Catarina Martins: “Maioria absoluta tropeça na sua incapacidade e nos seus escândalos”

A líder do Bloco de Esquerda disse que nos tempos da “geringonça” não havia “maioria absoluta e as pessoas sentiram estabilidade na sua vida”. Anunciou voto contra do BE no OE 2023.

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Catarina Martins falou no final da reunião da Mesa Nacional LUSA/MIGUEL A. LOPES

A líder do BE defendeu neste sábado que “está completamente ultrapassada” a ideia de que as maiorias absolutas dão estabilidade, dizendo que “não foi nenhum partido da oposição” que criou casos que “fragilizaram sucessivos governantes”.

Na conferência de imprensa após a mesa nacional do BE em que foi decidido o voto contra do Bloco ao OE 2023, Catarina Martins foi questionada sobre uma frase do secretário-geral do PS, António Costa, que acusou os adversários políticos de não perdoarem a maioria absoluta dos socialistas nas últimas legislativas e avisou que irão fazer tudo “para comprometer essa estabilidade”.

“A ideia de que as maiorias absolutas dão estabilidade está completamente ultrapassada: nós tivemos uma maioria PSD/CDS-PP que cortou nos rendimentos dos trabalhadores e criou caos nos serviços públicos, temos uma maioria absoluta do PS que tropeça na sua própria incapacidade e nos seus escândalos” disse.

Pelo contrário, entre 2015 e 2019, na solução política que ficou conhecida como “geringonça” — maioria relativa do PS com apoio parlamentar do PCP, BE e Verdes , Catarina Martins salientou que “não havia maioria absoluta e as pessoas sentiram estabilidade na sua vida”.

“A estabilidade da maioria absoluta será importante para o PS conseguir sobreviver, ao país não diz nada”, disse.

A coordenadora do BE admitiu que os vários casos e envolverem governantes “descredibilizam o Governo”, tal como notícias de que só uma parte dos anunciados apoios à economia na pandemia chegaram à economia.

“Mas o senhor primeiro-ministro só se pode queixar de si próprio”, disse.

Confrontada com outro anúncio de António Costa, que considerou inaceitável que as portagens possam vir a aumentar 10% como já admitiram as concessionárias, a líder do BE recordou que o compromisso dos socialistas passava por descer portagens no Interior e no Algarve e não apenas travar eventuais aumentos.

Voto contra

O Bloco de Esquerda confirmou ainda que irá repetir, na votação final global da próxima sexta-feira, o voto contra o Orçamento do Estado para 2023, tal como tinha feito na generalidade.

“Este é um orçamento que aumenta o empobrecimento e as desigualdades em Portugal (...) Este foi o orçamento que o PS quis fazer com todos os dados em cima da mesa e em que quem vive do seu trabalho vai perder poder de compra no próximo ano, e não há qualquer mecanismo de controlo de preços”, justificou hoje a coordenadora do BE, Catarina Martins, na conferência de imprensa após a Mesa Nacional do partido.

A resolução da Mesa Nacional, órgão máximo do partido entre convenções, foi aprovada por unanimidade.

Catarina Martins defendeu que, neste Orçamento, o Governo já não pode dizer que foi surpreendido pela conjuntura internacional, considerando que “não há novidades na guerra ou no ciclo da inflação”.

“O PS continua a achar que os salários são o que determina a inflação, não é verdade, até porque têm vindo a perder. O que tem vindo a determinar o aumento da inflação é o aumento dos lucros”, considerou, com o BE a defender como alternativa “o aumento de salários e das pensões” e uma maior responsabilização das empresas.

A coordenadora do BE acrescentou que o Governo deu “um passo cujo alcance ainda fica por perceber” ao apresentar uma taxa extraordinária e temporária de 33% sobre os sectores da energia e da distribuição alimentar, mas apenas “a reboque” do que foi determinado pela União Europeia e “nos mínimos” do que as instituições comunitárias permitiam.

Na generalidade, o PS aprovou sozinho a proposta do Governo, com abstenções dos deputados únicos do PAN e do Livre e votos contra dos restantes partidos.

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