Presidente do Irão diz que o país tem de lidar com os protestos “com determinação”

Ebrahim Raisi criticou quem “se opõe à segurança e tranquilidade do país”, referindo-se às manifestações de protesto após a morte de uma mulher curda pela chamada “polícia da moralidade”

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A morte de Mahsa Amini levou milhares de pessoas às ruas para se manifestar no Irão (e pelo mundo: na foto, protesto em Berlim) CLEMENS BILAN/EPA

O Presidente iraniano, Ebrahim Raisi, declarou este sábado que o país tem de “lidar com determinação com os que se opõem à segurança e tranquilidade do país”. A afirmação, repetida por agências noticiosas, foi feita num telefonema de condolências à família de um agente de segurança que morreu esfaqueado, aparentemente por manifestantes que saíram à rua depois da morte de Mahsa Amini, de 22 anos, que terá sido detida por usar o “mau hijab”, ou seja, deixando o lenço forma solta, com parte do cabelo de fora.

O uso do hijab (lenço islâmico) foi declarado como obrigatório no Irão logo após a Revolução Islâmica de 1979, num discurso do ayatollah Khomeini, mas as mulheres sempre lhe resistiram. Em 1981 foi aprovada uma lei e os castigos foram aumentados várias vezes. As mulheres foram sempre resistindo a esta obrigação, deixando o lenço solto ou não o usando quando conduzem, por exemplo.

À margem da Assembleia Geral da ONU, que decorreu esta semana em Nova Iorque, Raisi disse que a morte tinha de ser investigada, informando que a responsabilidade pelo caso está nas mãos do sistema judicial, e que as autoridades estão a fazer o que lhes compete.

Oficialmente, a jovem curda teve um AVC e um ataque cardíaco. Mas poucos acreditam, lembrando relatos de polícias que a agrediram mal a detiveram, e que chegaram a bater com a sua cabeça num dos carros da polícia.

Depois da morte de Amini, a 16 de Setembro, num hospital onde esteve três dias em coma após a detenção, muitas iranianas, e iranianos, saíram à rua em protesto, com muitas mulheres a queimar os lenços islâmicos com que são obrigadas a cobrir os cabelos.

Há mais de uma semana que há manifestações em dezenas de cidades, e de palavras de ordem contra o uso obrigatório do hijab (lenço islâmico) passaram a pedir também o regime: “morte ao ditador”. O regime disse na quinta-feira que morreram 17 pessoas, incluindo dois elementos das forças de segurança, nos protestos. Organizações não-governamentais apontam números mais altos.

Em resposta aos protestos, as autoridades restringiram o uso da Internet.

Os protestos são extraordinários num regime repressivo e constituem o maior desafio popular ao regime desde as manifestações de 2019, que foram provocadas pelo aumento do preço dos combustíveis, e que foram brutalmente reprimidas, e do que foi chamada a “onda verde”, em 2009-2010, em reacção à declaração do então Presidente, Mahmoud Ahmaninejad, como vencedor de eleições vistas como fraudulentas, e que também foi esmagada com violência e detenções, incluindo de líderes do movimento como o antigo primeiro-ministro Mir-Hossein Mousavi e Mehdi Karroubi. Estes estão, ainda hoje, em prisão domiciliária.

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