Cartas ao director

Quando o chão se sobrepõe à vida humana

No século XXI, tínhamos como garantido que a guerra não voltaria à Europa. No entanto ela aí está e não aparenta terminar nos próximos tempos.

Numa guerra, a vida humana é subalternizada a favor do domínio territorial, levando à morte de dezenas ou centenas de milhares de seres humanos, inocentes, porque, apesar de mesmo os militares, nada têm contra os seus adversários. São o que, comummente, se designa de “carne para canhão”.

Assim, para acabar com esta chacina e uma vez que não há coragem para suplantar a chantagem da ameaça russa sobre o eventual uso de armas nucleares, não seria mais apropriado entrar em negociações, com cessar fogo imediato, fazendo com que fossem reconhecidas temporariamente as duas repúblicas independentistas e posteriormente, sobre a égide da ONU, realizar aí (e na Crimeia) um referendo sobre como as populações desses territórios pretendem a sua organização permanente: independência ou integração na Ucrânia ou integração na Rússia.

A civilização, na Europa, avançou até ao ponto de uma guerra já não ser admissível. O diálogo e o voto são os instrumentos que ditam a organização das sociedades e o chão nunca mais poderá valer mais que a vida humana, senão entraremos num retrocesso civilizacional irracional... cujos limites são imprevisíveis.

Jorge Loureiro, Anadia

Os meses sem “R”

Dizem que pode ser arriscado comer bivalves nos meses sem “R”. Parece que hoje com a evolução da análise e acompanhamento da toxicidade das águas, já nos podemos deliciar com umas amêijoas à Bulhão Pato em pleno Verão sem risco.

Como novo risco temos o bacalhau à Braz, que poderá ter salmonelas se não for bem cuidado. Julgo que os riscos de intoxicação alimentar vão bem para lá deste, mas a novidade é ficarmos também a saber que devemos evitar adoecer nos meses sem “R”, porque, ao contrário do das amêijoas cujo risco está controlado, o nosso SNS descontrola-se nessa época.

Enfim, coisas da natureza e, no caso do SNS, duma natureza organizativa deficiente. O Verão é um período diferente, onde a maior parte das pessoas goza férias, onde as organizações que necessitam de manter continuidade para isso se preparam e onde, naturalmente, as rotinas de cada um serão diferentes. Obviamente que se já em situação normal o SNS está deficiente, nesse período é ainda mais complicado. Um cidadão pode afirmar que é melhor não adoecer no Verão; agora que quem tem (i)responsabilidade apele à população para não ficar doente nos meses sem “R”, é surreal. Falta aqui algo mais do que os “R”.

Carlos J F Sampaio, Esposende

Como foi possível…

Vivemos num dos períodos mais complexos e conturbados da História da Humanidade. Algo indesmentível, mas que como sabemos a crise sanitária e a guerra da Ucrânia não explicam tudo. Assim, neste contexto, nos últimos 30 anos, Portugal não só não diminuiu a pobreza como esta aumentou substancialmente. E neste universo temporal a dívida pública mais que duplicou, sob a governação do PS na maioria do tempo referido. Porém, face ao número significativo de cidadãos não conseguirem gerar rendimentos para as necessidades básicas e na incapacidade de o Governo vigente não proporcionar condições de uma vida digna, eis que na semana passada surge o primeiro-ministro a anunciar um subsídio alimentar de emergência a um milhão de famílias. E isso, como é entendível, não é efectivamente uma boa notícia, é antes o rosto do desgoverno e da preocupação. Que o digam os jovens que também, por ambicionarem uma vida mais feliz e com mais futuro, continuam a ser obrigados a calcorrear os caminhos da emigração, fazendo lembrar tempos idos e a sociedade subdesenvolvida onde vivíamos, que denunciava a necessidade de uma mudança. Enfim, com o favor de alguns media e o glamour do turismo, as percepções não reflectem o estado de coisas a que chegámos, as quais não nos podemos resignar.

Manuel Vargas, Aljustrel

Moderação salarial

Christine Lagarde e Mário Centeno recomendam moderação salarial como sempre. Há já pelo menos 20 anos que a recomendação é a mesma e enquanto a população em geral vai empobrecendo, as grandes fortunas vão aumentando. Há qualquer coisa de perverso nas políticas implementadas quando o resultado é esse. Não me venham falar de Europa social com tais políticas. Depois não se queixem que as pessoas estão cada vez mais desencantadas com a democracia e votem nos partidos populistas.

Ermete Proença Pires, Lisboa

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