Poluição

No Senegal, as lixeiras também servem para sobreviver

Lixo e mais lixo. Poderiam ser só restos indesejados, mas há quem viva desta lixeira no Senegal: trabalham a recolher plástico para reciclar e é lá que procuram alimento para o gado.

NGOUDA DIONE/REUTERS
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É lixo a perder de vista. Na lixeira em que cresceu perto da capital senegalesa de Dacar, Baye Dame Ndiaye vai peneirando com engenho o lixo dos enormes montes de lixo fétido. Enquanto o faz, vai pondo o plástico de lado para as empresas de reciclagem e vai recolhendo também bocados de cartão para dar de comer às suas ovelhas.

São centenas de “recicladores” informais que se juntam todos os dias, ao nascer do sol, nas montanhas de lixo de Mbeubeuss, a principal lixeira de Dacar e uma das maiores da África ocidental. Trabalham arduamente para se sustentarem através de restos de metal, de alumínio e de plástico.

Estes negócios continuam firmes mesmo depois de o governo ter proibido o uso de plástico descartável e das tentativas das autoridades de melhorar a recolha de lixo.

“Nunca na minha vida pensei que viria a trabalhar aqui… mas gosto”, diz Ndiaye, de 32 anos, que já teve vários trabalhos desde que abandonou o ensino secundário.

Ndiaye faz parte de uma equipa de 120 pessoas que recolhem cerca de três toneladas de plástico por dia. É cortado em pedaços mais pequenos, lavado e vendido a um intermediário por quatro cêntimos por quilo.

As empresas compram esse plástico por oito a 13 cêntimos por quilo e depois vendem-no a produtores de plástico em Dacar, como o Simpa. “O material reciclado é mais barato do que o material virgem”, explicou o vice-director da empresa Simpa, Khalil Hawili, ressalvando que os produtos reciclados são os que mais vendem.

Em Mbeubeuss, as vacas andam pelo meio dos “recicladores”, sem parecerem muito preocupadas com o fumo tóxico que sai das pilhas de lixo que vão ardendo. É a razão pela qual aquela zona da lixeira tem o nome de “Iémen”, em referência às imagens da guerra.

A mãe de Ndiaye, Binta Diouf, vende peixe seco e conta que preferia que o seu filho tivesse terminado os estudos para sair da lixeira. A família mudou-se para perto da lixeira depois de as cheias terem destruído a sua casa em 2001.

“Desde que nos mudámos para aqui que notamos mais doenças respiratórias”, contou à Reuters, lembrando-se de como sofreu ao início com o fumo e com o cheiro.

Mas nos seus sete anos de trabalho na lixeira de Mbeubeuss, Ndiaye tornou-se o ganha-pão da família e conseguiu dinheiro suficiente para criar ovelhas no telhado da sua casa.

Junta cartão que vai recolhendo na lixeira à alimentação das ovelhas. É na lixeira que outras pessoas com gado encontram também restos de comida para dar aos animais.

“Estar perto da lixeira é uma vantagem”, diz Ndiaye. “Outros só vêem lixo, mas é mais do que isso.”

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CHRISTOPHE VAN DER PERRE/REUTERS
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