Jogadores têm cada vez menos tempo para crescer na Liga portuguesa

Fábio Vieira e Vitinha são exemplos de jovens futebolistas portugueses que são “raptados” por clubes europeus endinheirados logo no início da carreira

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Fábio Vieira vai jogar no Arsenal em 2022-23 LUSA/ESTELA SILVA

É uma notícia que tem feito as rondas da imprensa nacional e internacional nos últimos dias: o Newcastle, que pode ser actualmente considerado o clube mais rico do mundo graças aos seus novos donos sauditas, estará disposto a pagar entre 20 e 25 milhões de euros por Roger Fernandes, um jovem de 16 anos que começou a dar nas vistas na última temporada ao serviço do Sp. Braga – nem 200 minutos jogou pela equipa principal dos bracarenses em 2021-22 (marcou três golos). O negócio está longe de ser um dado adquirido, mas não deixa de ser significativo que seja uma possibilidade, indicador de uma tendência que, na verdade, já vem de longe na Liga portuguesa, a de que os jovens (portugueses e não só) pouco tempo têm para crescer antes de irem para fora.

Roger ainda está longe de ser um jogador “feito” e uma ida para a Premier League inglesa aos 16 anos significa que o Newcastle estaria a apostar no potencial (inegável) do jogador. Um pouco diferente é o caso de Fábio Vieira, transferido para o Arsenal por 35 milhões de euros (pode chegar aos 40 milhões), depois de uma época em que foi fundamental para o regresso do FC Porto aos títulos.

O médio de 22 anos já tinha alguma rodagem na equipa de Sérgio Conceição antes de assumir o papel principal na equipa, mas bastou-lhe uma época ao mais alto nível para que os “gunners” o fossem buscar, num negócio feito em partes iguais por uma necessidade portista de tesouraria, o interesse do Arsenal e o empreendedorismo de Jorge Mendes, o elemento comum entre as transferências já confirmadas e as que estão apalavradas.

Outro desses negócios deverá ser o de Vitinha, a caminho do PSG, depois de uma grande época no FC Porto que o conduziu inclusive à selecção nacional – curiosamente, ninguém se interessou muito por ele em 2020-21, quando esteve emprestado ao Wolverhampton. Também se tem falado muito do interesse do Everton em Matheus Nunes, ele que tem apenas um par de épocas ao mais alto nível no Sporting – mas também já é internacional português e nomeado como um dos melhores da sua posição pelo próprio Pep Guardiola.

De Ronaldo a Félix

No top 25 das transferências mais rentáveis de jogadores portugueses provenientes de clubes portugueses (onde não está Cristiano Ronaldo, mas já lá iremos), 15 delas foram de jogadores sub-23 e, entre estas, oito foram de futebolistas sub-20. No topo, está transferência de João Félix do Benfica para o Atlético de Madrid, em 2019 por 127 milhões – Félix tinha 19 anos quando se mudou para os “colchoneros” e apenas uma (grande) época com os “encarnados”, e pode dizer-se que tem sofrido com algumas dores de crescimento na Liga espanhola.

Mas Félix já parece ter encontrado o caminho, ao contrário de Fábio Silva, que, aos 18 anos, saiu do FC Porto para o Wolverhampton em 2020 por 40 milhões, apenas com uma época de utilização esporádica nos “dragões” – ainda não explodiu na Premier League, com quatro golos marcados na primeira época e zero na segunda.

E já que estamos a falar do Wolverhampton, nos “wolves” mora (morou) outro jovem craque português com dificuldades de afirmação, Francisco Trincão, contratado quando tinha 21 anos pelo Barcelona ao Sp. Braga em 2020 por 31 milhões. Sem espaço no gigante catalão, foi emprestado na segunda época ao clube mais português da Premier League, mas não fez o suficiente para ver activada a cláusula de compra. E já se fala de novo empréstimo, com opção de compra, ao Sporting, onde iria reencontrar Rúben Amorim, que apostou nele com consistência na formação bracarense.

Por cada jovem craque que sai demasiado cedo do seu clube de origem e que sente enormes dificuldades de adaptação, há outros cujo impacto é imediato. E ninguém é a maior prova disto que Cristiano Ronaldo, que é apenas a 29.º maior transferência de um jogador português proveniente de um clube português.

Em 2003, Alex Ferguson acreditou no potencial daquele rapaz franzino de 18 anos que tinha apenas cinco golos marcados pela equipa principal do Sporting e convenceu o Manchester United a pagar por ele 19 milhões de euros. Ronaldo teve uma adaptação progressiva nos “red devils” e, 19 anos depois, CR7 ainda não parou.

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