À cautela, o melhor é “roubar” o pé esquerdo a Ayew

O jogador mais renomado do Gana joga aqui, em Doha, e o PÚBLICO falou com quem o conhece bem. O capitão do adversário de Portugal é alguém querido e gentil, menos quando pode usar o pé canhoto.

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André Ayew na conferência de imprensa de antecipação ao jogo contra Portugal EPA/ALI HAIDER

André Ayew é o jogador mais proeminente da selecção do Gana. Pode já não ser o mais capaz dos 26 convocados, mas, numa análise mista entre reconhecimento, fama, liderança, feitos passados e capacidade actual, é o jogador mais renomado e líder desta equipa africana, seguindo o exemplo do pai, o famoso Abedi Pelé.

E o que vale este jogador? Que problemas poderá trazer? O PÚBLICO falou com Adriano Teixeira, analista que vive e trabalha no Qatar, no Al Sadd, clube em que joga Ayew.

O primeiro aspecto a destacar é que não podemos chamar-lhe ponta-de-lança. Actualmente, se calhar até nem avançado podemos chamar-lhe. Aos 32 anos, Ayew tornou-se mais um atacante, conceito que englobará com melhor rigor aquilo que o jogador oferece ao jogo.

Durante anos, habituámo-nos a ver Ayew, na Liga inglesa, como um ponta-de-lança fã de diagonais longas e de exploração do espaço em profundidade. Hoje, não é bem isso que o define.

“Sim, no início da carreira víamos um André que preferia esse registo de rupturas na profundidade, mais largas e em amplitude. Actualmente, ele mantém isso, mas é muito mais a jogar por fora, à direita. Opta por receber em largura, para conduzir para zonas interiores – quer para conduzir para dentro e servir em profundidade, quer para se enquadrar para o remate. E quando faz isto é muito forte, porque tem facilidade em rematar”, detalha Adriano Teixeira.

Isto quer dizer que Ayew será mais um problema de Raphaël Guerreiro do que de Pepe ou Rúben Dias? Adriano Teixeira crê que não, porque recorda que, pelo Gana, o jogador actua mais pela zona central, seja como ponta-de-lança, seja como segundo avançado.

Questionado sobre que predicados pode ter nessa posição, já que não é o jogador explosivo de outros tempos, o analista do Al Sadd repisou a questão do remate. “Ele é robusto e consegue receber em apoio, proteger, rodar e ficar de frente. Se conseguir receber e ficar de frente, com o pé forte orientado, é complicado de travar.”

Daqui sai uma receita clara para Portugal: à cautela, o melhor é “roubar” o pé esquerdo a Ayew, porque é dali que virão problemas.

Adriano Teixeira adverte que o ganês não tem um pé direito “cego” e que consegue usá-lo para receber, passar e mesmo para proteger a bola quando a tem no pé canhoto, mas o importante é mesmo “tirar-lhe” o pé esquerdo sempre que possível: “Quando conduz da direita para dentro, é muito importante tirar-lhe esse pé.”

“Como está a tua família?”

Actualmente, Ayew joga num nível competitivo diferente do do irmão, Jordan (Crystal Palace), ou do dos craques Iñaki Williams (cuja história de vida pode conhecer aqui), Partey (Arsenal) ou Kudus (em destaque na Champions, pelo Ajax).

Ainda assim, é André Ayew que define a música que a “banda” vai tocar. Capitão e principal líder da equipa, será o jogador à volta do qual tudo será montado, mesmo sendo, por estes dias, atleta de uma equipa qatari.

E esse lado de liderança não é sequer novo para o “trintão” do Al Sadd. Adriano Teixeira conta-nos que, com o estágio prolongado da selecção do Qatar antes do Mundial, a equipa ficou refém de 13 jogadores locais. E foi nessa altura que Ayew e outros estrangeiros deram um passo em frente para não deixarem a equipa sucumbir à integração repentina de vários jovens sem experiência.

“Ele tem valores excepcionais. Neste período era muito fácil deixar cair a toalha, mas não. Tal como outros estrangeiros, ajudou muito e eram os primeiros a manter toda a gente dentro do barco. Sentindo que não tínhamos os 13 qataris, não deixaram o grupo cair e integraram os jovens – que puderam crescer e vão ser muito válidos depois do Mundial.”

Adriano Teixeira contou ainda um detalhe curioso sobre quem é Ayew, o homem. “Quando estou com o André na primeira vez no dia, a primeira coisa que ele me pergunta é como está a minha família e como é que eu estou. Ele é alguém muito querido e preocupa-se muito com os familiares dos outros”, elogia.

Se Pepe e Rúben Dias souberem disto, talvez passem o jogo a distraí-lo com perguntas sobre familiares.

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