Cartas ao director

As crianças, a ética e a lei

A vossa manchete de ontem, bem como as páginas 10 e 11, são muito importantes. A propósito dum parecer do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV), fala-se da autonomia de algumas crianças, os adolescentes (é mesmo deles que se fala), em algumas situações de saúde/doença, em que pode e deve ser exercida. É-se menor de idade até aos 18 anos, momento em que se inicia a adultícia, mas – como no caso vertente da vida sexual e de doenças sexualmente transmissíveis – os pais não “metem prego nem estopa” na decisão tomada pelo adolescente acima dos 16 anos, embora possam ser colaborantes. Vai havendo uma grande confusão no léxico, bem como nos direitos das crianças a ter opinião e, mais ainda, poder de decisão legal, no caso dos adolescentes após os 14/16 anos. E isso não aproveita a ninguém de boa-fé.

Já agora, no campo da linguagem, é bom que todos usemos linguagem correcta, senão ainda aumenta mais a dita confusão. Exemplo? A encimar a entrevista de Margarida Gaspar de Matos, por que é que a jornalista releva que aquela sublinha “todos os jovens têm de ter um espacinho para a sua privacidade” (sic)? Jovens? Os jovens são adultos e do que se falava era de adolescentes, que, sendo jovens adjectivamente, não o são em termos substantivos de classificação etária. Mas, bom e oportuno tema tratado agora pelo PÚBLICO. Gostei.

Fernando Cardoso Rodrigues, Porto

O “Portinglês” do ministro da Cultura

Que devemos esperar de Pedro Adão e Silva, ministro da Cultura? Pelo menos, isto: ser capaz de falar — competentemente — a língua de Camões. Esperança vã! Como ex-comentador de futebol, mantém todos os tiques da sua tribo, na qual não faltam os papagaios do “Portinglês”. A título de exemplo, veja se esta pérola: “Estou focado [sic] em ser ministro” (cf. primeira página da edição do PÚBLICO de 9 de Agosto). Reparem! Adão e Silva não está empenhado nem concentrado no seu cargo, mas possui um foco, ou seja, um dispositivo óptico, cuja luz incide precisamente sobre o esplendor da cadeira ministerial que tem a distinta honra de ocupar. — E esta, hem?!

Eurico de Carvalho, Vila do Conde

P.S.: Atentemos nesta expressão inglesa: “to be focused on”. Que significa? Obviamente, estar concentrado, atento ou empenhado (nalguma coisa).

Relíquia por relíquia...

Em artigo de ontem no PÚBLICO, o presidente da Câmara Municipal do Porto justifica o envio do coração de D. Pedro para o Brasil com a conveniência do gesto que, segundo ele, assinala a presença da cidade nas comemorações da independência daquele país.

Fraco argumento. Se o envio de vísceras é assim tão relevante, seria mais apropriado enviar uma dose de tripas. Além de serem absolutamente representativas da gastronomia local – o que, como gostam de dizer os autarcas, “é uma mais-valia” turística –, esta atitude evitava o manifesto mau gosto da iniciativa, tomada, aliás, sem consulta do imperador que, se quisesse o coração noutro local, não o teria deixado ao Porto. Ademais, se a verdadeira questão é a importância de enviar uma relíquia, Eça deixou, no romance homónimo, uma sugestão bem mais conforme com o calor dos trópicos.

Sérgio Tovar de Carvalho, Lourinhã

Censura encapotada

Como censurar uma notícia de evidente interesse público (sem ironia) de maneira a não se ser acusado de censura? O jornal PÚBLICO mostra como se faz: na sua edição de 5 de Agosto de 2022, publica com destaque na página 23 uma notícia que quase já é rotineira sobre mais armas para a Ucrânia e, inserida nessa notícia, uma outra, essa sim, com verdadeiro interesse, nem que seja por referir uma organização defensora dos direitos humanos com prestígio mundial. Nessa escondida notícia é referido um relatório da Amnistia Internacional onde é denunciado o procedimento das tropas ucranianas de se colocarem em cidades junto a escolas, hospitais e outros locais para usarem a população como escudo humano. Essa, que era uma notícia relevante, foi dissimulada noutra que não passava de mais do mesmo. (…)

Jorge Alexandre Martins, Santo António dos Cavaleiros

Um grande jornal

É sempre com interesse e prazer que leio Carmo Afonso, João Miguel Tavares, Manuel Loff, Maria de Fátima Bonifácio, Boaventura Sousa Santos, Paula Teixeira da Cruz, Manuel Carvalho, José Manuel Barata-Feyo, António Barreto, José Pacheco Pereira, Ana Cristina Leonardo, Miguel Esteves Cardoso, Teresa de Sousa e tantos outros colunistas que enriquecem o PÚBLICO com os seus textos. Obviamente que nem sempre concordo com tudo o que dizem, mas o facto de os leitores estarem expostos a uma diversidade e pluralidade de opiniões, algumas de colunistas ideologicamente nos antípodas de outros, é o que faz do PÚBLICO o grande jornal que, a meu ver, ele é.

Ronald Silley, West Vancouver, Canadá

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