Posto de combustível em Guimarães classificado como Monumento de Interesse Público

Apesar de se encontrar parcialmente adulterada, a obra de Fernando Távora é significativa do “génio” do seu criador, argumenta a Secretaria de Estado da Cultura.

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Projectado entre 1959 e 1961, o posto de combustível de Fernando Távora ficou concluído em 1967 Adriano Miranda

Um posto duplo de abastecimento de combustíveis de Covas, concelho de Guimarães, projectado pelo arquitecto Fernando Távora, foi classificado como Monumento de Interesse Público, indica esta terça-feira o Diário da República.

A portaria descreve que esta classificação “reflecte os critérios [...] relativos ao carácter matricial do bem, ao génio do respectivo criador, ao seu valor estético, técnico e material intrínseco, à sua concepção arquitectónica, urbanística e paisagística, e às circunstâncias susceptíveis de acarretarem diminuição ou perda da sua perenidade ou integridade”. No entanto, reconhece que o edifício se encontra “parcialmente adulterado”.

“Considera-se que não se encontra perdida a capacidade evocativa do projecto original, onde o granito local, o betão e o ferro se conjugam com a envolvente natural para compor uma obra de grande valor formal e conceptual, bem ilustrativa do alcance da obra de Fernando Távora e do seu posicionamento em relação aos desafios colocados pela arquitectura moderna”, justifica a Secretaria de Estado da Cultura.

O duplo posto de combustível de Covas agora classificado localiza-se no lugar do Salgueiral, freguesias de Creixomil e Urgeses, concelho de Guimarães.

A obra foi edificada ao abrigo de um plano de localização de postos de abastecimento encomendado pela SACOR em 1957.

Projectado entre 1959 e 1961, e concluído em 1967, o edifício é composto por dois postos implantados em parcelas fronteiras, na encosta do vale de Creixomil.

De acordo com a publicação em Diário da República, o núcleo funcional das bombas é composto por zona de abastecimento protegida por largas palas, completada, no edifício a poente, por uma área de serviço que aproveita o declive do terreno, respeitando o seu grande potencial cenográfico. “Os arranjos exteriores constituem, de resto, um todo indissociável dos edifícios, sendo indispensáveis para a interpretação do conjunto.”

Esta classificação decorre por proposta da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), conforme foi publicado em Diário da República a 8 de Abril deste ano, mas o processo é já antigo.

Em Março de 2015, a DGPC determinou a abertura do procedimento da classificação, tendo recebido, no ano passado, parecer favorável da Secção do Património Arquitectónico e Arqueológico do Conselho Nacional de Cultura.

No documento de 2015, a Direcção Regional de Cultura do Norte (DRCN) justifica que, “face à possibilidade de uma intervenção [por parte da proprietária, a empresa Galp Energia] e perante a proposta da Fundação Marques da Silva”, propôs a abertura do procedimento de classificação do espaço.

A DRCN dizia então tratar-se de “um exemplar de arquitectura bem ilustrativo do processo conceptual e criativo do arquitecto Fernando Távora”, e “nomeadamente de um momento em que a afirmação de modernidade e o seu posicionamento em relação aos valores da cultura e da arquitectura internacional dialogam com a necessidade de fundamentar e ancorar as suas intervenções na realidade, na especificidade dos locais, na consciência das suas condicionantes e do valor cultural e social decorrente da própria intervenção”, lê-se no texto da proposta de classificação da Fundação Marques da Silva, subscrito pela DRCN.

No dia 7 de Março deste ano, o director-geral do Património Cultural publicou o despacho de concordância.

Fernando Távora (1923-2005) foi arquitecto, professor e ensaísta, sendo considerado como o “pai” da Escola do Porto.

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