Tempestade Gaston está a chegar aos Açores: a “preocupação” está na chuva

A tempestade tropical vai passar entre os grupos central e oriental do arquipélago. No sábado de manhã, estará a 40 quilómetros da ilha do Faial. Os efeitos poderão sentir-se já esta quinta-feira em algumas ilhas.

Foto
A tempestade tropical Gaston vai estar mais próxima dos Açores no sábado, às 6h Rui Soares

A tempestade tropical Gaston está neste momento a dirigir-se para os Açores, prevendo-se que passe entre os grupos ocidental e central no sábado, uma trajectória diferente da que foi prevista inicialmente, quando se esperava que o fenómeno se mantivesse a norte durante a travessia pelo arquipélago.

A mudança no percurso poderá causar mais problemas do que o previsto, mas, para já, não há motivo para alarme. “Se ele ficasse sempre a norte, os impactos seriam menores. Já vamos sentir mais impactos do que estávamos a prever na quarta-feira”, reconhece Carlos Ramalho, responsável pela delegação regional do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), que ressalva, contudo, que esta tempestade não deverá causar nada de “anormal” na região.

Com as alterações na trajectória, a Gaston vai estar mais próxima dos Açores no sábado, às 6h, quando passar a 40 quilómetros do Faial, a noroeste — inicialmente apontava-se para 130 quilómetros a norte do Corvo. Esta quinta-feira, o centro da tempestade encontrava-se a 380 quilómetros da ilha das Flores, deslocando-se a uma velocidade de 28 quilómetros por hora.

Em princípio, esta vai ser uma situação pela qual já passámos nos Açores. Uma situação a que a sociedade está habituada. Tendo de tomar as precauções necessárias, estamos, de certa forma, habituados a isso”, prossegue Carlos Ramalho.

O vento, por exemplo, está concentrado numa “área muito pequena” da tempestade tropical, sendo difícil prever quais as ilhas que vão ser mais afectadas, uma vez que “vai depender da trajectória exacta” da Gaston, que se está a movimentar de norte para sul no Atlântico.

As previsões apontam, no máximo, para rajadas na ordem dos 100 quilómetros por hora nos grupos ocidental (Flores e Corvo) e central (Pico, Faial, São Jorge, Graciosa e Terceira), a partir de sexta-feira. “Esta intensidade de vento é algo que nos Açores acontece com alguma frequência no Inverno”. Em termos de comparação, dois dias antes do furacão Lorenzo (que estava noutra categoria), em Outubro de 2019, o IPMA previu rajadas na ordem dos 190 quilómetros por hora, com uma probabilidade de 40% de a rajada máxima ser superior a 200 quilómetros por hora.

Se o vento não deverá atingir proporções excepcionais para a realidade açoriana, a chuva intensa é o maior motivo de “preocupação”, com as atenções centradas no que vai acontecer no grupo central durante a madrugada e manhã de sábado.

Aquilo que prevemos é que a Gaston seja uma tempestade tropical que não aumente de categoria e que sábado durante a tarde comece já a perder algumas características tropicais”, resume o meteorologista Carlos Ramalho.

Alerta laranja para a chuva

Na mesma linha, as preocupações da Protecção Civil estão concentradas na chuva: “A nossa grande preocupação está na chuva. O vento será forte, mas não será nada de transcendente”, explica Eduardo Faria, presidente do Serviço Regional de Protecção Civil e Bombeiros dos Açores (SRPCBA).

Todas as ilhas estão sob aviso amarelo para os próximos dias. O grupo central vai estar com aviso laranja entre as 21h de sexta-feira e as 12h de sábado, devido à precipitação. Os impactos que a Gaston poderá ter são imprevisíveis, até porque “as ilhas são muito diferentes em termos de vulnerabilidades”: a “mesma quantidade de precipitação” pode ter “consequências muito diferentes” conforme a ilha. A título de exemplo, sempre que se prevê chuvas fortes, olha-se com cuidado para São Miguel, por ser composta por várias “vertentes instáveis”. Mas, desta vez, a maior ilha açoriana não deverá ser particularmente afectada pela Gaston, tempestade que, ao que tudo indica, vai ter uma breve passagem pela região.

Será uma tempestade tropical que não será muito estacionária, o que é positivo. Já tivemos situações em que este tipo de fenómenos fica durante muito tempo na zona do arquipélago e isso aí é complicado”, destaca Eduardo Faria.

Indiferente à Gaston, durante a tarde de quinta-feira, o sol reluziu em praticamente todo o arquipélago, fazendo inveja aos melhores dias do Verão. Se a população está habituada a reforçar os cuidados em vésperas de situações extremas, desta vez, para já, a tempestade tropical não causou preocupações de maior entre os açorianos, habituados às inconstâncias do clima.

Contudo, a Protecção Civil já emitiu as recomendações habituais para este tipo de situações: recolher os objectos soltos, evitar os passeios junto à costa e não se aproximar de zonas de vertentes instáveis. “Esperemos que não seja nada de anormal, mas devemos tomar sempre cuidados”, conclui o responsável pela Protecção Civil açoriana.

Sugerir correcção
Comentar