A senhora das formigas

Essa mulher, cujo nome desconheço, deu rosto à miséria e degradação vividas por centenas de idosos, diariamente, num país que continua a não saber valorizá-los e reconhecê-los.

“Era uma vez uma senhora muito velhinha que vivia numa cama e as paredes do quarto eram o seu mundo todo. Às vezes apareciam pessoas perto dela, algumas lavavam-na, outras tratavam-lhe das feridas e, não raras vezes, aparecia alguém cujo rosto lhe era familiar. Quando essas pessoas chegavam, ela tentava fazer um esforço, mas dentro da sua cabeça a desorganização era demasiado grande. A voz não obedecia e nem engolir sem se engasgar lhe era agora possível. Aquele quarto era o mundo todo, mas o seu corpo era uma prisão. Três ou quatro vezes por dia despejavam, à pressa, um líquido acastanhado pelo tubinho que uma mulher vestida de branco lhe tinha enfiado no nariz e que a incomodava de forma permanente. O incómodo era de tal ordem que, mais do que uma vez, puxou para fora aquele tubo dos infernos, mas, ao invés de se livrar dele, alguém lhe amarrou a mão. E agora o corpo prisão era ainda mais doloroso.

Os leitores são a força e a vida do jornal

O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.
Sugerir correcção
Ler 13 comentários