PAN faz queixa no MP para travar projecto de loteamento em Lagoa

O partido de Inês Sousa Real classifica projecto de construção de um loteamento em Alagoas Brancas, uma das últimas zonas húmidas de água doce do Algarve, de “atentado ambiental”.

Foto
PAN visitou Alagoas Brancas durante a campanha eleitoral às legislativas de Janeiro deste ano LUSA/ANTÓNIO COTRIM

O partido PAN anunciou este domingo que vai avançar com uma queixa ao Ministério Público para travar o projecto imobiliário aprovado para a zona húmida temporária denominada Alagoas Brancas, no Algarve, que classifica de “atentado ambiental”.

Segundo um comunicado do partido, com esta medida o PAN requer “a actuação [do Ministério Público] na defesa de interesses difusos, para travar o atentado ambiental em Alagoas Brancas”, no concelho de Lagoa, distrito de Faro.

“Em causa está a preservação de uma das últimas zonas húmidas de água doce do Algarve, a zona das Alagoas Brancas, que alberga uma vasta vida selvagem, incluindo espécies protegidas a nível nacional e europeu”, prossegue a nota enviada à comunicação social.

O PAN dá conta de relatos da destruição de canaviais, “apesar de no local se avistar a presença de mais de 500 indivíduos da espécie Ibis [...] e soterrados vivos vários indivíduos da espécie Cágado-Mediterrânico ("Mauremys leprosa") que se encontra nas Alagoas Brancas. Esta é uma espécie listada como Vulnerável na Lista Vermelha Europeia e na Lista Vermelha da IUCN. Além disso, a espécie está listada nos Anexos II e IV da Directiva Habitats que designa a espécie como uma espécie em perigo de extinção e o habitat como uma Área Especial de Conservação”.

“É inaceitável que a autarquia esteja a compactuar com este crime ambiental e contra a biodiversidade, tendo permitido o arranque da obra e, consequentemente, a destruição de uma das últimas zonas húmidas da região, de elevado valor ecológico e que ainda estejam a soterrar vivas espécies em vias de extinção, como o Cágado-Mediterrânico”, disse a porta-voz do PAN, Inês de Sousa Real, citada no documento.

Para a líder do PAN e deputada única do partido, “a defesa ambiental não pode ser apenas uma bandeirola que se agita em tempos eleitorais, mas que facilmente se descarta quando se trata de proteger efectivamente o ambiente, os animais, a qualidade de vida das pessoas e os direitos das futuras gerações”.

Sousa Real recordou que “nos últimos anos a sociedade civil e as organizações não-governamentais do ambiente têm lutado para garantir a preservação deste ecossistema único”.

“Também o PAN, através da sua acção política tem reivindicado o mesmo. Em 2019, o PAN exigiu a classificação das Alagoas Brancas como zona protegida e que o ICNF fizesse um novo estudo que substituísse um parecer dado em 2017, que desvalorizou ambientalmente as Alagoas Brancas” e, em 2020, “condenou a decisão da Câmara Municipal de Lagoa por ter aprovado a construção em Alagoas Brancas porque tal construção iria destruir o habitat existente e afastar as espécies ali existentes”.

O partido recordou que a Assembleia da República recomendou ao Governo a protecção de Alagoas Brancas.

“Agora, em 2022, as máquinas estão a destruir este santuário natural onde vivem mais de 140 espécies de aves, centenas de espécies de insectos, mais de 70 espécies de plantas, anfíbios raros e ameaçados, exactamente porque dependem destes sistemas que estão constantemente a ser destruídos”.

O empreendimento, constituído por 11 lotes, é contestado por ambientalistas porque, alegam, a construção “vai destruir aquela zona húmida e coloca em risco a segurança” da cidade em situação de cheias.

Segundo a Câmara de Lagoa, o projecto inicial foi aprovado em 2009 e passou por todas as fases de licenciamento previstas na lei para permitir a atribuição do alvará e o loteamento.

A Associação Almargem, A Rocha Portugal, GEOTA, FAPAS, Liga para a Protecção da Natureza (LPN), Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e ZERO - Associação Sistema Terrestre Sustentável asseguram que “não se conformam nem vão ficar paradas perante esta agressão ambiental grave e desnecessária”.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários