Raquel e André criaram uma marca portuguesa de café sustentável, do grão à cápsula

O avô era comerciante de café e daquelas memórias aromáticas de infância ficou uma paixão. Na pandemia, Raquel e André decidiram criar a Kukken, marca de café biológico e embalagens biodegradáveis.

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André (esquerda) e Raquel (direita) numa plantação de café DR
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A Kukken foi lançada oficialmente em Julho de 2022 DR
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Tem cinco produtos: três lotes para cápsulas e dois em grão DR

O avô José Pinto era distribuidor e comerciante de café e Raquel e André Costa cresceram com aquele “cheirinho” a grãos torrados e café moído. Das memórias de infância ficou “este bichinho”, “esta paixão”. “Sempre quisemos ter alguma coisa ligada ao café”, recorda Raquel à Fugas.

A pandemia foi o empurrão que faltava para que os dois irmãos, Raquel formada em Ciências da Informação e André piloto de aviação, se lançassem num projecto conjunto, que é tanto uma homenagem ao avô quanto um passo em frente: uma marca própria de café que procura ser uma solução mais sustentável, do grão à embalagem.

“Quisemos trazer e adaptar as nossas memórias de infância a um conceito mais urbano e adaptado às exigências do mercado actual”, conta. Queriam criar um projecto que se inspirasse no legado familiar mas que, ao mesmo tempo, olhasse para “o aumento muito grande do consumo de café em cápsulas”, por exemplo, e que oferecesse uma alternativa “bem mais sustentável” àquilo que existe no mercado. Assim nascia a Kukken, lançada oficialmente em Julho deste ano, depois de mais de um ano de pesquisas e desenvolvimento.

O nome é mais uma homenagem ao avô materno e às memórias de família. “Numa viagem à Dinamarca, eu e o meu irmão estávamos a tentar explicar o sobrenome e disseram-nos que Pinto era ‘kukken’, literalmente pintainho”, recorda. “Uma vez que o nosso gosto pelo café e todas as nossas memórias remontavam àquilo que o nosso avô nos deixou, nada melhor do que deixar este nome para também dar um pouco de continuidade ao seu legado.”

De café, tudo o que conheciam até se lançarem no projecto eram os aromas da infância, as histórias do avô e a experiência enquanto consumidores. “Nunca tínhamos trabalhado com café. Foi uma descoberta, uma experiência totalmente nova”, recorda Raquel. Durante um mês, os dois irmãos viajaram pela América do Sul, entre o Peru e o Brasil, para “conhecer as origens” dos grãos e procurar fornecedores. Visitaram pequenos produtores e cooperativas com certificação biológica, unidades de torrefacção, e terminaram no Brasil, com uma formação sobre “torras, provas de café e escolha de grãos”.

“Ver a transformação de um simples bago vermelho, depois de seco, ficar num grão sem cheiro, sem paladar e conseguirmos, através da torra, transformá-lo num produto de excelência, num produto consensual em quase todo o mundo, fascina-nos imenso”, conta Raquel, actualmente dedicada a 100% ao projecto, enquanto o irmão regressou à aviação, mantendo-se parcialmente na Kukken.

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Existem dois lotes em grão à venda: Príncipe (80% de variedade Arábica e 20% de variedade Robusta) e Loreto (100% Arábica) DR
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E três embalagens de cápsulas: 100% Arábica, do Peru; 100% Arábica, das Honduras; e um blend composto por 40% de cada um dos anteriores e 20% de variedade Robusta, da Tanzânia DR

Para já, a empresa tem cinco lotes no mercado, à venda no site da marca e em cerca de 50 lojas do país, “desde Vila Praia de Âncora a Vila Real de Santo António”: duas embalagens de café em grão, e três em cápsulas, compatíveis com as máquinas da Nespresso. Todos feitos a partir de grãos importados de produções biológicas certificadas, do Peru, Honduras e Tanzânia, que depois, já nas instalações da Kukken em Lousada, são torrados e acondicionados em embalagens biodegradáveis, feitas à base de amido de milho e cana-de-açúcar, sem recurso a plástico ou alumínio.

De acordo com Raquel, serão “a única marca no país que vende café em grão neste tipo de embalagens”, o mesmo que utilizam para acomodar as cápsulas, em alternativa às habituais caixas compridas de cartão. “Fizemos bastante pesquisa pela Europa e detectámos que o café em cápsulas biodegradáveis e compostáveis que normalmente vem nessas caixas não estava bom quando provávamos”, conta Raquel. Uma vez que o cartão não é uma boa “barreira ao oxigénio nem à luz”, o café fica “oxidado” e “perde as características”, defende. “Queríamos ter uma solução ecologicamente responsável mas que garantisse a qualidade do nosso produto.”

Além de criar “uma barreira ao oxigénio e à luz de quase 100%”, tanto as embalagens quanto as cápsulas têm certificação de compostagem industrial, podendo ficar “decompostas em 90 dias”. Os testes que fizeram em compostagem doméstica também têm apresentado resultados promissores: as cápsulas, em compostor eléctrico, ficaram “completamente desintegradas ao fim de cinco dias”, enquanto as embalagens dissolveram-se “ao fim de cinco semanas” num vermicompostor.

A ideia passa agora por trabalhar em microlotes para criar novas edições limitadas, incluindo café biológico produzido no Brasil (“neste momento, estamos a fazer a selecção desses grãos”), e lançar um novo formato de cápsula compatível com as máquinas Dolce Gusto. Com as novas cápsulas chega também outra novidade: chocolate biológico para aquecer o Inverno. O pré-lançamento será feito nas próximas semanas, em dois mercados de Natal onde a Kukken marcará presença: de 26 de Novembro a 6 de Janeiro, no WOW, em Vila Nova de Gaia; e no primeiro fim-de-semana de Dezembro no Parque de Serralves, no Porto.

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