Tens mais do que um cão? Passa tempo a sós com cada um deles

Cá em casa, tanto o Joel como a Safira têm imensos momentos em que estão sozinhos, quando estão ocupados a roer um grande osso, assim como têm momentos em que está cada um sozinho comigo.

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Antes de teres outro cão, pensa: Tenho tempo suficiente para dedicar só a esse cão? Nelson Garrido

Muitas pessoas têm mais do que um cão como companheiros. Quem gosta da companhia dos cães, sabe que cada um tem a sua personalidade e peculiaridades que os tornam únicos. Eu tenho a Safira e o Joel e não podiam ser mais diferentes um do outro. Adoro-os como eles são e ambos preenchem diferentes partes da minha vida.

Antes de teres outro cão, pensa:

Tenho tempo suficiente para dedicar só a esse cão?

Esta é a questão que as pessoas talvez menos coloquem quando começam a juntar cães à família. Por algum motivo, os donos não sentem que têm ou devem dar aos cães atenção individual. Quem passeia um, passeia dois ou três; quem dá comida a um, dá a dois ou três; quem faz festas a um, faz a dois ou três.

Esta mentalidade leva a imensos problemas entre cães que vivem juntos na mesma casa. Desde típicas cenas de “ciúmes”, brigas entre os cães, destruição, desenvolvimento de comportamentos inadequados em grupo, entre outros aspectos. Dores de cabeça a dobrar, triplicar ou mais, conforme o número de cães que temos.

Se achas que os cães devem fazer tudo juntos, pensa outra vez. Os cães passeiam de forma diferente: uns cheiram muito, outros caminham mais depressa, outros gostam de correr, existem os que adoram escavar sem serem incomodados e aqueles que preferem brincar como se estivessem a lutar com outros. Um pode ser mais velho e gostar de passear devagar, outro prefere caminhar mais rápido. Um pode adorar estar a dormir sozinho esticado e outro adorar estar em cima de todos. Saber identificar as características individuais dos nossos cães e dar-lhes espaço e tempo para as exibir é uma obrigação nossa.

Mas os meus cães adoram-se! Porque haveria de os separar?

Vou fazer uma analogia. Estou certa que todos nós temos pessoas na nossa vida que amamos profundamente: os pais, os irmãos, os nossos maridos ou esposas, companheiros e namoradas. Mas se eu vos dissesse que têm que passar 24 horas por dia, todos os dias, até morrerem perto dessas pessoas, possivelmente não iriam achar tanta piada.

Assim como nós precisamos do nosso tempo a sós, como nós apreciamos ter a devida atenção dos nossos pais, irmãos ou namorados (as) sem termos que os partilhar constantemente com outros, os cães são iguais. Iria mais longe e diria que os cães também têm esse direito. Como são seres altamente sociais, os cães precisam de passar tempo útil com as pessoas.

Esse tempo deve ser dividido em atenção activa – passeios, jogos, treino positivo, brincar com bolas, fazer festinhas e atenção passiva – e com períodos em que estão simplesmente perto de nós quando roem um osso, ou deitados aos nossos pés quando dormitam. É importante que os cães que vivem na mesma casa aprendam e tenham o direito de passar algum tempo a sós com os donos e sem os outros presentes.

Vejo cães em algumas casas que vivem em constante preocupação sobre onde estão e o que estão os outros cães a fazer. Há cães que não conseguem receber carinhos e festinhas dos tutores sem serem assediados por outros, existem cães que nem uma refeição conseguem ter em paz porque muitos tutores insistem em alimentar os cães todos juntos no mesmo espaço e não reparam que basta um outro cão estar a olhar para que um se sinta incomodado e pare de comer.

Aprenderem a estarem sozinhos

Cá em casa, tanto o Joel como a Safira têm imensos momentos em que estão sozinhos, sem mim e sem mais ninguém, quando, por exemplo, estão ocupados a roer um grande osso ou um kong deliciosamente recheado. Também têm momentos em que está cada um sozinho comigo, onde eu posso estar a fazer festinhas à Safira ou treiná-la, sem o Joel estar presente e vice-versa.

Por vezes, também os passeio separadamente. Levo o Joel comigo para algumas aulas ou de carro ao supermercado e depois saio só com a Safira a passear no mato. Porquê? Porque eles merecem isso e porque eu também gosto de passar algum tempo a sós com eles.

Porque se ambos souberem que têm sempre de mim algum tempo e espaço dedicados só a eles, não se preocupam tanto o resto do tempo a defender recursos ou a arranjar brigas uns com os outros. Porque não precisam de disputar a minha atenção porque sabem que eu diariamente arranjo uma forma de lhes dar atenção individual e ir ao encontro das suas necessidades.

Existem cães que entram de tal forma em stress quando o outro cão ou outras pessoas não estão presentes que não conseguem fazer nada. Isto não é nem positivo nem ensina ao cão a lidar com o ambiente sem estar dependente do dono ou com outros cães e pessoas e isso é extremamente stressante. Se o teu cão fica louco quando separado do outro, isto não é saudável e vai causar problemas nalguma altura da vida dele, quando não existirem opções.

É fantástico que os cães gostem uns dos outros e passem tempo juntos e devem fazê-lo, mas a beleza está no equilíbrio. A Safira e o Joel gostam muito de passar tempo juntos, mas estou certa que é importante que saibam que nem um nem outro estarão presentes na vida um do outro sempre. Ensinar os cães a lidar com o ambiente e circunstâncias diversas é, mais do que o nosso dever, a nossa obrigação.

Por isso, se vais ter outro cão, pensa nisto. E se tens mais do que um cão em casa também. Quando foi a última vez que estiveste só com um deles?

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