Adriano Moreira, o político da história democrática com a maior longevidade

Foi presidente do CDS e ministro do Ultramar. Adriano Moreira, professor universitário, completa esta terça-feira 100 anos.

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Adriano Moreira foi condecorado em Junho pelo Presidente da República LUSA/MIGUEL A. LOPES

Adriano Moreira, ministro do Ultramar no período da ditadura e presidente do CDS, completa na terça-feira 100 anos e torna-se no político da história democrática com a maior longevidade.

Condecorado pelo Presidente da República em Junho com a Grã-Cruz da Ordem de Camões, Adriano José Alves Moreira nasceu em Grijó, Macedo de Cavaleiros, em 6 de Setembro de 1922.

Ex-membro do Conselho de Estado indicado pelo CDS-PP, Adriano Moreira teve um percurso académico e político dividido entre dois regimes, tendo sido ministro do Ultramar no Estado Novo, de 1961 a 1963, e presidente do Centro Democrático e Social (CDS) em democracia, de 1986 a 1988.

Professor universitário com dezenas de obras publicadas, fortemente ligado ao actual Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), que dirigiu e ajudou a reformar antes do 25 de Abril, foi também deputado, entre 1980 e 1995, e vice-presidente da Assembleia da República no seu último mandato parlamentar.

“A minha vida foi a escola, sobretudo. A intervenção política foi mais por obrigação cívica”, afirmou Adriano Moreira, numa entrevista à agência Lusa, em 2012.

Adriano José Alves Moreira nasceu em Grijó, Macedo de Cavaleiros, no distrito de Bragança, em 6 de Setembro de 1922, filho de António José Moreira, que foi subchefe da Polícia de Segurança Pública (PSP) no porto de Lisboa, e de Leopoldina do Céu Alves.

Adriano Moreira (ao centro) acompanhado pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa (à esquerda) é cumprimentado pelo antigo presidente da República, General Ramalho Eanes (à direita) na apresentação do seu livro A Nossa Época - Salvar a Esperança , na Academia das Ciências de Lisboa em Lisboa, 28 de Fevereiro de 2020 MIGUEL A. LOPES
O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa (direita) aplaude Adriano Moreira após a sua intervenção na apresentação do seu livro A Nossa Época - Salvar a Esperança, na Academia das Ciências de Lisboa em Lisboa, a 28 de Fevereiro de 2020 MIGUEL A. LOPES
Comemorações 45º aniversário do 25 de abril 1974. Sessão solene na Assembleia da República. Adriano Moreira cumprimenta o deputado do PCP, Jerónimo de Sousa. Lisboa 25 de Abril 2019 Daniel Rocha
Adriano Moreira antigo presidente do CDS (1985-88) homenageado durante o 27º congresso do CDS-PP. Na foto acompanhado pela mulher Isabel Lima Mayer (à direita) e por Assunção Cristas, actual líder do partido. Lamego, 10 de Março 2018 Adriano Miranda
Adriano Moreira, antigo presidente do CDS (1985-88) homenageado durante o 27º congresso do CDS-PP. Na foto durante o seu discurso. Lamego, 10 de Março 2018 Adriano Miranda
Adriano Moreira (esquerda) assina o livro de honra na tomada de posse dos novos membros do Conselho do Estado, Palácio de Belém, 12 de Janeiro 2016 Rui Gaudêncio
Homenagem a Adriano Moreira durante a sessão solene de abertura do ano lectivo no Conselho Nacional de Educação. Lisboa, 22 de Setembro de 2014 Enric Vives-Rubio
Homenagem a Adriano Moreira durante a sessão solene de abertura do ano lectivo no Conselho Nacional de Educação. Lisboa, 22 de Setembro de 2014 Enric Vives-Rubio
Adriano Moreira durante a conferência de imprensa com reitores sobre cortes no Ensino Superior. Lisboa, 7 de Novembro 2012 Miguel Manso
Adriano Moreira na cerimónia de entrega do Grau de Doutor Honoris Causa pela Universidade Técnica de Lisboa ao presidente da Comissão Europeia José Manuel Durão Barroso (esquerda). Lisboa, 12 Dezembro 2011 Pedro Cunha
Adriano Moreira e Mário Soares no debate "Novos Paradigmas" da política portuguesa, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), 19 Outubro 2011 Ricardo Castelo\NFACTOS
Adriano Moreira, durante a entrevista Diga lá Excelência, série de entrevistas da RTP, conduzidas por jornalistas do PÚBLICO e da Rádio Renascença. Lisboa, 5 de Junho 2009 Carlos Manuel Martins
Adriano Moreira e Marcelo Rebelo de Sousa, durante a congresso "Pensar Portugal" promovido pela Associação Nacional de Jovens Jornalistas. Lisboa, 14 de Abril 2000 David Clifford
Adriano Moreira (direita), José Magalhães (esquerda) e Narana Coissoró (centro), no lançamento de uma obra postuma de Luís Sá, Traição dos Funcionários, no Cine-Teatro São João. Palmela, 31 de Outubro 2000 Miguel Madeira
Adriano Moreira na tomada de posse como presidente do Conselho Nacional de Avaliação. Lisboa, 11 de Março 1999 Dulce Fernandes
Adriano Moreira numa entrevista ao PÚBLICO. Lisboa, 10 de Abril 2000 Miguel Madeira
Adriano Moreira (esquerda) na cerimónia de abertura do ano académico da Universidade de Lisboa. Na foto com António Manuel da Cruz Serra (reitor da UTL), António Sampaio da Nóvoa (reitor da UL) e Henrique Granadeiro. Lisboa, 16 de Janeiro de 2013 Miguel Manso
Adriano Moreira ganhou uma aura especial na conjuntura crítica de 1961-62 ARCHIVO REGIONAL DE LA COMUNIDAD DE MADRID
Tomada de posse dos novos ministros no Palácio de Belém, em Abril de 1961, com Adriano Moreira como ministro do Ultramar, ao centro, ao lado de Salazar DR
Os primeiros decretos assinados por Moreira foram ao encontro de reivindicações antigas das associações económicas angolanas, há muito insatisfeitas com o “centralismo” de Lisboa DR
Adriano Moreira durante uma visita a Angola em 1961 DR
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Adriano Moreira (ao centro) acompanhado pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa (à esquerda) é cumprimentado pelo antigo presidente da República, General Ramalho Eanes (à direita) na apresentação do seu livro A Nossa Época - Salvar a Esperança , na Academia das Ciências de Lisboa em Lisboa, 28 de Fevereiro de 2020 MIGUEL A. LOPES

Em Lisboa, morou em Campolide, estudou no Liceu Passos Manuel e licenciou-se em Ciências Histórico-Jurídicas pela Faculdade de Direito de Lisboa, em 1944. Recém-formado, começou a exercer a advocacia e o seu envolvimento num processo contra o então ministro da Guerra, Fernando dos Santos Costa, valeu-lhe uma detenção.

No Aljube, de onde foi libertado passados cerca de dois meses, conheceu Mário Soares: “Até então, só o conhecia de nome. Era um jovem que muita gente apreciava, porque tinha uma certa alegria e também porque era muito determinado e consistente para a idade. Mas defendíamos posições inteiramente contrárias”, relatou, citado pela Visão, em 1995.

Entretanto, ingressou no corpo docente da antiga Escola Superior Colonial, que passaria a Instituto Superior de Estudos Ultramarinos - o actual ISCSP, pelo qual se doutorou, assim como pela Universidade Complutense de Madrid - e que, com a sua intervenção, seria integrado na Universidade Técnica de Lisboa.

A sua tese “O Problema Prisional do Ultramar”, editada em 1954, foi premiada pela Academia das Ciências de Lisboa. Entre 1957 e 1959, Adriano Moreira fez parte da delegação portuguesa às Nações Unidas: “Aí pude ouvir pela primeira vez em liberdade as vozes dos povos que eram tratados como mudos ou como dispensáveis. E isso mais avivou a minha ideia de que tínhamos de transformar completamente o ensino”.

António de Oliveira Salazar chamou-o então para o Governo, primeiro para subsecretário de Estado da Administração Ultramarina, em 1960, e depois para ministro do Ultramar, em 1961. Estalavam as primeiras revoltas em Angola contra a colonização portuguesa.

Segundo o próprio Adriano Moreira, Salazar convidou-o para que pusesse em prática um conjunto de reformas de que falava nas suas aulas, mas posteriormente pediu-lhe para mudar de política e a sua resposta foi: “Vossa excelência acaba de mudar de ministro”.

“Fui ministro de Salazar, mas fui o ministro que fui: revoguei o Estatuto do Indigenato e aboli as culturas obrigatórias nas colónias”, disse ao Expresso, em 1983.

Quando deixou o Governo, em 1963, voltou ao ensino e casou-se em 1968 com Mónica Isabel Lima Mayer, com quem teve seis filhos, António, Mónica, Nuno, Isabel, João e Teresa. Foi presidente da Sociedade de Geografia.

Após o 25 de Abril de 1974, foi saneado das funções oficiais e esteve exilado no Brasil, onde foi professor na Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Em 1980, regressou à política activa, como candidato a deputado nas listas da Aliança Democrática (AD). Filiou-se no CDS, que acabaria por liderar, entre 1986 e 1988, e continuou deputado até 1995.

Em 2014, Adriano Moreira foi uma das 70 personalidades que defenderam a reestruturação da dívida pública como única saída para a crise.

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