“Se eu cantar com Nick Cave, então eu choro, choro tudo”
Nick Cave e Paula Lebre têm um universo a separá-los. E algo de mágico e de trágico que os une: a perda de um filho. Paula é a mãe de Beatriz, assassinada no dia 22 de Maio de 2020, às mãos de um colega de faculdade. No dia 3 de Setembro, no festival Meo Kalorama, Cave dedicou à sua filha uma canção. Paula estava na multidão. Ele não podia saber que é sua a única canção com a qual ela consegue chorar. Esta canção é a sua religião. Dois mundos distantes voaram lado a lado, nessa noite, nas asas de um piano. Into My Arms. Seja qual for esse lugar, é onde a humanidade não está perdida.
No dia 22 de Maio de 2020, Paula Lebre deixou de ser a pessoa que era. Passou a ser duas. Passou a transportar dentro de si a sua filha, como se na morte a vida retornasse, numa estranha gestação. Os infinitos pedaços que ficaram, tantos, tão belos, tornam-se inteiros todos os dias. E a ausência desaparece. E com ela vive. E com ela adormece. Como se a tivesse nos seus braços. “Todas as manhãs me custa a começar o dia. Faço um esforço. Não me apetece viver, mas também não quero morrer.”
O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.