Guerra na Ucrânia
Dar à luz em cenário de guerra, na última maternidade que resiste, em Donetsk
Há sacos de areia empilhados diante das janelas do centro materno-infantil de Pokrovsk, a 40 quilómetros da linha da frente da guerra, no Leste da Ucrânia. “Já aconteceu várias vezes assistirmos a partos durante bombardeamentos”, contou um médico à Reuters. O número de partos de bebés prematuros disparou desde o início da guerra.
A apenas 40 quilómetros da linha da frente da guerra, em Donetsk, mantém-se em funcionamento a única e última maternidade de toda a região que ainda está sob controlo ucraniano. No interior do edifício, em Pokrovsk, dezenas de mulheres enfrentam a natural ansiedade pré-parto e o stress provocado pela guerra, na iminência de um ataque que tenha capacidade de destruir o edifício e as vidas nele contidas. Diante das janelas do centro materno-infantil, há sacos de areia empilhados. “Já aconteceu várias vezes assistirmos a partos durante bombardeamentos”, refere o médico obstetra Ivan Tsyganok, em entrevista à Reuters.
Katya Buravtsova, de 35 anos, tem no colo o filho quando a Reuters visita a maternidade, a 13 de Julho. Illiusha nasceu prematuro, após parcas 28 semanas de gestação. “Teria zero chances de sobrevivência se não fosse pelo centro”, garante o médico Tsyganok. “Tomámos conta dele 24 horas por dia.” Se não tivesse dado à luz na maternidade, Buravtsova “podia ter tido o parto num celeiro”, à semelhança de outras mulheres da cidade Kurakhove, que foi bombardeada.
O nascimento prematuro de Illiusha ainda é uma excepção à regra, na Ucrânia, mas a tendência está a inverter-se. Desde o início da guerra, a 24 de Fevereiro, 19 dos 115 bebés que nasceram na maternidade, em Pokrovsk, foram prematuros — uma taxa de 16,5%. A Organização Mundial da Saúde estima que, em anos anteriores, a mesma taxa rondava os 9%. Associados ao stress causado pelo conflito estão outros problemas na gestação, nomeadamente a insuficiência placentária, que consiste numa transferência deficitária de oxigénio e nutrientes da mãe para o feto.
Viktoriya Sokolovska, de 16 anos, aguardava o momento de dar à luz quando a Reuters visitou Pokrovsk. “A guerra está a deixar-me muito nervosa”, lamentou. Temia que o seu nervosismo afectasse o bebé, mas tal não aconteceu. Emilia nasceu perfeitamente saudável.