Na Jordânia planeia-se uma “cidade turística” junto ao local do Baptismo de Jesus

Perto do sítio onde se crê que Jesus foi baptizado por João Baptista, na actual Jordânia, o projecto prevê hotéis, lojas, trilhos, jardins botânicos. Para atrair milhões de peregrinos e turistas.

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Uma família de refugiados iraquianos baptiza a filha de três anos, Anita, depois de uma missa na igreja de São João Baptista, Jordânia (2018) REUTERS/Muhammad Hamed
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Um soldado jordano no Local do Baptismo de Jesus no Vale do Jordão, Jordânia, fotografado na semana passsada Reuters/JEHAD SHELBAK
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Vista geral do local de Baptismo de Jesus, Jordânia (2018) REUTERS/Muhammad Hamed
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Peregrinos chegam para uma missa na igreja de São João Baptista, Jordânia (2019) REUTERS/Muhammad Hamed
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Peregrinos enchem garrafas com água que os crentes consideram santa no rio Jordão REUTERS/Muhammad Hamed
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Betânia Além-Jordão (Al-Maghtas), igrejas construídas na área pelo séc V d.C. Simon Balian/Baptism Site Commission
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Pia baptismal Simon Balian/Baptism Site Commission
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Colunas de madeira e mosaicos Baptism Site Commission
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Tell Al-Kharrar (o Monte de Elias) Simon Balian/Baptism Site Commission
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A basílica Baptism Site Commission
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Gruta junto ao local do baptismo Baptism Site Commission
Local do Batismo de Jesus Cristo
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Igreja do Arco (igreja João paulo II) Baptism Site Commission

Ao longo dos séculos, tem havido todos os anos milhares de peregrinos a viajarem para o local chamado de Betânia do Além-Jordão, na Jordânia, na margem oriental do rio Jordão, ponto que os cristãos acreditam ser o exacto local onde Jesus foi baptizado.

Este número poderá aumentar para um milhão de visitantes por ano caso avance o projecto de construir uma "cidade turística" adjacente a este sítio Património Mundial da UNESCO. Trata-se da proposta de um projecto – faseado em seis anos, estimado em 300 milhões de dólares (cerca de 282 milhões de euros).

Entre os que se reuniram na margem do rio na semana passada, para assistirem à apresentação da proposta, encontravam-se o rei Abdullah da Jordânia e o patriarca maronita do Líbano Bechara Boutros Al-Rai, além de arquitectos, curadores de museus e investidores.

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Um "baptismo" no rio Jordão, no sítio Qasr el-Yahud, perto de Jericó, na Cisjordânia, ocupada por Israel - uma foto captada o Vale do Jordão, Jordânia REUTERS/Jehad Shelbak

Os responsáveis pelo projecto esperam que com lojas de souvenirs e trilhos pedestres, hotéis boutique e jardins botânicos, o local – que se encontra fora dos limites formais da área do baptismo – venha a atrair cinco vezes mais visitantes do que os actuais 200 mil por ano. E defendem que ajudará a preservar a decrescente presença cristã da região.

Contudo, o projecto ainda necessita de financiamento, e está a ser apresentado aos líderes cristãos de todas as denominações do Médio Oriente e não só, na esperança de que ajude a atrair as contribuições de doadores, investidores e igrejas.

O rei Abdullah tem sido elogiado pelos líderes cristãos por fomentar a harmonia religiosa na população maioritariamente muçulmana da Jordânia, oferecendo terras a igrejas e centros de peregrinação.

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Vista geral da zona com o local do Baptismo de Jesus no rio Jordão, Jordânia (2018) REUTERS/Muhammad Hamed

"Isto ajuda os cristãos do Médio Oriente a preservar a sua presença e o seu credo", disse Al-Rai, que é o principal clérigo cristão do Líbano, à Reuters após uma cerimónia que contou com a presença do monarca e onde foi revelado o plano director do projecto. Betânia do Além-Jordão, a cerca de 50 km a oeste de Amã, é um local mencionado no Evangelho segundo São João como o lugar onde João Baptista baptizou Jesus.

Extensas escavações desde meados dos anos de 1990 têm desenterrado ruínas de igrejas, piscinas baptismais e grutas que mostram que era já um local de peregrinação cristã no século IV.

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O arquitecto Kamal Mahadin apresenta o plano de desenvolvimento do local do Baptismo de Jesus REUTERS/Jehad Shelbak

Nos últimos anos, a construção não regulamentada de enormes edifícios e igrejas por igrejas concorrentes alterou a paisagem outrora imaculada.

Os responsáveis pelo projecto dizem que o seu objectivo é preservar o local e a sua história antiga. "Estamos a falar de pedras rústicas e seixos em desenhos arquitectónicos que preservam a natureza primitiva do local e asseguram que a santidade e espiritualidade que existiam há 2000 anos não serão pisoteadas por nenhum desenvolvimento" urbano, disse Kamel Mahadin, o arquitecto de 67 anos por trás dos projectos e que apresentou o plano director.

"Não estamos a falar de uma paisagem futurista high tech", comentou. Mahadin tinha antes guiado clérigos e possíveis financiadores pelas planícies montanhosas circundantes, deixando alguns deles fascinados.

"A extraordinária ressonância desta paisagem, e o significado do evento na história da Humanidade, abalam-nos até ao fundo da alma", disse John Booth, presidente da National Gallery britânica, que assistiu à apresentação.

Samir Murad, um antigo ministro e empresário que preside à fundação independente sem fins lucrativos criada por lei para supervisionar o projecto, disse que não seriam usados fundos estatais nem vendidos terrenos a investidores estrangeiros.

As suas promessas destinam-se a dissipar os receios de especulação e sobrecomercialização, embora alguns se mantenham cépticos.

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Peregrinos chegam para uma missa na Igreja de João Baptista perto do local do Baptismo de Jesus (2017) REUTERS/Muhammad Hamed

O investigador evangélico baptista jordano Philiph Madanat diz que devem ser implementadas directrizes rigorosas para garantir a transparência e evitar o abuso de fundos, dado que seria o primeiro sítio cristão gerador de dinheiro do reino.

"Esta é uma tentativa de usurpar o espírito religioso." É inédito ter um sítio sagrado cristão deste tipo utilizado para tal fim na Jordânia", acrescentou Madanat.

O sobredesenvolvimento futuro alteraria um habitat selvagem que tem sido em grande parte deixado intacto desde tempos bíblicos.

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Vista geral da Igreja Ortodoxa Russa e Igreja de João Baptista (esq.) perto do local do Baptismo de Jesus (2018) REUTERS/MUHAMMAD HAMED
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Vista geral da Igreja Luterana, perto do local do Baptismo de Jesus (2018) REUTERS/Muhammad Hamed

Camelos e ovelhas pastam numa paisagem salpicada de tamargueiras e diospireiros em cenas que se mantêm inalteradas desde há 2000 anos, e alguns clérigos dizem que é assim que deve permanecer, insistindo na santidade do local.

Mas para outros líderes da igreja local e da Jordânia em geral, os peregrinos de todo o mundo trariam receitas muito necessárias num país onde o turismo representa actualmente cerca de 20% da economia.

O Banco Mundial defende que o ressurgimento do turismo pós-covid ajudaria a impulsionar a recuperação económica da Jordânia da crise dos últimos anos.

"Conduzirá à prosperidade quando os turistas, que virão comprar souvenirs e adquirir serviços, ajudarem assim a comunidade local e o país em geral", disse o padre Ibrahim Dabbour, secretário-geral da Assembleia dos líderes cristãos da Jordânia que representa todas as denominações.

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