Ser fozeiro é ter vivido a alma da Foz

O leitor João Paulo Cerquinho leu o artigo de Pedro Garcias sobre os fozeiros e apresenta “um contraditório”.

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Banho de São Bartolomeu em 1999 Nuno Miranda

Em primeiro lugar, um aviso à navegação, sou nascido em Urgezes, Guimarães, e sinto-me com direito a dizer que sou vimaranense, direito ao qual acrescento muito orgulho.

Dito isto, concordo em absoluto consigo, Pedro Garcias: não é necessário nascer na Foz do Douro para ser fozeiro, porque eu sinto-me fozeiro.

Condição fundamental para um fozeiro é ter passado a infância e a juventude na Foz, ter vivido a Foz no tempo em que tudo marca: saber o que eram os Surdos, o Japão, o senhor Mário, a Cooperativa da Foz; ter ido alguma vez ao Arraial do Colégio Inglês; ter arranjado a bicicleta no Pilinhas; conhecer a Drogaria Gois, a papelaria Ferreira, o café Juventude ou o Ressaca; ter andado no eléctrico (no 1, no 5 ou no 19 ) sem pagar fechando o “pica” lá dentro, ter andado no 78; ter dito alguma vez ‘vou ao Porto!'; ter recebido uma garrafa de gás em casa entregue pelo Armindo em cima da sua bicicleta; saber quem foi o Zé das Gargalhadas, ter tido como professora a dona Ângela ou a sua irmã dona Aida; ter aprendido a nadar na praia com o banheiro, o senhor Allen; ter mergulhado nos Pilotos; ter jogado futebol no Seminário ou até na Praça de Liège; ter desfilado no São Bartolomeu em traje de papel; ter lanchado na Doce Mar; conhecer o porteiro da Dona Urraca; ter cortado caminho por dentro do cemitério; ter ido parar à 15.ª por experimentar alvos com caçadeira…

Ou mesmo ter um pai ou um avô fozeiros que conheceram uma duna antes de ser Avenida Brasil, isso tudo, sim, são sinais distintivos de um verdadeiro fozeiro.

Ou seja, ser fozeiro não tem a ver com formas de cumprimentar ou de tratar, origem rural ou citadina, ter muito ou pouco dinheiro, fazer vinho ou criar gado nas quintas do Douro ou do Minho. Ser fozeiro é ter sido criado na Foz do Douro, ter vivido a sua alma, ter palmilhado as suas ruas, ter nadado nas águas do rio, ter convivido com outros fozeiros.

Infelizmente, a Foz está a perder a sua identidade, porque se consideram fozeiros forasteiros que procuram apenas uma casa com vista para o rio ou para o mar, que vivem grande parte do dia enfiados dentro de carros em filas de trânsito e à procura de lugares de estacionamento, que não se misturam com os fozeiros porque não os conhecem e o seu estilo de vida não é compatível, e porque, de facto e por fim, não sentem a Foz…

João Paulo Cerquinho

P.S. Caro leitor, pela descrição, o senhor é um fozense. Fozeiro é outra coisa diferente, como bem sabe. Pedro Garcias

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