Cartas ao director

Uma crise pouco clara

A crise do SNS faz-se sentir pelo desconforto e pela insatisfação dos que, em situações de muito diversa gravidade e premência, recorrem aos hospitais, e isso basta para ser levada a sério. Mas convinha que fosse explicada com clareza. São os médicos e enfermeiros que se reformam e não são admitidos outros para os substituírem (culpa do Governo avarento)? São os médicos que se passam para os hospitais privados, deixando o serviço público e mudando para o negócio? São os enfermeiros – cujo estatuto remuneratório é simplesmente vergonhoso – que emigram para terem vida condigna? São os critérios de preferência partidária que colocam nos serviços hospitalares dirigentes sem competências de organização e de gestão de recursos? São restrições orçamentais e/ou complicações burocráticas que impedem aquisições de equipamento e de consumíveis na proporção da afluência aos hospitais e aos centros de saúde? É a falta de dinheiro para aumentar em tamanho as instalações hospitalares ou para criar condições melhores nas actuais?

Se a questão se põe em termos de concorrência público/privado, o SNS está perdido a médio prazo. Os hospitais privados são imbatíveis em matéria de instalações. Têm um pé solidamente implantado nos seguros das classes média e alta, e o outro bem fincado no suprimento das insuficiências do SNS, que lhes paga pela tabela respectiva. Esta curiosa, mas atípica, modalidade de parceria público-privado só pode acabar mal para o serviço público.

António Monteiro Fernandes, Lisboa

Inundações em Lisboa e arredores

Em 1967, o salazarismo ocultou com a sua nefanda censura que tinham morrido centenas de pessoas em Lisboa e arredores. Seria curial que tivessem sido feitos os trabalhos necessários para acabar com estes desastres. Já depois disso, várias ameaças têm ocorrido, mas nada foi feito. Este país acredita que os deuses nos altares resolvem os nossos problemas, e Lisboa acredita piamente nos milagres do Santo António...

O resultado está à vista. Ontem morreu apenas uma mulher que, na sua pobreza, viva numa cave. Desde 1968, nada foi feito… Qual será a explicação? Este país está dominado pela trilogia de Fátima, fado e futebol. Para o show-off há sempre dinheiro. No meio destes desastres, nem os autarcas aparecem para falar com os lesados...

Telmo Vieira, Lisboa

Ditaduras e manifestações

A China tem um regime totalitário com forte repressão sobre os opositores ao regime e censura cerrada. No entanto, a propósito dos confinamentos severos que o Governo quer continuar a impor, os cidadãos vieram para a rua protestar. A polícia interveio como é costume, mas o Governo começou a fazer marcha-atrás nas regras de confinamento.

O Irão também tem um regime totalitário que, como é usual, vem acompanhado de medidas de censura. Mas a morte de uma jovem por não trazer o véu islâmico segundo as regras levou a grandes manifestações de protesto em várias cidades. Houve rumores de que a “polícia de bons costumes” iria acabar, mas não se sabe ainda o resultado final. Que o regime tremeu, é um facto.

A Rússia é uma ditadura como as outras atrás referidas, com a mesma censura apertada e com perseguições aos opositores. Começou uma guerra contra a Ucrânia sem qualquer justificação e estreando um tipo de guerra contra civis e infra-estruturas civis com intensidade nunca antes vista. Nenhuma manifestação ocorreu em qualquer cidade russa! Será a repressão russa muito superior à chinesa e à iraniana, ou os russos não estão nada incomodados com a guerra que o seu país faz à Ucrânia? Não sei, mas aposto na segunda hipótese.

Carlos Anjos, Lisboa

Voltaram as greves na TAP

É mesmo verdade: voltaram as greves da TAP. Recordo, todavia, que as últimas greves na TAP se realizaram em 2015 pelos pilotos e, em 2014, pelo pessoal da cabine. Depois, a empresa foi privatizada e as greves simplesmente acabaram, mas, agora que o Governo resolveu salvar a TAP da falência, os trabalhadores desta empresa resolvem, pensando talvez que ainda estão no tempo em que faziam o que queriam, aniquilar a TAP. Será que mereciam que o Governo deixasse a TAP falir? Provavelmente, sim.

Manuel Morato Gomes, Senhora da Hora

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