A importância da empatia na liderança

Para sermos profissionais mais completos(as), não devemos dominar apenas competências técnicas. Devemos também identificar as nossas competências sociais mais fortes, que incluem traços de personalidade e atitude, e se revelam nos nossos comportamentos e na forma como lidamos com os outros.

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No local de trabalho, a prática da empatia envolve a criação de um ambiente seguro DR/Annie Spratt

O mercado de trabalho tem passado por profundas mudanças nos últimos anos, especialmente desde que a pandemia de covid-19 acelerou o processo de transformação digital das empresas perante novas formas de trabalhar e fazer negócio. E, se houve um tempo em que as chamadas soft skills tinham um papel secundário, com as competências sociais a tornarem-se protagonistas nos novos modelos de trabalho, essa era já lá vai.

Para nos adaptarmos às constantes mudanças e as gerirmos da melhor forma, é agora necessário reconhecer e desenvolver as competências essenciais no crescimento profissional, em qualquer que seja a área de negócio, função ou responsabilidade.

Sabemos que as chamadas hard skills — ou seja, as competências que estão relacionadas com um conhecimento técnico específico — são fundamentais no desempenho de um trabalho especializado, como o é o desenvolvimento de software numa determinada tecnologia, por exemplo.

No entanto, para sermos profissionais mais completos(as), não devemos dominar apenas competências técnicas. Devemos também dedicar-nos a conhecer-nos, a identificar as nossas competências sociais mais fortes, que incluem traços de personalidade e atitude, e se revelam nos nossos comportamentos e na forma como lidamos com os outros.

De acordo com o inquérito #CtheFuture2.0, recentemente divulgado pela Adecco, 79% dos jovens acreditam que as “soft skills serão mais importantes do que as hard skills nos líderes do futuro”, o que revela já o despertar da comunidade jovem para esta tendência. E se há uma soft skill que nos fortalece enquanto profissionais — e, acima de tudo, enquanto humanos — é a empatia. Como pode, então, esta competência social fazer a diferença na forma como gerimos as nossas equipas?

Segundo a professora, investigadora e escritora norte-americana Brené Brown, empatia é sentir com o outro o que ele está a sentir; é criar e alimentar todos os dias uma ligação com as outras pessoas. Pegando numa expressão que nos é familiar, a empatia requer a capacidade de nos “colocarmos no lugar do outro”, tendo em consideração a sua história, contexto, perspetiva e emoções.

No local de trabalho, a prática da empatia envolve a criação de um ambiente seguro, onde qualquer colaborador da empresa sinta que pode assumir os seus erros, aprender com eles e ser um(a) melhor profissional (e pessoa) no dia seguinte. É saber que pode contar com responsáveis que estão envolvidos e empenhados no seu desenvolvimento e realização — pessoal e profissional. No fundo, é saber reconhecer, aceitar e, acima de tudo, valorizar o lado humano de cada profissional da sua equipa.

Ao falar nesta soft skill, importa ter em conta que existem diferentes tipos de empatia, tal como defende Daniel Goleman, psicólogo, jornalista e autor, considerado por muitos “o pai” da Inteligência Emocional. Para Goleman, existem três tipos de empatia: a emocional, a cognitiva e a empatia com compaixão.

No caso da empatia emocional, falamos de um envolvimento emocional com o outro, sendo absorvidos por esse sentimento. Isto é, o problema do outro passa a ser nosso também. Já quando nos referimos à empatia cognitiva, significa que conseguimos ver o mundo como o outro vê, fazendo por entender as diferentes perspetivas de várias pessoas. Por fim, o terceiro tipo de empatia é aquele que está ligado à compaixão, em que conseguimos compreender o ponto de vista da outra pessoa e voluntariarmo-nos de imediato para ajudá-la no que for preciso.

Estes três tipos de empatia são cruciais para o profissional de qualquer área. Na área das TI tem especial importância, uma vez que a tecnologia é um meio para atingir um fim, uma ferramenta para resolver problemas e construir soluções para que as pessoas possam prosperar e ser mais felizes. Por isso, para sermos todos melhores profissionais, é necessário conseguirmos colocar-nos “na pele do outro”.

E se falamos da importância de cultivar a empatia no contexto laboral, esta soft skill é igualmente relevante para quem lidera uma equipa. Acredito que um verdadeiro líder deve preservar duas qualidades: a empatia e a perspetiva. Desta forma, será capaz de cuidar daqueles que cuidam dos clientes da sua empresa e, assim, garantir o bem-estar necessário dos colaboradores (para que estes se sintam compreendidos e motivados), bem como a qualidade máxima no serviço aos clientes, impactando positivamente os resultados da empresa.

Esta abordagem é mais comum em empresas B2C (business-to-consumer), uma vez que ter o consumidor como cliente final sempre facilitou esta proximidade. A verdade é que todas as empresas B2B (business-to-business) trabalham com pessoas, e não com entidades abstratas. Assim, talvez esteja na altura de aceitar que todos os negócios são H2H (human-to-human), e que todos podemos fazer melhor, promovendo a adoção da empatia no local de trabalho.

A empatia na liderança é especialmente importante nos tempos que correm, em que vivemos em contexto de guerra, pandemia, ou até mesmo de crise económica. Como tal, existem três princípios que valorizo e me parecem primordiais no que toca a liderar melhor as equipas e a ser melhor profissional: ouvir quem está à nossa volta, mostrando-nos disponíveis para compreender o outro; mostrar disponibilidade para ajudar as pessoas da equipa a ultrapassar qualquer obstáculo, fortalecendo a relação entre os colaboradores da empresa; dedicar tempo a conhecer as pessoas que fazem parte da equipa, os seus hobbies, opiniões, gostos, e assim compreendê-las muito melhor.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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