Fraude de 2200 milhões de euros no IVA leva a buscas em 14 países

Em Portugal, a PJ deteve 14 pessoas ligadas a esta rede transnacional e realizou cerca de 100 buscas. Investigação está a ser dirigida pela nova Procuradoria Europeia.

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Detenções foram feitas no âmbito de mega-operação com buscas em 14 países europeus Fábio Augusto

Uma fraude no IVA que terá causado um prejuízo no valor de 2200 milhões de euros aos contribuintes europeus justificou uma mega-operação de buscas em Portugal e mais 13 países da União Europeia. Em Portugal, foram detidas esta terça-feira 14 pessoas e realizadas cerca de 100 buscas, que resultaram na apreensão de dinheiro com valor superior a dois milhões de euros, viaturas automóveis e outros bens de luxo.

Foram ainda confiscadas 47 propriedades e cerca de 600 contas bancárias nacionais.

As informações constam de dois comunicados, um divulgado pela Procuradoria Europeia (PE), que dirige o inquérito, e outro pela Polícia Judiciária, que está a investigar, em conjunto com a administração tributária este caso. Em causa estão suspeitas da prática de crimes de associação criminosa, fraude fiscal e branqueamento.

A PE acredita que esta será “a maior fraude carrossel em matéria de IVA jamais investigada na União Europeia”.

Tudo começou em Abril do ano passado, quando a autoridade fiscal portuguesa estava a investigar uma empresa que vendia telemóveis, tablets, auscultadores e outros dispositivos electrónicos, por suspeita de fraude com o IVA.

Quando a PE iniciou as suas operações, em Junho do ano passado, as autoridades portuguesas comunicaram-lhe o caso, como estavam obrigadas, e a Delegação do Porto da Procuradoria Europeia passou a dirigir o inquérito.

Nove mil entidades envolvidas

Com base na investigação administrativa, a facturação e as declarações fiscais pareciam estar em ordem. No entanto, uma investigação conjunta de vários procuradores europeus delegados, analistas de fraude financeira, representantes da Europol e de autoridades nacionais permitiu estabelecer “gradualmente ligações entre a empresa suspeita em Portugal e cerca de 9000 outras entidades jurídicas, e mais de 600 pessoas singulares localizadas em diferentes países”, diz a nota da PE.

No esquema, que deu origem a várias investigações em países da UE, estarão envolvidas várias dezenas de empresas portuguesas, todas de pequena dimensão.

Esta terça-feira foram ainda realizadas diligências de recolha de prova na Bélgica, Chipre, França, Alemanha, Grécia, Hungria, Itália, Lituânia, Luxemburgo, Países Baixos, Roménia, Eslováquia e Espanha. No conjunto foram mais de 200 buscas, quase metade das quais se realizaram em Portugal, o país que teve um papel central na descoberta nesta teia criminosa. Segundo o PÚBLICO apurou apenas houve detidos em Portugal, que vão ser presentes esta quarta-feira a um juiz no Tribunal de Instrução Criminal do Porto, para primeiro interrogatório judicial e aplicação das respectivas medidas de coacção.

No âmbito desta investigação, já tinham sido realizadas outras diligências na República Checa, Hungria, Itália, Países Baixos, Eslováquia e Suécia nos passados dias 12 e 13 de Outubro.

Apesar das operações se terem concentrado em 16 países da União Europeia, as actividades criminosas estarão espalhadas pelos 22 Estados-membros que aderiram à PE, bem como pela Hungria, Irlanda, Suécia e Polónia, juntamente com países terceiros, incluindo Albânia, China, Maurícias, Sérvia, Singapura, Suíça, Turquia, Emiratos Árabes Unidos, Reino Unido e Estados Unidos.

A nota da Procuradoria Europeia sublinha que o que faz sobressair esta fraude carrossel do IVA é a extraordinária complexidade da cadeia de empresas. “Desde as empresas que actuam como fornecedores aparentemente limpos de dispositivos electrónicos, e aquelas que reclamam o reembolso do IVA às autoridades fiscais nacionais, enquanto vendem estes dispositivos em linha a clientes individuais - e posteriormente canalizam o produto destas vendas offshore, antes de desaparecerem elas próprias - para aqueles que lavam o produto desta actividade criminosa”, lê-se na nota.

A PE sublinha que o esquema envolve vários grupos de crime organizado altamente qualificados, cada um com papéis específicos. “Trabalhando transnacionalmente, quase com uma lógica industrial, há anos que têm vindo a evitar a sua detecção”, refere a o organismo europeu. A PJ revela, por seu lado, que o esquema passava pela constituição sucessiva de uma complexa cadeia de empresas, a maior parte das quais dedicadas à venda de equipamentos informáticos em plataformas online.

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