Tempo de férias entre avós e netos

Alguns pais e netos têm a sorte de ter avós ou familiares com tempo livre e disponibilidade para tomar conta dos netos. É importante para os pais, que podem assim ter uns dias para si; é importante para avós e netos, pois fortalece as relações entre ambos.

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Os avós são ótimos contadores de histórias antigas e memórias de família DR/Nikoline Arns

Com a chegada das férias grandes, um período extenso (de quase três meses e três vezes maior do que as férias a que os pais têm direito), é impossível que os pais estejam disponíveis para ficar com os filhos todo este tempo. Assim, o pai tem que encontrar soluções para manter os filhos ativos, seguros e felizes. Alguns pais e netos têm a sorte de ter avós ou familiares com tempo livre e disponibilidade para tomar conta dos netos.

É importante para os pais, que podem assim ter uns dias para si, é importante para avós e netos, pois fortalece as relações entre ambos. Como contam os testemunhos dos netos Catarina, Tomás, Teresa, Constança, Inês e Matilde. Os momentos em família, entre avós e netos, criam memórias afetivas positivas, boas recordações e reforçam a dinâmica familiar, que os netos e os avós levam para o resto da vida: “Estar em casa dos avós em férias é muito divertido” (Matilde).

As férias entre netos e avós são momentos únicos de criação de memórias felizes: “Vou-me lembrar destas férias para sempre” (Teresa), memórias que guardam no coração de relações de ternura; “passar férias com os avós traz um quentinho no coração” (Constança), e de partilha de tempo com afeto; “lembro-me também do colinho para apoiar a cabeça na praia” (Constança).

Os avós são mais tolerantes — “Passar férias com os meus avós é muito divertido! Podemos fazer muito mais coisas, tipo ficar acordados até mais tarde e comer muito gelado depois do jantar!” (Teresa), e têm regras diferentes; “era fazer tudo o que não se fazia em casa. Era do melhor que há” (Inês).

Os avós são normalmente mais descontraídos e pacientes e os netos gostam — “A minha avó, embora tivesse sido muito convencional na educação que deu à minha mãe, com os netos conseguiu dar sempre bastante liberdade, podia passar a tarde toda a andar de bicicleta e jogar à bola que ela não se importava” (Tomás).

Os avós fazem programas e atividades diversas e divertidas — “Durante o dia, vamos à praia e damos passeios” (Teresa), em rituais securizantes que todos os anos se partilham, únicos em cada família; “passar férias com a minha avó era sentarmo-nos no Jogo da Bola na Ericeira a comer bolachinhas de canela duras em forma de S da casa Gama e bolas de gelado de pistacho” (Inês).

Os avós usam rituais afetivos poderosos que ajudam a construir as rotinas familiares, e que podem ser diferentes entre avô e avó — “O meu avô sempre foi muito social e ativo, por isso, umas vezes, vinha trazer as refeições a casa e outras levava-me a tomar o pequeno almoço fora, mas era com a minha avó que eu passava grande parte do tempo” (Tomás). São rituais divertidos — “Brincamos muito, fazemos bolos, vamos à piscina, vamos à horta e por vezes vamos ao café… vamos fazer caminhadas e andar de bicicleta, é muito divertido” (Matilde).

As atividades com os avós realizam-se fora de casa — “Também gostava muito quando íamos às piscinas municipais, o meu avô nadava comigo e brincava muito…” (Tomás); ou dentro de casa, com a televisão — “Via as novelas todas com a minha avó e as notícias com o meu avô. À tarde podia escolher o que quisesse dos quatro canais que haviam para ver” (Tomás); ou em jogos de mesa — “E os jogos de cartas, muito competitivos” (Constança).

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“Passar férias com os meus avós é muito divertido! Podemos fazer muito mais coisas, tipo ficar acordados até mais tarde e comer muito gelado depois do jantar!” (Teresa) Getty Images

A segurança que os avós trazem aos netos permite-lhes serem mais confiantes e autónomos nas suas brincadeiras — “Entretinha-me com pouco, gostava muito de desporto e brincar às profissões” (Tomás), ou na companhia dos primos que se juntam em casa dos avós “muitas vezes na companhia do meu primo — ele é 7 anos mais velho, então brincávamos muito tempo” (Tomás). A casa dos avós é um porto de abrigo familiar: “Eu gosto muito de brincar na casa dos meus avós com os meus primos… e o que eu gosto mais é estarmos todos juntos” (Matilde).

Os netos também gostam de ter a oportunidade de ajudar os avós na construção de rotinas — “Ajudamos a fazer algumas coisas” (Matilde).

Estar com os avós é viver um tempo de qualidade de forma mais calma — “Sempre passei uma boa temporada, pelo menos três semanas, com eles no Alentejo, onde tinham casa de férias; chegamos a ir ao Algarve passar férias também” (Tomás). É uma oportunidade de partilha e transmissão de saberes e de experiências — “Quando era mais nova, as férias com os avós eram sempre mais culturais e enriquecedoras, pois eles tinham um conhecimento do mundo inigualável. Levavam-nos aos sítios mais fantásticos e sabiam a história por detrás dos mesmos” (Catarina).

Os avós são ótimos contadores de histórias antigas e memórias de família — “Era ouvir histórias do arco da velha e rir muito” (Inês), que partilham numa enorme cumplicidade e alegria; “poder partilhar histórias e rir na cumplicidade dessa partilha é de fato o que posso sublinhar de melhor” (Constança).

Neste tempo em que os filhos estão mais longe dos pais podem sentir saudades. Nesses momentos podem telefonar aos pais ou fazer uma videochamada — “Lembro-me de ter saudade, saudades da mãe e do pai” (Tomás). Ou organizar uma surpresa com os avós para a sua chegada, como por exemplo fazer um bolo: “Lembro-me de aguardar ansiosamente a chegada dos meus pais que iam lá passar o fim de semana ou uma semana” (Tomás). Mas os filhos também podem não sentir saudades dos pais: “eu não tive assim tantas saudades dos pais” (Teresa).

Esta relação intergeracional contribui para o bem-estar recíproco entre avós e netos. Quando os netos depois crescem, a sua geração põe em prática os afetos que receberam dos avós e são eles que organizam mais tarde os bons momentos para boas memórias com os avós — “À medida do tempo, levar os avós em férias para longe das suas casas e conforto significa também protegê-los, e sendo que fomos crescendo e adquirindo conhecimento, mostrar-lhes a nossa perspetiva do mundo” (Catarina).


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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