Jovens mais curiosos mas longe de aderirem à “jota” da NATO

Até ao próximo sábado, a Academia da Força Aérea, em Sintra, é palco de uma discussão sobre os principais temas na agenda da NATO, num encontro organizado pela Associação da Juventude Portuguesa do Atlântico (AJPA), a “ala jovem” da NATO em Portugal.

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A Associação da Juventude Portuguesa do Atlântico/YATA Portugal é a ala jovem da Comissão Portuguesa do Atlântico Christian Hartmann

Durante uma semana, uma geração que, até agora, nunca tinha vivido num contexto de guerra, estará sentada a discutir a agenda de uma organização que até ao início do ano muitos consideravam “obsoleta” (chamou-lhe Donald Trump) e “em morte cerebral” (diria Emmanuel Macron). A invasão da Rússia à Ucrânia reavivou a curiosidade em relação ao papel da NATO - nomeadamente entre os mais jovens -, mas até onde é que esse interesse leva uma geração que não tem na sua lista de preocupações as questões da Defesa ou Segurança Internacional? Ao PÚBLICO, o presidente da Associação da Juventude Portuguesa do Atlântico (AJPA), a “ala jovem” da NATO em Portugal - uma espécie de “jota” da NATO no país - que organiza o seminário internacional que juntará especialistas políticos e geopolíticos, fala das dificuldades em conquistar a atenção dos mais jovens e sugere que se debata um novo modelo para o Dia da Defesa Nacional.

Embora a guerra contra a Ucrânia tenha despertado nos jovens alguma curiosidade em relação à aliança da NATO e às implicações que um ataque a um dos Estados-membros teria para Portugal, a AJPA não registou diferenças substanciais em relação ao interesse dos jovens pelas questões de Defesa - o que o preocupa. “Não devemos ser radicais ou extremistas, mas é importante haver um debate público” sobre a importância de sensibilizar uma geração para as questões de Defesa e “para a carreira militar”, que os números mostram ser cada vez menos atractiva para os jovens. E aqueles que a procuram têm uma cor partidária? Manuel dos Santos garante que, “felizmente”, não. “São jovens que se encontram em cursos ligados à Ciência Política e Relações Internacionais. Mas não traço qualquer perfil político-partidário”, diz.

Por outro lado, Manuel dos Santos ressalva que o actual modelo de participação cívica dos jovens até aos 35 anos não se traduz necessariamente em adesões às associações ou partidos, sem que isso signifique que os jovens não estão atentos a determinados temas. “Os jovens adoptam cada vez mais bandeiras e causas, mas não têm necessariamente que se associar a um partido político ou associação”, acompanhando as bandeiras de outras formas que “não se reflectem necessariamente no associativismo”. “Tenho a certeza que a consciencialização para a questão da Defesa irá aumentar nos próximos tempos”, completa.

Até lá, é preciso “repensar” formas de aproximar os jovens dos “ideais das Forças Armadas” e mostrar que, “mais do que defesa”, estão em causa também “valores de soberania, cidadania e o papel de Portugal no mundo”. De que forma? Embora não defenda o regresso do serviço militar obrigatório, o presidente da “ala jovem” da NATO não exclui essa discussão. “É algo que vamos ter de abordar em conjunto, enquanto sociedade civil. E acho que é um tema que deve ir para cima da mesa”, considera Manuel dos Santos. O jovem lembra que a ministra da Defesa, Helena Carreiras, “já disse que neste momento não é uma questão” e sugere que se comece por discutir a criação de “um plano curricular que aproxime os jovens das Forças Armadas”.

Para Manuel dos Santos, “o dia da Defesa Nacional está desfasado da realidade e por isso é que depois as Forças Armadas têm dificuldade na atracção de talento”. Esse desconhecimento somado aos problemas carreira militar, nomeadamente em relação à falta de incentivos e salários pouco atractivos, poderão tornar-se um problema se e quando o conflito provocado pela Rússia se estender a outros países. “Sabemos que Putin tem um projecto imperialista e avança para a Estónia, Letónia ou Lituânia - que fazem parte da NATO - activa-se o atrigo 5.º que estipula que um ataque contra um Estado-membro é um ataque contra todos. E aí Portugal vai estar implicado”, nota.

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