Cartas ao director

Uma crise que tira direitos sociais

Setenta e seis mil alunos são candidatos a bolsas de estudo no ensino superior e cerca de 11,5% dos que acederam este ano – são uns 5500 – não se matricularam porque não têm condições económicas para poder frequentar o ensino universitário. Quando estamos a muito pouco tempo de comemorar meio século do 25 de Abril, este país devia ter vergonha de ainda haver tanta gente que não pode proporcionar aos seus filhos uma educação ao nível do que são capazes. O grande slogan da revolução referida na canção de Sérgio Godinho, a paz, o pão, habitação, saúde, educação, e que de início se fez notar na qualidade de vida de uma boa parte da população, sentimos que muito está agora a esboroar-se nestes sectores básicos.

Nos finais do sec. XX e início do sec. XXI, com cerca de três décadas de governações do centro, esquerda e direita, quer no nosso país, quer numa boa parte da Europa, verificamos uma classe politica muito mais virada para si mesma e muito preocupada com os resultados eleitorais, e querendo satisfazer certas clientelas descurando muitas questões sociais. Como resultado, vemos um crescendo de radicalismos e extremismos que criam sistemas ingovernáveis com enormes prejuízos sociais, principalmente para os mais fracos.

António Barbosa, Porto

Presidenciais no Brasil

As eleições presidenciais no Brasil mostraram que os eleitores querem emendar o erro de terem eleito um populista que há quatro anos rebaixa as mulheres, ignora direitos humanos, insulta jornalistas e decreta políticas anti-ambientais na Amazónia. Esta divisão na sociedade é semelhante ao que aconteceu em 2020, nos Estados Unidos, quando Joe Biden apeou outro populista da presidência. Em ambos os casos, venceu o melhor dos piores candidatos, mesmo sabendo que Lula da Silva jamais se livrará das suspeitas de corrupção no âmbito do processo Lava Jato, condenado por um juiz que mais tarde foi ministro do governo de Jair Bolsonaro.

Emanuel Caetano, Ermesinde

Por uma República integral

Tem sido muito divulgado (e bem) a abertura do Palácio de São Bento para comemorar a Revolução de 5 de Outubro de 1910. Mesmo sem estudar Cícero ou Platão, (hoje) a maioria das pessoas sabe que os governantes estão na “ágora” democrática pelos votos do povo. E quem for menos distraído sabe, ainda, que vivemos sob um império normativo. Posto isto, questiono: falta muito para estender aquela comemoração aos espaços sociais-culturais e judiciais a bem de uma festa da “República” integral? Será que para o ano vão dar palco ao Palácio da Justiça ou a uma junta de freguesia? E porque não a um estabelecimento prisional ou uma escola ou a um museu?

Emanuel Carvalho, Lisboa

Cumprir com as nossas obrigações

Numa sociedade de Estado de direito, devidamente organizada e com leis igualitárias para com todos os cidadãos que a compõem, deverão manter-se iguais direitos e deveres, em função dos mesmos actos vivenciais praticados. Não queríamos mesmo ventilar este caso, mas, perante um concidadão que aparenta um ar de pessoa séria e cumpridora das suas obrigações, é-nos imperioso reprovar a sua conduta, no que toca a alegadamente eximir-se em pagar os impostos relativos ao produto do seu trabalho. E não são uns meros tostões que parece dever ao bolo contributivo de todos nós. Não! São, nada mais, nada menos, do que quatro milhões de euros de IRS. O visado (…) chama-se Fernando Santos, o actual seleccionador nacional de futebol. Portanto, “quem vê caras, não vê corações”, nem boas ou más intenções.

José Amaral, V.N. Gaia

Sim, é verdade

António Barreto, no PÚBLICO de 1 de Outubro p.p., uma vez mais, fez uma apreciação e síntese da crise ideológica que grassa entre os políticos das esquerdas. O tempo das recriminações estéreis, contra tudo o que não é do seu agrado, deve dar lugar a uma reflexão séria, profunda, abrangente e desapaixonada em ordem a superar as actuais dificuldades e prevenir as que se adivinham para o futuro. Democracia, sim! Mas servida por verdadeiros democratas – sérios, competentes, devotados ao bem comum – com respeito pela Liberdade. Bem-haja Dr. António Barreto, sempre igual a si próprio, lúcido, independente e coerente em tudo o que diz e faz.

José R. L. Saraiva, Lisboa

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