Fome extrema duplica em países mais afectados por alterações climáticas

Quase 50 milhões de pessoas estão em risco de fome nos dez países mais afectados por fenómenos climáticos extremos, como secas ou inundações, alerta a Oxfam International num novo relatório.

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Quénia é um dos países do mundo mais afectados pela seca Daniel Irungu/EPA

A crise climática está a intensificar a fome no mundo, alerta a Oxfam International. Num novo relatório, a organização não-governamental (ONG) refere que o número de pessoas em situação de fome extrema mais do que duplicou ao longo dos últimos seis anos nos países particularmente afectados por fenómenos climáticos extremos, como secas ou inundações.

Das 48 milhões de pessoas que, actualmente, não têm comida suficiente na mesa nos dez países analisados no estudo, 18 milhões estão em situação crítica de fome, concluiu a Oxfam, um movimento global que visa combater a pobreza, desigualdade e injustiças no mundo. Somália, Djibuti, Quénia, Níger, Madagáscar, Burkina Faso, Zimbabwe, Haiti, Guatemala e Afeganistão foram os países escolhidos por serem os que receberam o maior número de apelos das Nações Unidas relativamente à ocorrência de fenómenos climáticos extremos desde 2000.

Estes países pouco contribuem para as emissões globais de dióxido de carbono (fazem apenas 0,13% das emissões, segundo o relatório, quando os países do G20 poluem 650 vezes mais), mas são os que mais enfrentam as suas consequências.

Localizados em África, a maioria destes lugares estão a ser alvo de secas catastróficas, onde a desertificação e a consequente destruição de colheitas e de terrenos de pastagem têm arrastado a população para situações de fome extrema ou mesmo crítica. Mas a Oxfam também aponta situações como a do Paquistão que, embora não tenha sido contemplado no estudo, tem sido devastado por chuvas e inundações, tendo quilómetros de colheitas de frutas e vegetais ficado submergidos e milhões de pessoas desalojadas.

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“As causas da fome global são profundamente complexas e os conflitos e as perturbações económicas, incluindo da covid-19, continuam a ser os principais motores. No entanto, estes novos episódios climáticos extremos que se têm vindo a agravar estão cada vez mais a tirar as capacidades às pessoas pobres, particularmente nos países de baixos rendimentos, de evitar a fome e lidar com o próximo choque”, escreve a ONG no relatório.

Ainda que seja difícil identificar o impacto exacto que as alterações climáticas têm tido na fome, é para a Oxfam evidente que estão a “devastar a vida de milhões de pessoas que já se encontram em desvantagem, atingidas por outras crises, tirando-lhes as suas casas, as colheitas, e a sua próxima refeição”.

Ao mesmo tempo, as empresas de combustíveis fósseis continuam a acumular riqueza, de tal forma que os lucros que juntam em menos de 18 dias perfazem os 49 mil milhões de dólares pedidos pelas Nações Unidas este ano para ajuda humanitária, denuncia a ONG.

A Oxfam apela, por isso, a que na COP27, a próxima Cimeira do Clima das Nações Unidas, que decorrerá em Novembro, no Egipto, se tomem medidas de combate à fome nos países mais afectados pelas alterações climáticas e que se defina um financiamento que lhes permita preparar para futuros desastres ambientais.

É preciso que os líderes das nações cumpram “as suas promessas de reduzir as emissões”, uma vez que “a mudança climática deixou de ser uma bomba-relógio, está a explodir diante dos nossos olhos”, alerta a directora da Oxfam International, Gabriela Bucher, citada pelo Guardian.

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