Milhares de gatos e cães retirados das ruas de Doha antes do Mundial, dizem ONG

Entidades questionam onde estão os animais, mas não têm reposta das autoridades.

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Doha sempre teve mais gatos nas áreas urbanas Marko Djurica/Reuters

As associações que resgatam gatos e cães em Doha, no Qatar, afirmam que milhares de animais foram retirados das ruas da capital nos meses anteriores ao início do Campeonato do Mundo.

Uma activista diz ter sido ameaçada com prisão por ter reclamado a propósito da falta de informações sobre o destino destes animais.

Elementos de duas ONG falaram sobre o assunto com a Folha de São Paulo sob anonimato, através de WhatsApp e e-mail. As organizações têm dificuldade em sobreviver financeiramente no país porque, segundo as leis do Qatar, é proibido pedir doações.

A única entidade de protecção de animais que funciona legalmente na região é a Paws Rescue Qatar. Mas está registada no Reino Unido.

Uma das duas ONG que conversaram com a Folha é dirigida por estrangeiros que temem ser deportados se comentarem publicamente o assunto.

A Folha contactou o Departamento de Resgate de Animais, através do Ministério do Meio Ambiente do Qatar, e questionou, por email, onde estão os animais que foram retirados das ruas nos meses anteriores ao torneio da FIFA, e se esta medida foi tomada por causa da competição de futebol. Até a publicação deste texto, não teve resposta.

Uma das entidades afirma que só o ministério pode dar um número exacto de quantos gatos e cães foram retirados das ruas. As ONG estimam que tenham sido cerca de cinco mil cães. Os gatos são “muito mais do que isso”, asseguram.

Além disto, acrescentam, Doha não tem abrigo para gatos, o que torna tudo mais preocupante. “Nos meses anteriores ao Campeonato do Mundo, havia muito mais gatos e cães nas ruas, principalmente gatos. Foram capturados pelo departamento de controlo de pestes, e não está claro o destino dos animais”, declarou o representante de uma das organizações.

Outra ONG afirma que os defensores dos animais não têm entrada permitida em lugares como Rawdat Al Faras, um abrigo para cães, e acrescenta que todos os dias têm sido levados mais cães e gatos. “Eles continuam a levá-los e a dizer que estão a ser bem tratados. Como é que eles têm a estrutura e veterinários para isso é algo que não compreendo”, diz uma activista. Segundo esta fonte, mostram aos jornalistas um abrigo chamado Mazrooha, mas o número de cães que lá estão é reduzido e não reflecte a realidade.

A cidade de Doha tem mais gatos. Não se encontram cães nas áreas mais urbanas. Segundo as ONG de defesa dos animais, estes últimos concentram-se mais nas zonas industriais.

As estimativas de 2016 afirmam que há cerca de três milhões de gatos no Qatar, o que representaria, praticamente, um para cada habitante do país, mas o Governo do país não confirma estes dados. Há também uma discussão entre especialistas do islamismo, religião oficial da região, sobre se os cães são impuros e, por isso, não devem ser criados em residências.

É necessária uma licença do Governo para ter um gato ou um cão em casa. Estes últimos não são, geralmente, permitidos em locais públicos. Podem ser levados pelos donos a algumas praias sinalizadas, desde que estejam com trela. Há 14 raças banidas no país, entre as quais boxer, buldogue, doberman e rottweiler.

Antes do Mundial, a quantidade de gatos de rua surpreendia os turistas porque, nas áreas urbanas, estavam em todo o lado. Eram alimentados e recebiam água dos visitantes. E a imagem de os carros pararem no meio do trânsito para os cães passarem, algo comum no mundo ocidental, acontecia em Doha com os gatos.

De acordo com as organizações ouvidas, a retirada dos animais intensificou-se com a proximidade do Mundial. Segundo estas entidades, nos primeiros contactos, as autoridades asseguraram que os animais eram bem cuidados, mas as instituições questionam-no.


Exclusivo PÚBLICO/Folha de S. Paulo ​
Nota do editor: o PÚBLICO respeitou a composição do texto original, com excepção de algumas palavras ou expressões não usadas em português de Portugal

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