Lendário, místico e mágico: eis o lago Bled da Eslovénia
O leitor Mário Menezes tinha expectativas altíssimas e superou-as. “Espero um dia voltar, no Inverno, e contemplar toda esta paisagem coberta de um manto branco.”
Já nos tempos da Jugoslávia de Tito estes territórios eram procurados pelas suas maravilhas da natureza. Na Eslovénia, a cerca de 60km da lindíssima capital Liubliana, localiza-se o lago Bled. É uma das suas imagens de marca, sendo o destino turístico mais visitado do país.
Trata-se de um lago, de origem glaciar, rodeado pelos Alpes Julianos, que contêm o monte Triglav, ponto mais alto da Eslovénia, com 2864m, encontrando-se desenhado na sua bandeira nacional, sendo visível desde as suas margens. O lago possui cerca de 2,1km de comprimento, 1,4km de largura, 6km de margens e 30m de profundidade máxima. Para percorrer o trilho completo e dar a volta ao lago são mais de 10km de caminhada.
Diz a lenda que jovens pastores pastavam as suas ovelhas numa grande área verde. Havia por lá uma capela para onde as ovelhas fugiam. Os pastores não se importavam e nunca impediram que as ovelhas, de certo modo, profanassem este lugar sagrado. Então, Deus decidiu criar um lago em volta da capela para a proteger, e, assim, criou o lago Bled e a ilha de Bled com a igreja, que vemos emergir das suas águas cristalinas.
A ilha de Bled possui vários edifícios, sendo a Igreja da Peregrinação dedicada à Assunção de Maria, construída perto do final do século XVII, o principal. No lago não é permitida a navegação a embarcações motorizadas, pelo que os típicos barcos a remos, chamados pletnas, são utilizados para transporte dos turistas. Atracando na ilha, acede-se à igreja subindo uma escadaria de pedra com 99 degraus. Os interiores são decorados com pinturas, estimando-se serem do ano 1470. A igreja possui uma torre com 52m, com um sino que todos os visitantes podem tocar, não sem antes formularem um desejo! Fiz a minha parte...
Na margem, no cimo de um penhasco com 130m, existe o Castelo de Bled, o castelo mais antigo da Eslovénia. Acede-se-lhe desde a margem do lago, caminhando por trilhos em subida. Não se sabe ao certo quando foi construído, sabe-se apenas que já existia no ano de 1004. O Bispado de Brixen estava no poder, sendo o nome de Bled oriundo do nome Germânico Veldes. Ao longo do tempo tem sido um local importante de reuniões oficiais de políticos e governantes, sendo por isso considerado como a sala de visitas do país.
Possui dois pátios ligados por uma escada, um poço, uma exposição dentro da torre, de onde podemos desfrutar das vistas para os Alpes Julianos, para o lago e para o povoado de Bled. Este é um museu que expõe diverso material arqueológico, existindo registos de ocupação humana no que é hoje a Eslovénia com mais de 250 mil anos; uma capela ou não se trate de um país profundamente católico; uma loja de ferreiro; um restaurante com terraço e uma adega, ou não se trate de uma pátria vinícola. Tomando um cálice de vinho, brindei, desfrutando da paisagem no ponto considerado com a melhor vista sobre o lago.
O lago Bled superou as minhas expectativas, que eram altíssimas, daí ter posto o nome de Bled ao meu gatinho, que adoptei semanas antes de viajar. Espero um dia voltar, no Inverno, e contemplar toda esta paisagem coberta de um manto branco. Desta vez, a minha visita foi outonal, sendo já visível a cor avermelhada das árvores. Despedi-me deste cenário maravilhoso, lanchando um kremna rezina, bolo local, associado à antigo império austro-húngaro, muito popular em toda a Europa Central e nos Balcãs, com base de massa folhada e creme de nata. O kremna rezina, chamado também de kremšnita, derivando da palavra alemã cremeschnitte, está para o lago Bled como a sachertorte está para Viena e o pastel de Belém para Lisboa!
Mário Menezes (texto e fotos)