Gaslighting é a palavra do ano, diz dicionário Merriam-Webster

Termo é utilizado para definir um tipo de manipulação psicológica. Palavra surgiu em 1938 numa peça teatral.

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O dicionário Merriam-Webster escolheu esta segunda-feira aquela que considera a palavra do ano de 2022: gaslighting.

Sem equivalente em português, o termo é descrito pelo mais famoso dos dicionários americanos como “manipulação psicológica de uma pessoa, geralmente por um longo período de tempo, o que faz com que a vítima questione a validade dos seus próprios pensamentos”.

O Merriam-Webster aponta, no entanto, que o significado de gaslighting se tornou nos últimos anos ao mesmo tempo mais amplo e mais simples: “Acto ou prática de enganar grosseiramente alguém, especialmente para vantagem pessoal”. Segundo o dicionário, houve aumento de 1.740% das pesquisas de gaslighting em 2022.

A palavra surgiu em 1938 numa peça teatral do dramaturgo britânico Patrick Hamilton. Na trama, que serviu de inspiração para a última obra escrita por Jô Soares, um homem tenta fazer a sua esposa acreditar que está a enlouquecer quando ela aponta que a intensidade das luzes da casa está a diminuir.

A impressão da mulher estava correcta — o efeito sobre as luzes era provocado por actividades misteriosas do marido no sótão —, mas o homem insistia em negar qualquer alteração e tentava convencê-la de que ela não deveria confiar nas suas percepções.

Nesse contexto, o termo gaslighting é frequentemente utilizado para se referir a um tipo de violência de género — a manipulação psicológica de mulheres pelos seus parceiros —, embora essa definição não seja citada pelo Merriam-Webster.

“Ao contrário da mentira, que tende a ocorrer entre indivíduos, e da fraude, que tende a envolver organizações, o gaslighting aplica-se tanto a contextos pessoais quanto políticos”, diz o comunicado divulgado no site oficial do dicionário.

O Merriam-Webster exemplifica alguns usos da palavra; o gaslighting médico, em que profissionais da saúde desdenham ou minimizam relatos dos pacientes; o gaslighting como forma de fugir de discussões e nunca admitir erros; e o gaslighting de empresas de combustíveis fósseis que se vendem como parte da solução da crise climática sem alterar os seus modelos de negócio.

“Nos últimos anos, com o grande aumento de canais e de tecnologias utilizadas para enganar, gaslighting tornou-se a palavra preferida para a percepção de engano”, diz o Merriam-Webster. “É por isso que ganhou o lugar como a nossa palavra do ano.”

No início deste mês, o dicionário Collins também escolheu uma palavra para o ano de 2022. No caso da publicação britânica, a escolha foi “permacrise”, termo que descreve a sensação de viver em um período prolongado de instabilidade e insegurança.

A palavra foi usada pela primeira vez no ambiente académico em 1970, mas proliferou em citações nos últimos meses devido a eventos como a Guerra da Ucrânia, a subida dos preços na Europa e a crise climática.


Exclusivo PÚBLICO/Folha de S. Paulo ​
Nota do editor: o PÚBLICO respeitou a composição do texto original, com excepção de algumas palavras ou expressões não usadas em português de Portugal

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