias futuras são a manutenção desta política de desinvestimento na saúde militar, a precariedade dos postos de trabalho como "solução" para graves problemas estruturais e o caos social e administrativo como ambiente reinante, pelo que, os anos vindouros, serão sempre de perda", avisa a associação.

A instabilidade no HFAR, de acordo com o comunicado, "torna ainda mais clara a importância do crescimento da luta socioprofissional pelos legítimos direitos dos militares, uma vez que resultam da lei e, por isso, terão nos militares indivíduos sempre dispostos a continuar a lutar pela sua defesa".

"De arrogância financeira e de impertinência administrativa já estamos mais que fartos! Haja vergonha! Na luta pela defesa da Instituição Militar, dos Militares que nela servem e da condição militar que lhes assiste, é bom que se habituem a contar com a AOFA", conclui.

O ex-director do Hospital Militar de Belém Esmeraldo Alfarroba disse na quinta-feira que a falta de pessoal no Hospital das Forças Armadas "não é nova" e apelou ao Governo e ao Presidente da República para resolverem a situação.

O médico pneumologista, que foi director do Hospital Militar de Belém entre 1998 e 2002 e do Hospital Militar Principal entre 2008 e 2009, lamentou os dados hoje avançados pelo DN e Correio da Manhã, aos quais a Lusa teve hoje acesso, segundo os quais o HFAR - com pólos em Lisboa e Porto - pode incorrer numa situação crítica "se não for autorizada a contratação de prestação de serviços na modalidade de avença" para o próximo ano de 222 profissionais "que representam cerca de 15% do universo de 1.400 trabalhadores do HFAR".

Pedindo ao Governo que resolva a situação, o general apelou também ao Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas, Marcelo Rebelo de Sousa, destacando que os militares estiveram na primeira linha do combate à covid-19.

Questionado pela agência Lusa, o Ministério da Defesa Nacional respondeu que "os contratos relativos aos processos do pessoal médico e de enfermagem foram já autorizados" e acrescenta que "está a envidar todos os esforços junto das outras áreas governativas competentes, em articulação com a direcção do HFAR e o Estado-Maior-General das Forças Armadas, com vista à autorização dos restantes processos".

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