Jovens promessas blindadas por clubes

Clubes portugueses elevam a fasquia nos contratos de formação para se protegerem dos estrangeiros.

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João Félix tinha uma cláusula de rescisão no Benfica de 120 milhões de euros LUSA/MIGUEL A. LOPES

Uma cláusula de 40 milhões de euros em contratos de formação é o exemplo acabado dos atropelos que esta lei permite, atendendo à real massa salarial e ao incerto valor de mercado dos jovens futebolistas, balizas aparentemente ignoradas em nome das expectativas criadas pelos dirigentes dos clubes, que disparam em todas as direcções, sempre na esperança de descobrirem e rentabilizarem os novos “Cristianos Ronaldos”.

Em termos legais, por este tipo de contrato ser normalmente desproporcional e irracional, há jurisprudência que permite aos tribunais corrigirem algumas situações reduzindo os montantes indemnizatórios. Até porque os mais jovens têm um poder negocial muito reduzido, aceitando quase sempre as condições propostas.

Ao Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF) chegam casos de jovens de 13 e 14 anos que assinam contratos com “opção/promessa” de renovação que muitas vezes “prendem” os jogadores aos clubes praticamente até aos 20 anos.

O absurdo desta situação, no limite, é que pode deixar um jogador refém, mesmo que não queira prosseguir a carreira de futebolista. Neste caso, os clubes poderiam fazer valer os seus direitos, embora seja difícil imaginar alguém a ser obrigado a jogar contra a própria vontade.

Na base de algumas destas políticas está um dos principais receios dos clubes, relacionado com a capacidade de emblemas estrangeiros recrutarem os talentos mais promissores em Portugal, o que leva os responsáveis de equipas rivais a selarem “acordos de cavalheiros” para se protegerem da ameaça externa.

A regulação e gestão desta questão toca ainda outros aspectos a que FIFA está particularmente atenta. O fenómeno dos clubes-estado derruba toda a lógica negocial, levando as transferências para patamares proibitivos, seja nos futebolistas consagrados ou nos jovens prodígios.

O fluxo financeiro, a proveniência e legitimidade do dinheiro estão no radar das autoridades, que, ainda assim, são ultrapassadas pela voragem dos tubarões. Basta ver a luta em torno do cumprimento do fair-play financeiro por clubes como o Paris Saint-Germain ou Manchester City.

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