Choupo-Moting, um “amigo improvável”

Na Liga alemã e no Bayern Munique, o brilho tem vindo de um avançado que não tem tido uma relação fácil com os golos ao longo da carreira.

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Choupo-Moting celebra pelo Bayern EPA/RONALD WITTEK

Em 2018 – e provavelmente até já antes disso –, Eric Choupo-Moting tinha a sina traçada: ser um jogador de clubes médios, útil para todos os treinadores, mas nunca uma peça-chave e muito menos um goleador de alto nível. E fez por ter esta aura cinzenta, com desempenhos medianos durante anos e anos.

Agora, aos 33 anos, a Europa está a descobrir que Choupo-Moting sabe marcar golos – possivelmente, o próprio jogador está a descobri-lo também.

Soma dez em 14 jogos pelo Bayern de Munique, marca há sete jogos consecutivos e, com um “bis”, ajudou neste sábado a equipa a bater o Hertha de Berlim por 3-2. Em suma, marcou sempre que foi titular nesta temporada.

Há alguns anos, nada disto estava escrito para Choupo-Moting.

Poucos golos

Filho de uma alemã e de um camaronês, Choupo-Moting nasceu perto de Hamburgo e foi lá que começou a jogar. Durante os primeiros dez anos da carreira, este internacional camaronês teve uma média de 6,5 golos por temporada.

Nos anos bons, Moting chegava aos dez golos. Nos anos maus, não passava dos três. Quando andava na sua média, ficava-se pelos cinco ou seis. Isto passou-se ano após ano – fosse na Liga alemã, onde começou, ou na inglesa, que também experimentou sem sucesso, no Stoke.

Aos 30 anos, depois de temporadas assim-assim em Hamburgo, Nuremberga, Mainz, Schalke e Stoke, Choupo-Moting foi contratado pelo... PSG.

No cinema, Choupo-Moting seria um “amigo improvável”. Na matemática, se “Choupo-Moting no PSG” fosse um evento analisado à luz das probabilidades, então estaríamos perante um acontecimento de probabilidade próxima de zero.

Mas o futebol não é álgebra, pelo que existe uma explicação – Thomas Tuchel, então treinador do PSG, já o tinha treinado no Mainz e conhecia os predicados do jogador.

Ainda assim, tudo o resto roçava o bizarro – sobretudo o facto de Choupo-Moting não ser uma quarta ou quinta opção, mas sim o único verdadeiro suplente de Cavani e Mbappé, já que o plantel não tinha mais avançados.

O “agente fantástico”

Peter Crouch, que foi colega de Moting em Stoke, chegou a brincar com esse assunto, ao Daily Mail. “Ele claramente tem um agente fantástico, que lhe dá grandes oportunidades”, apontou, apesar de acrescentar que Moting só não estava a render nos jogos, porque nos treinos todos viam o seu talento.

E o jogador inglês até avançou que, em Paris, Moting estaria no local perfeito. “Quando ele andava pelo balneário, parecia que estávamos na fashion week de Paris. Ele usava roupas que, digamos, é preciso alguma confiança para usar”.

Pela roupa e pelo futebol, foi mesmo em Paris que a carreira deste jogador mudou. Continuou sem ser um goleador, mas, nesta fase, não era isso que lhe era pedido.

Moting passou a ser um suplente, ainda que nunca se visse como tal: “Na maioria dos jogos sou um suplente, mas não me vejo como apenas isso. Sou parte da equipa. Se só jogo 20 minutos, fico feliz, por consigo contribuir. É o papel que tenho aqui e não é um problema”.

O jogador não estava incomodado e o PSG muito menos, já que Moting acabou por ganhar o rótulo de “suplente de luxo”. Em 2020, nos quartos-de-final da Liga dos Campeões, o PSG perdia por 1-0 com a Atalanta. Depois, chegou Moting. Entrou, assistiu Marquinhos para o 1-1 e tratou ele próprio do 2-1. Herói.

Onde estava isso tudo?

Depois de duas temporadas no PSG, a história repetiu-se. Choupo-Moting tinha marcado aquele golo importante, é verdade, mas o total não impressionava (três na primeira época, seis na segunda).

Aos 32 anos, parecia ter encontrado um bom sítio e um bom papel, já que nunca tinha sido um goleador de grande nível e ter algum destaque no PSG “já era bem bom”, como diria o jargão popular.

Mas o agente voltou à “magia” e colocou-o no... Bayern de Munique. Contra as probabilidades, Choupo-Moting ainda conseguiu subir na vida e teve outra oportunidade que a maioria considerava acima do seu talento e novamente com um papel de suplente com algum destaque (era a única alternativa a Lewandowski).

Nove golos na primeira temporada, outros nove na segunda e, com a partida do polaco para Barcelona, Moting acabou por ganhar espaço e já vai com dez golos em 14 jogos, pulverizando a média que teve em toda a carreira.

Neste texto falámos duas vezes da “magia” do agente de Moting, de um “amigo improvável”, como no cinema, e falámos de conceitos matemáticos de probabilidade que reduziam o jogador a alguém que jogava em clubes acima das suas possibilidades. Afinal, não era nada disto.

A ser servido por craques de primeira água, Choupo-Moting parece ser jogador. Afinal, só precisava de um Thomas Müller na sua vida.

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