Entre marido e mulher... A chegada de um bebé

Reconhecer os primeiros sinais e sintomas na depressão pós-parto é importante, pois hoje a ciência tem formas de lhe responder, sejam medicamentosas ou simplesmente psicoterapêuticas.

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A depressão pós-parto afecta cerca de uma em cada seis mulheres e três em cada dez homens Jill Sauve/Unsplash

Costumo dizer que quando um casal entra em casa com o recém-nascido não entra apenas um desconhecido, mas três. Saíram marido e mulher ou namorado e namorada e entram Mãe, Pai e um Bebé. O que, aparentemente parece uma situação comum e vivida por centenas de milhares de pessoas no mundo, é também uma situação geradora de muitos conflitos, divórcios e até doença mental.

Sabemos que a pandemia agravou muitas destas situações, trouxe ao pós-parto ainda mais isolamento, àquele que já era um momento solitário. Mas afinal o que acontece no pós-parto de tão especial que merece a nossa atenção? A chegada de um bebé significa que em algum momento dois adultos se amaram e geraram uma vida. Esta nova vida traz novas dinâmicas e junta dois sistemas familiares, o da mãe e pai. Por isso, as sombras de cada um surgem com mais intensidade neste momento.

Também é um momento que traz consigo uma mudança na identidade individual dos pais: As mulheres começam a assimilar que são mães, para além de amigas, namoradas, filhas ou irmãs. E os homens descobrem que afinal, não são só filhos, mas também pais. Os novos papéis trazem consigo novas representações e frequentemente os novos papéis assumidos por cada um, tendem a ser mais tradicionais que nunca, até haver um ajuste.

É comum uma mudança de valores, de opinião em relação ao trabalho, às finanças e até à espiritualidade. Os grandes motores de angústia e insatisfação acontecem na mudança da relação, já que há menos tempo de qualidade entre os dois amantes, um declínio da intimidade sexual e um aumento da comunicação stressante levando ao aumento de discussões no primeiro ano do bebé.

Enquanto as mulheres acabam por ter uma rede de apoio feminina (sejam amigas, família ou grupos de apoio), os homens tendem a isolar-se como estratégia para lidar com o stress. A tudo isto, juntamos as alterações físicas, como a privação de sono e exaustão e psicológicas, como o ajuste aos novos papéis, identidade e valores, fazendo com que se torne necessário uma adaptação à nova condição.

São agora dois desconhecidos a tentar reencontrar-se (ou não). É aqui que cruzamos a saúde mental com o pós-parto sendo que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão pós-parto afecta cerca de uma em cada seis mulheres e três em cada dez homens.

Cabe-nos a todos, como comunidade apoiar os novos pais, acolher os casais com filhos pequeninos, tanto no meio laboral, como no meio social e familiar. Entender de que forma podemos estar presentes e apoiar este momento das novas famílias para que estejam menos isoladas em si mesmas e nos seus desafios e com isto, mais normalizadas.

Reconhecer os primeiros sinais e sintomas na depressão pós-parto é importante, pois hoje a ciência tem formas de lhe responder, sejam medicamentosas ou simplesmente psicoterapêuticas.

Deixo alguns dos sinais de alerta que merecem atenção e procura de ajuda especializada:

  • Queixas físicas, como fadiga, alterações no apetite e nos padrões de sono;
  • Níveis elevados de ansiedade e preocupação;
  • Tristeza extrema, irritabilidade ou dificuldades de concentração, atenção e memória;
  • Fortes sentimentos de culpa;
  • Perda significativa de auto-estima;
  • Choro fácil;
  • Sentimentos de culpa e fracasso.
  • Sentimento de incapacidade face aos cuidados do bebé;
  • Vergonha face a determinados sentimentos, por exemplo, como o choro do bebé pode inquietar ou irritar;
  • Dificuldades em estabelecer uma ligação afectiva imediata com o bebé;
  • Preocupações excessivas face à segurança e cuidados de saúde do bebé.

Sabemos que entre marido e mulher não se mete a colher, mas podemos sempre trazer novos balões de oxigénio, informação, uma saída aqui, uma conversa ali e com isto outras perspectivas.

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