Esta escada tem vista para o pôr do Sol (e para uma reflexão sobre as cidades)

Mais do que um grupo de amigos que partilham a mesma formação, o Colectivo 6 2 4 quer reflectir e intervir nas cidades. O seu primeiro projecto no espaço público foi instalado em Aveiro e devolve a vista tapada por uma vedação metálica.

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Instalação do Colectivo 6 2 4 RUBEN VASQUES

Podia ser apenas uma escada vermelha de três degraus, feita a partir de paletes inutilizadas, mas tem um propósito muito especial: tem vista para o pôr do Sol, devolvendo a quem passa pela Avenida da Força Aérea Portuguesa, em Aveiro, o acesso à paisagem que a vedação metálica, entretanto ali instalada, veio roubar.

A instalação partiu da iniciativa do Colectivo 6 2 4, formado por seis jovens finalistas do curso de Arquitectura da Universidade do Porto, e pretende alertar, “de uma forma subtil, para o impacto que uma simples vedação metálica pode ter na vivência de uma cidade”. Ainda que este seja o seu primeiro projecto em espaço público, o grupo prepara outras acções, tendo já uma ideia em discussão. A perspectiva passa por continuar a desenvolver um “espírito crítico sobre o espaço público e privado e das relações que podem estabelecer entre si”.

Raquel Stattmiller, Ruben Vasques, Beatriz Rosendo, Maria Eduarda Filipe, Miguel Van-Zeller e Patrícia Varão Moreira dizem ter o desejo de serem “agentes activos na comunidade”.

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RUBEN VASQUES

“Estivemos seis anos a fazer o curso de Arquitectura, agora é o momento de usar livremente o que fomos assimilando, sem nos levarmos demasiado a sério. Neste sentido, unimo-nos para poder transformar as nossas ideias em acções e encontramos neste grupo o apoio, a consciência e a amizade que tornam possíveis as nossas intervenções”, contam, a pretexto da instalação que acabam de concretizar em Aveiro — é nesta cidade que habita Raquel; os restantes elementos do colectivo moram na Póvoa de Varzim, Coimbra, Viseu e Maia.

As “Escadas para o pôr do Sol”, assim se designa a instalação colocada na avenida em Aveiro, parecem ter merecido acolhimento por parte dos moradores da zona habitacional. “Recentemente, reparámos que a intervenção mudou ligeiramente de sítio. Ao subirmos os três degraus percebemos o porquê: no local inicial, apesar de estar centrado relativamente à rua, havia um caniço-de-água que impedia uma pequena parte da vista; no novo lugar, isso já não acontece”, contam. Raquel, Ruben, Beatriz, Maria Eduarda, Miguel e Patrícia decidiram manter o novo posicionamento, atendendo a que o objectivo do projecto passa, precisamente, por os habitantes se sentirem “à vontade para se apropriarem do espaço onde vivem”.

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Os seis do Coletivo 6 2 4 DR

Não obstante a sua curta existência foi fundado em 2021, sendo que dois dos seus elementos já concluíram o curso , o Colectivo 6 2 4 já teve oportunidade de participar no concurso Dwelling in Transition - Experiences From Lockdown, promovido pela ESAD (Escola Superior de Artes e Design), tendo sido nomeado como um dos 28 trabalhos seleccionados para exposição e publicação, num contexto de 126 propostas submetidas.

A este projecto soma-se ainda a participação em “dois ateliers performativos, um no Porto, O Corpo Presente, e outro em Lausanne, O Corpo Urbano”, destacam. Aqui, experimentaram “diferentes maneiras de mover o corpo em relação a uma cadeira e ao espaço público, utilizando este objecto como dispositivo mediador do corpo no espaço”, desvendam.

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A instalação na Avenida da Força Aérea Portuguesa, em Aveiro. RUBEN VASQUES

Outros projectos na calha

Os elementos do Colectivo 6 2 4 não estão presos a uma só cidade ou região. “Quando surgem as oportunidades, seja em concursos, investigações, ou, como no caso de Aveiro, uma emergência do espaço público, fazemos o esforço de síntese criando a intervenção”, apontam. “O mundo é uma oportunidade para nós e tentamos manter um olhar crítico, para que quando surja o espaço e o tempo certo, os possamos transformar através do nosso ponto de vista”, acrescentam, sem deixarem de reconhecer que se sentem “mais felizes” em intervir nos problemas das cidades onde cresceram. “Acaba por ser o ambiente que temos mais próximo da consciência e da alma”, frisam.

Talvez por isso mesmo, um dos seus próximos projectos “será também um novo ponto de vista sobre a cidade, mais precisamente, sobre Viseu”, anunciam, sem desvendar grandes pormenores. “Não podemos ainda partilhar o verdadeiro significado desta iniciativa, mas o seu âmbito está directamente relacionado com o espaço público e com as relações de familiaridade que estabelecemos com ele”, relatam.

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