Cartas ao director

Do aeroacordo e suas virtualidades

No editorial do PÚBLICO de 6 de Outubro, defende-se que o Governo e a oposição deveriam alargar à área da Justiça a capacidade de chegar a acordo que parece estarem a demonstrar na questão do aeroporto. Qualquer observador razoável concordará que nem tudo vai mal no país e, aliás, estamos hoje muito melhor do que há cem anos, como o Presidente da República realçou, no discurso do 5 de Outubro.

Assim, o tão falado acordo para a reforma da Justiça, o que será, o que visa, onde falha? As preocupações manifestadas parece chamarem sobretudo a atenção para aquela jurisdição que controla, por meios jurídicos, os actos do poder. Ora, levando em conta novamente as palavras do Presidente, sabemos que nada é eterno e que quem hoje governa amanhã faz oposição, e vice-versa. Sendo assim, pergunto-me se haverá mesmo necessidade de alargar à Justiça aquela boa vontade aeroportuária, quer dizer, se o actual estado de coisas não corresponderá já a um entendimento há muito alcançado, embora não – como diremos? – verbalizado. (…)

Sérgio Tovar de Carvalho, Lourinhã

Mundial 2030 e uma palhaçada grosseira

A inclusão de Ucrânia, juntamente com Portugal e Espanha, como parceira neste campeonato, no atual momento, manifesta uma posição farisaica pelo engano que enferma, destaca o envolvimento do desporto numa questão política e, sobretudo, revela o desprezo pelo sofrimento do povo ucraniano. É indubitável que o rescaldo material que a Ucrânia sofre e irá sofrer é o de uma enorme destruição em todos os aspectos da vida. Ninguém sabe qual a duração da guerra que a Rússia impõe à Ucrânia. Sabe-se apenas que o grau de prejuízo é muito vultuoso e a reconstrução levará anos. No contexto que ora se desbrava, a construção de estádios não será seguramente uma prioridade para a felicidade do povo sofredor. Haja contenção nos nossos desejos e maior respeito pela inteligência e manifestação de solidariedade.

António Bernardo Colaço, Lisboa

Descrédito

Enquanto os portugueses têm na memória a questão dos fundos europeus recebidos pelo marido de Ana Abrunhosa, ministra da Coesão Territorial, eis que Manuel Pizarro, ministro da Saúde, deu um ar da sua graça ao continuar como gerente de uma empresa que opera na área por si tutelada. Cada vez mais o descrédito ronda o Governo. Cada vez menos portugueses confiam em António Costa. (…) O que espera Marcelo para dissolver a Assembleia da República? Por muito menos, o executivo liderado por Santana Lopes foi varrido, em 2004, por Jorge Sampaio, originando a primeira maioria absoluta do PS. Depois surgem análises político-filosóficas sobre a subida eleitoral da extrema-direita.

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

Sustentabilidade e inclusão, uma utopia?

Em democracia, as forças partidárias afirmam que as suas propostas ajudam ao desenvolvimento, ao progresso e ao crescimento socioeconómico. Mas, ainda assim, nem sempre o que se disse e se fez no tempo está em concordância com a evidência dos factos. Por isso, apesar das identidades políticas e ideológicas, urge estabelecer consensos em decisões de interesse nacional. E isso, muitas vezes, tem sido menosprezado, acarretando enormes prejuízos para os países. (…) É preciso saber, no contexto da EU, que Estados-membros estão interessados em percorrer esse percurso. Porque, efetivamente, a sustentabilidade e a inclusão não são, como alguns pensam, uma utopia, sob pena de promovermos uma espiral de destruição do mundo.

Manuel Vargas, Aljustrel

Megalomanias governamentais

Somos um país rico em que, de vez em quando, os governantes recuperam projetos que são verdadeiras megalomanias, que terão de estar sujeitos a estudos que terão também os seus custos, num país já largamente endividado, e onde teremos de ter a consciência de que o avanço na execução de tais projetos terá de ser pago por alguém, e esse alguém será sempre o contribuinte.

O projeto anunciado do TGV será bem-vindo se tivermos em conta que é preciso ligar Portugal à Europa e com ganhos ambientais, mas a sua implementação tem enormes custos que implicam o desenho de novos traçados, a expropriação de terrenos, a aquisição de material circulante e a sua manutenção, a construção da via férrea adaptada (…). Importa também ter em atenção que a utilização do TGV implica que os cidadãos portugueses tenham um nível de vida que lhes permita utilizar este meio de transporte, o que não é o caso (…).

Américo Lourenço, Sines

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