Cartas ao director

João Miguel Tavares, o Simplício

João Miguel Tavares (J.M.T.)sabe muito bem, apesar da sua veia liberal que vem explorando, que o factor produção é que cria a riqueza de um país. Ao Estado cabe assegurar o básico e o inalienável ao privado, a segurança, a saúde, a justiça e a educação.

Em tudo o resto, a criação de riqueza deveria ter um papel regulador, mais ou menos interventivo para assegurar a justiça social. É que às vezes o liberalismo abstracto resvala muito rapidamente para o capitalismo selvagem. Mas em Portugal o maior empregador é o Estado, administração pública directa e indirecta e claro, como convém, a incipiente iniciativa privada anda sempre de mão estendida ao Governo! Logo o elemento que J.M.T. se esqueceu de mencionar [no seu artigo de 1 de Dezembro] é a produção de riqueza, a indústria, a agricultura, mas para isso o Estado tinha de emagrecer e muita gente mudar de mentalidade.

Maria Silva, Lisboa

Seguros de morte

Tenho 75 anos, vou viajar e, como sempre fiz, quis comprar um seguro de viagem. É impossível. A minha idade só dá direito a seguros de morte pagos a peso de ouro. Resumindo: se sofrer um acidente ou uma doença súbita e morrer imediatamente, terei o cadáver em Portugal e o funeral pago. Mas se morrer alguns dias depois do acidente ou carecer de cuidados no evoluir da doença súbita, não tenho cobertura para os custos associados. Só quando morrer é que a seguradora dará todo o apoio ao cadáver repondo-o em Portugal. País cada vez mais envelhecido e onde se pretende que este processo biológico se faça com qualidade de vida e actividades promotoras de saúde. Como o será passear-viajar.

O bem-estar dos clientes mais velhos não tem crédito para as seguradoras que vendem seguros de vida aos jovens como complemento dos apoios de saúde individuais criados pelo Estado-Providência. Os quais, muitas vezes, até são pagos por este, pelo menos parcialmente, aos prestadores. Mas quando a idade avança e seja qual for o estado de sanidade física e mental do potencial cliente, a seguradora inventa uma meta e define que a partir dela o que tem de vender são seguros de morte. Cumprirão estas empresas o dever social de responsabilidade partilhada que é padrão da vida colectiva nas nossas sociedades complexas?

M. M. Camilo Sequeira, Algés

Novo aeroporto de Lisboa: serve a quem?

No seu editorial de 29/11 sobre a construção do novo aeroporto de Lisboa, o Sr. Director referiu-se-lhe como sendo um aeroporto “que serve a capital”. Na verdade, o aeroporto localizado em Lisboa serve mais de meio país. Das cinco regiões em que agora se divide o país, três delas são servidas por este aeroporto, Grande Lisboa, Alentejo e Centro. O Porto serve todo o Norte até Coimbra e Faro todo o Algarve. É por isso estranho que só se fale em localizações e nunca se discuta se uma nova infra-estrutura em Lisboa, que custa milhões ao país, é a solução adequada para o desenvolvimento daquelas regiões, ou se, porventura, uma solução que passasse pela manutenção e melhoria da actual infra-estrutura da Portela, complementada com o aeroporto de Beja e o aeroporto de Monte Real (Leiria), potenciaria muito maiso desenvolvimento de toda esta vasta região, que vai de Beja a Coimbra. A descentralização também devia passar por aqui.

J. Sequeira, Lisboa

Imigração e direitos humanos

Temos muitas razões para estarmos orgulhosos de nós próprios porque ao longo da nossa história fomos e somos um povo de grandes feitos, onde muitos cidadãos são verdadeiros vencedores, contornando os mais variados obstáculos para conseguir ultrapassar as dificuldades do dia-a-dia e que decorrem de alterações sociais e que tornam impossível o planeamento e certezas no futuro.

Contrastando com uma rica história portuguesa, fazemos história também pelas piores razões quando condenamos a violação dos direitos humanos noutros países, mas somos incapazes de legislar contra a violação dos mesmos dentro das nossas fronteiras, quando uma teia de influências que permite a existência de empresas de trabalho temporário que exploram mão-de-obra barata e maltratando seres humanos que procurando uma vida melhor se vêem confrontados com a violação dos seus direitos.

A imigração ilegal decorre da procura dos cidadãos visados, de uma vida melhor, mas um país que arvora a bandeira dos direitos humanos não deveria permitir a violação dos mesmos, quando acolhe as pessoas, sem garantir que são respeitados os seus direitos, correndo o risco de se tornar também um país que arvora também a bandeira da hipocrisia.

Américo Lourenço, Sines

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