Brincar é importante porque estimula imaginação e criatividade das crianças

Para vários dos inquiridos, brincar é importante para promover o desenvolvimento afectivo e emocional da criança.

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A maior parte das brincadeiras ocorre em casa Daniel Rocha

A brincadeira é importante para as crianças sobretudo porque estimula a sua imaginação e criatividade, considerou a maioria (50,9%) dos inquiridos no âmbito de um estudo sobre o tema, a divulgar nesta quinta-feira.

O trabalho “Portugal a Brincar II - 2022” tem por base um inquérito a mais de 1600 famílias com crianças até aos dez anos, tendo sido elaborado pela Escola Superior de Educação de Coimbra, em parceria com o Instituto de Apoio à Criança e a Estrelas & Ouriços, uma revista e um site de actividades culturais e de lazer para país e filhos até aos 12 anos.

Para 17,3% dos inquiridos, brincar é importante porque “promove o desenvolvimento afectivo e emocional da criança”, enquanto 11,6% destacaram o desenvolvimento das suas competências cognitivas e 9,7% o facto de ser “um momento de diversão”.

No primeiro estudo, realizado em 2018 com uma amostra semelhante, foi privilegiado o desenvolvimento afectivo e emocional da criança (31,3% dos inquiridos).

Em relação ao tempo médio diário dedicado à brincadeira, entre duas a três horas foi a resposta mais comum (27,4%), tal como no inquérito precedente.

“Contudo, em 2018 o 2.º lugar era ocupado por ‘mais de cinco horas’ e em 2022 por ‘uma a duas horas’, verificando-se assim um decréscimo do tempo de brincadeira”, refere o estudo. Assinala-se, no entanto, que a maioria dos inquiridos considera que as crianças não brincam tempo suficiente.

A amostra do estudo é maioritariamente composta por agregados de classe média e cerca de 70% dos questionados “tem habilitações académicas ao nível do ensino superior (licenciatura ou mestrado)”, 85,5% são casados ou vivem em união de facto e 91,4% são mulheres.

“A distribuição de género das crianças é equilibrada, sendo 51,2% do género masculino e 48,8% do género feminino” e o inquérito contou com respostas de todos os distritos de Portugal (Continente e ilhas), com destaque para os de Coimbra (33,2%) e de Lisboa (22,4%).

Locais de brincadeira: sobretudo a casa

Em relação aos locais de brincadeira, a casa destaca-se significativamente (70,4% do tempo), seguida dos espaços públicos ao ar livre (9,2%). Neste caso foi registado um aumento em 2022, “que pode ser explicado pela necessidade emergente que as famílias têm agora de sair e aproveitar o ar livre”, segundo os autores do estudo.

Estes assinalam ainda que as famílias indicaram que as crianças gostam mais de brincar em espaços próprios, como os parques infantis (33,5%), seguidos da casa e dos espaços públicos ao ar livre quase ao mesmo nível, 27,7% e 27,2% respectivamente.

Os dados mostram “a baixa percentagem de crianças que brincam na rua”, embora se refira ter vindo a crescer “a preocupação em possibilitar que as crianças brinquem mais tempo na rua, em contacto com os elementos naturais”.

“Estas brincadeiras já não fazem parte do quotidiano, comparativamente com o que acontecia no passado” e “as famílias parecem estar cada vez mais conscientes desta mudança”, com 57,2% dos inquiridos a responder que gostariam que as crianças brincassem mais tempo em espaços ao ar livre.

Por outro lado, os resultados dos inquéritos de 2018 e de 2022 indicam que as crianças passaram a brincar menos com outras crianças da mesma idade e mais com os irmãos e com os pais.

Os autores do estudo consideram, por outro lado, que existe “uma situação grave a nível das políticas de apoio à família e à conciliação trabalho-família”. A “falta de energia devido à elevada carga de trabalho diário” (35,7%) e os “horários incompatíveis com o tempo livre da criança” (29,8%) são apontados pelas famílias como obstáculos às brincadeiras.

Preferência pelo faz-de-conta

Entre as brincadeiras, as crianças preferem as de faz-de-conta (25,7%), de construção (19,3%), lúdico-desportivas (17,1%) e de pintura ou desenho (16,3%).

Quanto aos brinquedos, apenas 0,7% das crianças não recebeu qualquer brinquedo no último ano, enquanto 47,4% foram presenteados com entre seis e dez, menos do que em 2018 quando a maioria das crianças recebeu mais de 15 brinquedos.

De acordo com a amostra, “a maioria das crianças (69,5%) tem uma maior quantidade de brinquedos não electrónicos em comparação com os brinquedos electrónicos (em 2018 este número era de 73,3%), em apenas 2% dos casos se verifica a situação inversa”.

E, tendo em conta as que apenas têm um tipo daqueles brinquedos, 16,9% só tem brinquedos não electrónicos (7,8% em 2018) e 0,1% só tem brinquedos electrónicos.

O estudo conclui que 69,5% das crianças usa smartphones ou tablets, enquanto 30,5% “não utiliza este tipo de tecnologia para brincar”, valores semelhantes aos de 2018. O que aumentou foi a percentagem de crianças que possuem o seu aparelho, 21,6% em 2018 e 30,9% em 2022.

Do grupo de crianças que recorre a smartphones ou tablets para brincar, a maioria (43,4%) brinca durante uma hora ou menos com eles diariamente, tendo aumentado de 9,8% para 21,8% as que brincam entre uma a duas horas por dia. Aumentou também o número das que recorrem aos videojogos (24,8% em 2018 e 39,2% em 2022).

A ver televisão, 48,8% das crianças gastam até uma hora por dia e 40,2% entre uma e duas horas, em relação ao inquérito de 2018 menos crianças vêem apenas uma hora e mais entre uma a duas horas.

“As famílias relatam que 52,1% das crianças brinca com jogos ou brincadeiras tradicionais com alguma frequência, enquanto 35,9% raramente o faz”.

Neste segundo inquérito as famílias foram questionadas sobre a pandemia de covid-19, tendo 67,5% dos inquiridos considerado que afectou negativamente o brincar das crianças, devido à “limitação de uso dos espaços de brincar exteriores” e dos parceiros de brincadeira, assim como à “diminuição da disposição da criança para brincar” e ao “aumento do uso de tecnologias”, entre outros.

Por outro lado, 78,8% dos questionados considera ter brincado mais tempo com as crianças durante o confinamento geral e 13,3% ter brincado o mesmo tempo que antes. Apenas 7,9% dizem ter brincado menos tempo.

Os resultados do estudo estarão em debate na conferência “Como brincam hoje as crianças em Portugal”, organizada pela Estrelas & Ouriços e que tem como um dos convidados de honra Carlos Neto, professor e investigador da Faculdade de Motricidade Humana, “figura de referência em Portugal quando se fala de brincar”.

“Brincar é das dimensões mais importantes e estruturantes no desenvolvimento de uma criança, pelo que nos faz todo o sentido aprofundar esta temática. Trazer a voz dos nossos parceiros para o mesmo palco vai oferecer uma enorme riqueza de respostas às famílias e aos profissionais ligados à área da educação, dando continuidade à missão da Estrelas & Ouriços de ser facilitadora da vida em família e em ambiente escolar”, defende Madalena Nunes Diogo, directora-geral da Estrelas & Ouriços, citada no comunicado de divulgação da conferência.

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