O teatro do Mal
Registo sobriamente didáctico, o de A Conferência. Mas um didactismo justificado, porque a memória se apaga, a extrema-direita ressurge, e as palavras se banalizam.
A “conferência” que o título português deixa sem designar é nada mais nada menos do que aquela reunião sucedida em 1942, no subúrbio berlinense de Wannsee, que serviu para o reichsprotektor Reinhard Heydrich anunciar a um conjunto de pequenos e médios funcionários do regime nazi os termos da “solução final para a questão judaica”. A importância histórica vem menos das decisões tomadas — Heydrich veio sobretudo anunciar uma decisão já tomada noutras esferas, e medir o pulso às reacções dos seus esbirros, atento não a reservas de carácter humanista mas a reservas de carácter logístico e burocrático, porque o que estava por fazer doravante era pôr de pé uma colossal máquina de extermínio sistemático — do que do facto de ter subsistido, resgatada à destruição, uma acta razoavelmente completa do encontro, que serviu para negar uma série de alegados “desconhecimentos” do que estava em curso, e foi usada por exemplo no julgamento de Adolf Eichmann (um dos participantes na conferência, com a missão de controlar as actas e respectiva linguagem).
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