Câmara de Gaia “atira” demolição de mirante para as “mãos” da Junta da Madalena

Eduardo Vítor Rodrigues tem recusado comentar a demolição do mirante do século XIX. Autarca refere agora que apesar da classificação do PDM pode ser possível a demolição, mas diz que não vai envolver-se no debate

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Mirante do final do século XIX deverá ser demolido ainda este mês Cedido por Francisco Queiroz

O presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia disse esta segunda-feira que o “assunto da demolição” do mirante ferroviário da Madalena, previsto pela Infra-estruturas de Portugal (IP) na sequência de obras, está “nas mãos” da junta de freguesia.

“A partir do momento em que o presidente da Junta de Freguesia da Madalena resolveu solicitar uma reunião à IP, situação da qual deu conhecimento público, o município não se vai pôr em bicos de pés e vai deixar o presidente da junta trabalhar e ver o resultado do trabalho dele”, afirmou Eduardo Vítor Rodrigues no final da reunião do executivo municipal.

O autarca socialista explicou que a autarquia não vai estar a trabalhar paralelamente à junta de freguesia, estando a matéria “nas mãos da junta”.

Em causa está um mirante do século XIX sito na Quinta do Vale, na Madalena, cuja demolição está prevista no projecto de modernização do troço da Linha do Norte entre Espinho e Gaia, para a construção de uma passagem superior pedonal, no âmbito do programa Ferrovia 2020.

“Trata-se de um mirante de estilo revivalista, com aspecto de torre castelã, aqui construído posteriormente à construção da linha ferroviária (1864/65), para que dele se pudesse contemplar a passagem dos comboios”, pode ler-se no estudo consultado pela Lusa.

Na passada quarta-feira, em resposta à Lusa, a IP confirmou que o mirante ferroviário da Madalena será demolido este mês. Contudo, a Junta de Freguesia da Madalena quer que a IP mantenha o mirante do século XIX que prevê demolir, considerando que em causa está “um património histórico”.

Dizendo não ter posição sobre o assunto, Eduardo Vítor Rodrigues reafirmou que vai aguardar que a junta de freguesia trate do mesmo e do que sairá da reunião entre esta e a IP. O autarca não se mostrou, no entanto, surpreendido com a situação: “Quem estivesse atento a este projecto já há muito tempo tinha percebido que ele ia acontecer.”

E o PDM?

Apesar de estar catalogado no Plano Director Municipal (PDM) como alvo de “protecção integral” de nível I, o mais alto em termos municipais, o presidente da câmara salientou que a sua demolição está prevista em caso de “evidente interesse público”.

Na passada sexta-feira, o historiador de arte Francisco Queiroz sublinhou exactamente a questão do PDM, considerando que a intenção da IP não só era errada do ponto de vista histórico como era “ilegal”. O mirante em causa, referiu em conversa com o PÚBLICO, é um património relevante e raro” com uma “importante ligação à história do caminho-de-ferro” em Portugal. “Não há nenhuma razão que justifique isto. É de uma insensibilidade enorme”, lamentou o investigador que mais estudos fez sobre este e outros mirantes de Vila Nova de Gaia.

O estudo que serve de base à intervenção da IP não faz qualquer alusão ao PDM — e, questionada pelo PÚBLICO, esta entidade não esclareceu por que razão não tem em conta essa classificação e insiste na demolição. A Câmara de Gaia, a quem cabe a gestão da protecção legal do PDM, atira agora as responsabilidades para a junta de freguesia.

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