Há buracos no fundo do mar ao largo do Açores que não se sabe como surgiram

As hipóteses para o seu aparecimento adensam o mistério: intervenção do homem ou de uma espécie desconhecida de caranguejo, emanações gasosas ou até proveniência alienígena são algumas das explicações avançadas.

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Imagens do fundo do mar Administração Nacional Dos Oceanos E Da Atmosfera Dos Eua
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Os buracos Administração Nacional Dos Oceanos E Da Atmosfera Dos Eua

No passado dia 23 de Julho, durante o mergulho efectuado por investigadores que participam na expedição Voyage to the Ridge 2022 na dorsal meso-atlântica e no planalto dos Açores, foram identificados no sedimento do fundo do mar, a uma profundidade de 2540 metros, “muitos pequenos buracos, dispostos num padrão regular e alinhados em linha recta até vários metros de comprimento”.

O que chamou a atenção dos cientistas é que, em ambos os casos, as perfurações são uniformes, como se tivessem sido obra de um humano. Mas os pequenos montes de sedimentos existentes ao redor de cada um deles indiciam que podem resultar da acção de animais.

“Tentámos mas não conseguimos observá-los com as ferramentas do veículo operado remotamente (ROV)”. Também não ficou claro se os buracos estavam ligados entre si, por debaixo do sedimento do fundo oceânico, refere, em comunicado publicado a 27 de Julho, o Departamento Nacional Oceânico e Atmosférico dos EUA (NOAA), entidade que lidera a expedição Voyage to the Ridge 2022. Apenas foi possível concluir que os buracos tinham sido escavados. Em síntese: a incógnita subsiste sobre a sua verdadeira origem.

Os investigadores que se encontram a bordo do navio Okeanos Explorer observaram os buracos a 23 de Julho, através de um veículo de controlo remoto, quando o aparelho explorava uma cordilheira vulcânica a norte do arquipélago dos Açores.

Estava assim confirmada a descoberta do mesmo tipo de buracos feita em 2004 pelos cientistas Michael Vecchione, do Laboratório Nacional de Biodiversidade do Serviço Nacional de Pesca Marinha dos Estados Unidos, e Odd Aksel Bergstad, do Instituto de Pesquisa Marinha da Noruega, a uma profundidade de 2082 metros na mesma área. Neste caso, as linhas de buracos observadas não eram rectas, como se constata na descoberta feita recentemente, mas curvas.

Confrontados com as dificuldades na interpretação de quem ou o que criou as fileiras de buracos no fundo do mar, os cientistas recorreram à colocação de imagens nas redes sociais, uma iniciativa que gerou as mais variadas versões sobre a sua origem.

Enquanto uns vaticinam ser resultado da intervenção do homem ou de uma espécie desconhecida de caranguejos, outros comentários avançam para a possibilidade dos buracos serem provocados por gás vindo das profundezas do oceano ou até deixados pela acção de alienígenas.

Num artigo publicado em 2004, Michael Vecchione e Odd Aksel Bergstad reconheceram que os buracos descobertos no fundo oceânico “deixaram em aberto lacunas na compreensão dos ecossistemas da cordilheira meso-oceânica” que a expedição em curso pretendia superar.

No relatório elaborado por Vecchione e Bergstad em Julho de 2004, e consultado pelo PÚBLICO, os dois cientistas reconhecem não terem sido capazes de determinar “definitivamente a origem dos buracos ou como eles foram construídos”, mas admitiam que o sedimento levantado fosse resultado directo da escavação efectuada por um organismo que vive no seu interior, pormenor que não foi confirmado no decorrer da expedição Voyage to the Ridge 2022, que se iniciou a 14 de Maio para terminar a 2 de Setembro próximo.

Depois de completar a segunda expedição​ Voyage to the Ridge 2022, o navio Okeanos Explorer encontra-se, neste momento, no porto da Horta, nos Açores, para uma breve estadia, para iniciar no próximo domingo a terceira expedição que se prolongará até ao dia 29 de Agosto.

A série de três expedições de exploração oceânica incluiu operações de mapeamento e mergulhos com ROV para recolher “informação básica sobre áreas inexploradas em águas profundas e mal compreendidas” da zona de fractura Charlie-Gibbs, cordilheira meso-atlântica e planalto dos Açores, explica o NOAA.

A área que está a ser investigada estende-se ao longo de 16.000 quilómetros do oceano Atlântico e na dorsal meso-atlântica, a “maior cadeia de montanhas do mundo e uma das características geológicas mais proeminentes da Terra”.

Os mergulhos com ROV podem abranger profundidades que variam de 250 a 6000 metros de profundidade. “Esperamos explorar habitats de corais e esponjas do fundo do mar, potenciais fontes hidrotermais e sistemas de sulfuretos polimetálicos extintos, zonas de fractura e rift e a coluna de água”, sublinha a organização americana, também conhecida pela “NASA dos mares”.

E no dia 7 de Agosto a investigação estende-se às imediações da ilha do Faial, nos Açores, e de San Juan de Porto Rico. Joana Xavier, investigadora no Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto, integra a expedição.

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